/governosp
Em novembro, aproveitando as comemorações do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, a Videoteca do Memorial apresenta uma seleção de filmes nos quais são protagonistas personagens negros em suas diversas representações.
Período: 4 a 28 de novembro 2008
Horário das sessões: Terça a Sexta (12h e 15h) e Sábado (12h)
Local: Biblioteca Latino-Americana
Obs.: exibição em monitores de TV
Não existe consenso quando se pensa na questão racial brasileira. Por muito tempo acreditou-se no mito do poder democratizador da miscigenação, preconizado por Gilberto Freyre. Suas posições foram muito combatidas, mas já podem ser pensadas por um viés menos condicionado. Em sua obra maior, Casa Grande & Senzala, Freyre, apesar de edulcorar em algumas passagens as relações senhor – escravo não esconde, em momento algum, a crueldade e subjugação com que eram tratados os negros. Para outro pensador que também aborda a questão Florestan Fernandes, a escravidão aprofundou os problemas raciais brasileiros, gerando o preconceito e incapacitando os ex-escravos para a sociedade competitiva, já que ao invés de promover esse contingente, optou-se pela mão-de-obra européia, apostando inclusive no “branqueamento da raça”.
A escravidão, oficialmente extinta em 1888, perdura ainda? Se observarmos, por exemplo, a visibilidade do negro na sociedade, somos levados a pensar que sim, sob forma de discriminação. Apresentadores e apresentadoras de TV, personagens de novelas, modelos, políticos, professores universitários são, em sua maioria, brancos, quando não louros. O cineasta e cientista da comunicação Joel Zito Araújo, em seu livro A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira aborda essa questão em relação às telenovelas, importante fórum de representação do imaginário nacional. Ele conclui que, embora já sejam admitidas famílias negras de classe média, e relacionamentos inter-raciais, a cozinha e o tanque ainda são os espaços privilegiados para os atores negros. Numa sociedade já tão desigual quanto à brasileira, os negros seriam ainda os mais marginalizados, restando a música, o futebol e o crime, como meios de ascensão social.
A última palavra nessa questão tem sido o debate sobre as cotas nas universidades, dividindo opiniões e dando margem a muitos mal-entendidos. Afinal, é possível falar em “raça” quando nos referimos aos brasileiros? Ou a questão resvala no problema social antes do racial?
Dias 04 e 18
THESOURO PERDIDO. Direção de Humberto Mauro. Brasil. 1927. 79 min. Com Lola Lys, Bruno Mauro, Máximo Serrano, Alzir Arruda, Pascoal Ciodaro, Humberto Mauro, Antônio de Almeida.
Bráulio e Pedro são criados por amigo do pai. Quando chegam à maioridade, o tutor lhes entrega fragmento de mapa de um tesouro. É o início de uma série de infortúnios, causados por vilões ambiciosos que não medirão esforços para ter o mapa.
O CANGACEIRO. Direção de Lima Barreto. Brasil. 1953. 90 min. Com Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton Ribeiro, Vanja Orico.
Bando de cangaceiros invade uma cidade e rapta professora, que acaba se apaixonando por um dos seus raptores.
RIO, ZONA NORTE. Direção de Nelson Pereira dos Santos. Brasil. 1957. 82 min. Com Grande Otelo, Jece Valadão, Paulo Goulart, Malu, Maria Pétar.
Ferido ao cair de um trem de subúrbio, sambista relembra os últimos meses de vida, incluindo seu relacionamento com o filho marginal e as trapaças do radialista que lhe rouba canções.
Dias 05 e 19
ORFEU DO CARNAVAL. Direção de Marcel Camus. França / Brasil. 1959. 100 min. Com Breno Higino Mello, Marpessa Dawn, Lourdes de Oliveira.
Sambista carioca apaixona-se por jovem do interior e provoca ciúme em sua noiva. O filme transpõe para os morros do Rio de Janeiro o mito grego de Orfeu.
O ANJO NASCEU. Direção de Júlio Bressane. Brasil. 1969. 62 min. Com Milton Gonçalves, Hugo Carvana, Norma Bengell, Maria Gladys, Carlos Guimar.
A trajetória de dois bandidos, um dos quais se diz procurado por um anjo.
