Cerca de 200 professores da rede pública estiveram no Memorial dia 17 para participar de um seminário sobre cultura latino-americana. O evento é parte de projeto desenvolvido pela PUC de São Paulo para formar e aperfeiçoar o trabalho do corpo docente, ampliando sua visão dos aspectos culturais, artísticos, sociais e políticos do continente.
O seminário do Memorial foi coordenado por Sidnei da Silva, responsável pela equipe de monitores da Fundação. Sidnei apresentou um panorama geral da cultura e da arte dos povos da América Latina, desde as civilizações pré-colombianas até os dias atuais.
Foram três aulas durante todo o dia, para grupos de até 70 professores. Ao saírem das aulas, todos fizeram uma visita monitorada ao Pavilhão da Criatividade Darcy Ribeiro, repleto de peças de arte e cultura dos povos latino-americanos, os mesmos discutidos em aula.
Palomar de Ítalo Calvino
No conto “Palomar” de Ítalo Calvino, o personagem, professor Palomar, percorre, com um amigo mexicano, as ruínas de uma antiga civilização. O amigo, conhecedor apaixonado e eloqüente das civilizações pré-hispânicas, descreve com entusiasmado cada detalhe, cada nuance dos elementos que constituíram a antiga sociedade que agora visitam. Construindo uma elaborada rede de significações, em que “cada detalhe de baixo relevo significa alguma coisa que significa alguma outra coisa que por sua vez significa alguma coisa”, ele não consegue, entretanto, envolver totalmente Palomar.
Apesar de fascinado pela riqueza de referências mitológicas do companheiro, Palomar se sente atraído por um grupo de estudantes, provavelmente descendentes dos povos que agora – em ruínas – são atrações turísticas, monitorados por um professor, também de traços indígenas. O guia descreve aos jovens cada aspecto material das peças históricas com rara precisão, mas sempre conclui: “não se sabe o que querem dizer”.
Dividido entre a interpretação alegórica do amigo e a recusa consciente do guia, Palomar começa a se indagar que tipo de relação se pode estabelecer entre povos e culturas tão distintas como aquela a que estava a visitar. Seria a recusa de compreensão do guia a única forma possível de respeitar o segredo que tais peças guardavam, sem trair seu verdadeiro significado? Mas como ele, enquanto professor, poderia sufocar em si o sentimento de traduzir, de reinterpretar uma linguagem perdida. “Não interpretar é impossível, como é impossível abster-se de pensar”, conclui Palomar.
O conto de Calvino foi base para a aula ministrada por Sidnei. Auxiliado por um bom levantamento bibliográfico e um grande acervo de imagens, ao todo foram mais de 40 slides, Sidnei procurou sempre estabelecer uma relação do que apresentava com o que os professores/alunos de sua platéia iriam levar para seus alunos. Como relacionar linguagens? Como interpretar a escrita pictórica dos povos antigos com a nossa? E, principalmente, como estabelecer diálogos entre professores e alunos? São perguntas que os professores levaram consigo às suas salas de aula.
Fotos: Adriano Capelo