
Zuenir Ventura e Audálio Dantas compuseram a mesa do terceiro dia de debates do seminário “1968 Ecos na América Latina”, promovido pelo Memorial. Os veteranos jornalistas – os dois se conheceram em meados dos anos 60, na redação da antiga revista Cruzeiro – não foram apenas testemunhas dos principais fatos brasileiros dos últimos 40 anos, mas protagonizaram episódios que repercutiram no desenvolvimento da História do país.
Ventura era chefe de redação da revista Visão em 1975, quando a editoria de cultura era comandada pelo jornalista Wladimir Herzog. Audálio era o presidente do Sindicato dos Jornalistas naquele momento. Com a prisão e morte de Herzog, relembra Ventura, “Audálio conduzia a classe jornalista andando no fio da navalha e avançando nos limites permitidos pela ditadura”.
Dantas contou que, depois do regime reprimir outros setores da oposição, ligados à luta armada, em 1975 voltou-se para as pessoas ligadas ao PCB que militavam na imprensa. Naquele ano prenderam 11 jornalistas. O 12º foi justamente Wladimir Herzog. “Até então as famílias recebiam os mortos pela repressão em caixões lacrados pela ditadura. Não podia abri-los. O sepultamento era silencioso”.
Tendo o Sindicato dos Jornalistas à frente, o corpo de Herzog permaneceu insepulto por três dias, recebendo várias homenagens nesse período. Para Ventura, a abertura começa, de fato, com a morte de Herzog, o “mártir da abertura”. Audálio Dantas assinala que o culto ecumênico proposto pelo sindicato, na Catedral da Sé, serviu para livrar as pessoas do medo. Apesar de cerca de 400 barreiras erguidas pelos militares, o ato conseguiu reunir 8 mil pessoas. A maioria foi de metrô.
Audálio Dantas ressaltou que os protestos no Brasil vinham crescendo desde 1964 e, ao contrário do que ocorreu em Paris, tinham motivação política desde o princípio. Em 68, os protestos atingiram o auge. O AI-5 no fim do ano foi uma resposta a isso, para brecar esse movimento.
Com a violência do período Médici, houve um refluxo nos protestos em todos os setores da sociedade: os melhores ou morreram ou foram presos e muitos líderes estudantis se exilaram. Mas “o anseio pela liberdade permaneceu vivo”, diz Audálio, para quem “esse espírito renasceu em 1975, com o ato na Catedral da Sé. Para Ventura, o jornalista Wladmir Herzog foi “o mártir da abertura”.