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Falas do debate (arquivos mp3)
Paul Leduc proferiu aula magna neste sábado, 28 de julho, no 2º Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo. Ou, como prefere o cineasta mexicano, aconteceu na verdade um diálogo entre ele e o público presente, como o cineasta Sergio Muniz, a professora da USP Marília Franco, a atriz Janaina Guerra (filha do cineasta Rui Guerra e da atriz Leila Diniz) e os jornalistas Maria do Rosário Caetano e Luiz Zanin Oricchio, entre produtores, cinéfilos, intelectuais e o público em geral.
Atualizado e crítico, a análise de Leduc do estado atual do cinema mexicano poderia ser aplicada ao Brasil também. “O que chega ao produtor é muito pouco. A maior parte do dinheiro fica com o exibidor e o distribuidor. Para um filme se pagar não basta fazer sucesso no México – tem que ser um sucesso internacional, como foi “Amores pejos”.” Leduc aponta as contradições do momento: há uma explosão de documentários no México, mas só a classe média pode pagar para ir ao cinema; há muitas escolas de cinema, mas a formação no sentido amplo está em crise; as novas tecnologias facilitam, mas os filmes continuam lineares…
O encontro foi apresentado por Fernando Leça, presidente do Memorial, e mediado pelo cineasta João Batista de Andrade. Leça anunciou o lançamento de uma nova coleção, chamada “Cadernos do Memorial”. A idéia é que a primeira publicação contenha justamente o depoimento de Paul Leduc. O resultado das mesas de debates também será publicado. Mas não só deste ano: o Memorial vai resgatar as reflexões do 1º Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo, do ano passado.
Outra boa idéia antecipada pelo presidente Leça é a criação de duas salas de cinema latino-americano no Memorial. A intenção é que elas sejam edificadas ao lado do Anexo dos Congressistas, seguindo o mesmo modelo arquitetônico, o que foi aplaudido por todos.
Leduc se mostrou contente com a existência de um festival latino-americano em São Paulo, organizado por uma entidade como o Memorial da América Latina. “Me parece geograficamente muito bem situado. Ele aqui e o Festival de Guadalajara, ao norte, podem desempenhar uma função importante”. Para o cineasta mexicano, o Festival de São Paulo preenche um vácuo deixado pelo Festival de Havana, que já não exerce mais o papel de há alguns anos. “O Festival de São Paulo pode ser um lugar de encontro de gerações de realizadores e se preocupar também com as novas tecnologias. Ele deve ter um lado teórico, de reflexão, e outro concreto, com desdobramentos e projetos conjuntos, como foi no caso de Cuba”, disse, lembrando que a Escola Internacional de Cine e TV de Santo Antonio de Los Baños nasceu no Festival de Havana.
Leduc comparou o tempo de sua formação com os dias de hoje (ele é de 1942). Praticamente não existiam instituições formais de ensino de cinema, tal como entendemos atualmente. Muito do aprendizado se fazia por meio de profissionais mexicanos, que retornavam ao seu país após uma temporada trabalhando em Hollywood, nos Estados Unidos. Cinematecas com bom acervo tampouco existiam. Ele acabou integrando um grupo de jovens que decidiu fazer cinema no exterior. Leduc estudou na França. “No início assistia 4 filmes por dia na Cinemateca de Paris. E o cinema era muito plural. Todos lutavam pela construção de um cinema nacional. Na cinemateca francesa pude entender não só de cinema, mas da realidade dos países”, contou.
“O cinema era mais popular naquela época. Trabalhadores, gente pobre, freqüentavam as salas de exibição. Hoje ir ao cinema se tornou um programa da classe média. O público quer filmes com tratamento linear. É a tv a formadora da cultura de massa”. Leduc aponta que a formação dos cineastas também mudou. “Há um excesso de escolas de cinema, atualmente. Alguns me disseram que na Argentina há 7 mil estudantes de cinema neste momento, outros me falaram que é muito mais, que chega a 30 mil. Seja qual for o número, “é uma forma cara de criar desempregados”, como disse Gabriel Garcia Marques, no discurso de inauguração da Escola de Santo Antonio de Los Baños.”
Por outro lado, o jovem cineasta tem acesso a muito mais informações. Isso pode ser bom ou não. “Me parece que a formação geral não é boa. Quando dei aulas, li roteiros muito mal escritos”. Mas as novas tecnologias e o mundo digital tornam mais fácil a tarefa de se fazer um filme, o que é promissor.
João Batista de Andrade fez uma pergunta interessante: a gente sabe que o cinema mexicano teve um período extremamente popular. Quando você começou no cinema, como você via os filmes antigos? “Odiava-os. Achava-os mistificadores da realidade. Por isso, entendo a nova geração, que nos odeia hoje”. Leduc critica o radicalismo de sua geração, que só falava em cinema de autor. “Comparando com o campo da música, era como se passássemos do show popular para a música de câmara. Ou seja, perdemos o público”.
Foto acima: Felipe Macedo, Luiz Zanin Oricchio, Sergio Rizzo, Fernando Leça, João Batista de Andrade, Francisco Cesar Filho, Janaína Guerra e Paul Leduc.
Confira a página de apresentação do festival
Veja entrevista com Paul Leduc
Encerramento em noite de premiação
Fotos de Érico Pedrossa