MACUNAÍMA. Direção de Joaquim Pedro de Andrade. Brasil. 1969. 101 min. Com Grande Otelo, Paulo José, Jardel Filho, Milton Gonçalves, Dina Sfat, Joana Fomm.
Nascido numa tribo de índios da Amazônia, um menino negro cresce habituado a ingênuas malandragens. Em busca de uma medalha da sorte, chega a São Paulo, onde, já adulto e branco, reafirma seu comportamento de herói preguiçoso e sem caráter.
Dias 06 e 21
O AMULETO DE OGUM. Direção de Nelson Pereira dos Santos. Brasil. 1974. 112 min. Com Jofre Soares, Anecy Rocha, Ney Sant’anna, Maria Ribeiro.
Para distrair alguns ladrões, um violeiro cego conta a história de um nordestino, envolvido com criminalidade da Baixada Fluminense, que teria o corpo “fechado” por Ogum.
PASTORES DA NOITE. Direção de Marcel Camus. Brasil / França. 1976. 120 min. Com Mira Fonseca, Zeni Pereira, Maria Viana, Antonio Pitanga, Grande Otelo.
A mulata Otália chega à Bahia e transtorna a cabeça e a vida de vários homens da cidade.
XICA DA SILVA. Direção de Carlos Diegues. Brasil. 1976. 117 min. Com Zezé Motta, Walmor Chagas, Altair Lima, Elke Maravilha, Stepan Nercessian, José Wilker.
No século XVIII, em Diamantina, Minas Gerais, fidalgo português apaixona-se por escrava e a transforma em dama.
Dias 07 e 22
O CORTIÇO. Direção de Francisco Ramalho Jr. Brasil. 1977. 110 min. Com Betty Faria, Mário Gomes, Armando Bogus, Antonio Pompeo, Ítala Nandi, Maurício do Valle.
O envolvimento de um português e uma jovem brasileira num cortiço do Rio de Janeiro no final do século XIX.
TENDA DOS MILAGRES. Direção de Nelson Pereira dos Santos. Brasil. 1977. 137 min. Com Hugo Carvana, Sonia Dias, Anecy Rocha, Juarez Paraíso, Jards Macalé.
O desembarque de um pesquisador norte-americano em Salvador desperta a atenção da imprensa para a figura de um falecido antropólogo e sociólogo negro relegado a segundo plano pela história oficial. Um jornalista abraça o tema e realiza um filme sobre a personagem.
PARCEIROS DA AVENTURA. Direção de José Medeiros. Brasil. 1979. 90 min. Com Isabel Ribeiro, Milton Gonçalves, Marcos Vinícius, Procópio Mariano, Paulão, Paulo Moura.
Rodado no submundo do Rio de Janeiro, mostra personagens acuados e sem opções de uma vida decente, que tem que sobreviver mesmo que seja à custa de pequenos crimes.
Dias 08 e 25
BONITINHA MAS ORDINÁRIA. Direção de Braz Chediak. Brasil. 1981. 105 min. Com Lucélia Santos, José Wilker, Vera Fischer, Carlos Kroeber, Milton Morais.
Os pecados da família chefiada pelo cínico Dr. Werneck vêm à tona depois que sua filha, a cândida Maria Cecília, é brutalmente estuprada. O acontecimento é uma fatalidade para seus pais, mas na verdade esconde as incontroláveis taras da moça.
CHICO REI. Direção de Walter Lima Jr. Brasil. 1986. 113 min. Com Severo D’Acelino, Alexander Allerson, Anselmo Vasconcelos, Claudio Marzo, Antonio Pitanga, Carlos Kröeber.
Galanga, rei do Congo trazido ao Brasil como escravo, luta pela liberdade e se torna o primeiro negro a ter propriedade no Brasil.
PEDRO MICO. Direção de Ipojuca Pontes. Brasil. 1986. 100 min. Com Pelé, Tereza Rachel, Jorge Dória, Átila Iório, Ivan Candido.
Malandro carioca rouba jóias de um xeque e foge com elas, enganando a quadrilha para a qual trabalha. A polícia e os comparsas tentam encontrá-lo nos morros do Rio de Janeiro.
Dias 11 e 26
JUBIABÁ. Direção de Nelson Pereira dos Santos. Brasil/França. 1987. 104 min. Com Françoise Goussard, Charles Baiano, Catherine Rouvel, Betty Faria, Grande Otelo, Ruth de Souza, Zezé Motta.
Criado por família de brancos, jovem negro foge de casa quando a empregada denuncia seu interesse pela filha do patrão. Anos depois, o casal volta a se encontrar em circunstâncias completamente opostas.
CRUZ E SOUSA: O POETA DO DESTERRO. Direção de Sylvio Back. Brasil. 1999. 86 min. Com Kadu Carneiro, Maria Ceiça, Danielle Ornelas, Léa Garcia, Guilherme Weber.
Reinvenção da vida, obra e morte do poeta catarinense João da Cruz e Sousa. Através de 34 “estrofes visuais”, o filme rastreia desde as arrebatadoras paixões do poeta em Florianópolis ao seu emparedamento social, racial, intelectual e trágico fim no Rio de Janeiro.
ORFEU. Direção de Carlos Diegues. Brasil. 1999. 111 min. Com Toni Garrido, Patrícia França, Murilo Benício, Zezé Motta, Milton Gonçalves, Isabel Fillardis, Maria Ceiça.
Orfeu é um popular compositor de escola de samba que se apaixona por Eurídice, jovem recém-chegada à favela em que vive no Rio. Quando a jovem é vitimada por uma briga entre traficantes, Orfeu decide oferecer sua própria vida para ter a amada de volta.
Dias 12 e 27
O POVO BRASILEIRO. Direção de Isa Grinspum Ferraz. Brasil. 2000. 16 min.
Série baseada na obra central do antropólogo Darcy Ribeiro: O Povo Brasileiro, em que o autor responde à questão “quem são os brasileiros?”, investigando a formação do nosso povo.
CIDADE DE DEUS. Direção de Fernando Meirelles, Katia Lund. Brasil. 2002. 135 min. Com Matheus Nachtergale, Seu Jorge, Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino da Hora, Roberta Rodrigues, Douglas Silva, Jonathan Haagensen, Alice Braga.
Buscapé é um jovem que cresce e vive na Cidade de Deus, favela carioca conhecida por ser um dos locais mais violentos da cidade. Amedrontado com a possibilidade de se tornar um bandido, acaba sendo salvo de seu destino por causa de seu talento como fotógrafo. É através de seu olhar atrás da câmera que Buscapé analisa o dia-a-dia da favela, onde a violência aparenta ser infinita.
MADAME SATÃ. Direção de Karim Aïnouz. Brasil. 2002. 105 min. Com Lázaro Ramos, Marcélia Cartaxo, Floriano Peixoto, Ricardo Blat, Gero Camilo.
Vida do famoso personagem da Lapa carioca dos anos 30, Madame Satã.
Dias 13 e 28
QUANTO VALE OU É POR QUILO? Direção de Sergio Bianchi. Brasil. 2005. 104 min. Com Lázaro Ramos , Leona Cavalli, Umberto Magnani , Marcélia Cartaxo, Ariclê Perez, Zezé Motta.
Atravessando alguns séculos da história brasileira, o filme faz uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a atual exploração da miséria pelo marketing social, que forma uma solidariedade de fachada.
QUASE DOIS IRMÃOS. Direção de Lúcia Murat. Brasil. 2005. 102 min. Com Caco Ciocler, Flavio Bauraqui, Werner Shünemann, Antonio Pompeu, Maria Flor.
A relação entre dois amigos que, separados pelas origens sociais, vão se reencontrar em uma situação limite.
Ó PAI, Ó. Direção de Monique Gardenberg. Brasil. 2007. 96 min. Com Lázaro Ramos, Wagner Moura, Dira Paes, Stênio Garcia e Luciana Souza.
A vida dos moradores de um cortiço do Pelourinho, o coração de Salvador, no último dia de carnaval. Entre a falta de dinheiro e o desejo de se divertir, tipos curiosos sobrevivem à custa de muita criatividade.
Serviço:
Mostra de Filmes do acervo da biblioteca do Memorial
Período: 4 a 28 de novembro de 2008
Horário: Terça a Sexta (12h e 15h) / Sábado (12h)
Memorial da América Latina/ Biblioteca Latino – Americano
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda (ao lado do metrô)
Tel. (11) 3823-4600