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Como ocorreu nas duas primeiras edições, o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo dedica sua mostra retrospectiva a um dos períodos mais importantes da cinematografia da região: os novos cinemas dos anos 1960. Em 2008, o evento traz dez obras influenciadas pelas discussões sociais e estéticas dos novos cinemas, mas que seguiram rumos alternativos, na busca de novas linguagens e temáticas.
Em “O Peixe que Fuma”, do venezuelano Román Chalbaud, e em “O Lugar sem Limites”, do mexicano Arturo Ripstein, novos personagens – homossexuais, prostitutas, boêmios – passam a ser representados como sujeitos com potencialidades de transformação social. Ambos os filmes são ambientados em prostíbulos, em uma mescla de melodrama clássico e reflexão crítica da situação de marginalidade.
Com uma linguagem criativa e inusitada, o brasileiro “A Lira do Delírio”, de Walter Lima Jr., traz histórias passadas num bloco de carnaval libertário e num dancing do bairro carioca da Lapa, ambientes de ruptura comportamental que se assemelham aos filmes de Chalbaud e Ripstein. Em “Copacabana, Mon Amour”, de Rogério Sganzerla, os conflitos surgidos com a nova moral sexual da década de 1970 dialogam com uma inusitada sobreposição de questões espirituais e religiosas. “A Herança”, de Ozualdo Candeias, e “Bang Bang”, de Andrea Tonacci, completam as ficções brasileiras feitas “à margem”.
Trazer novos sujeitos e temáticas não significou tirar de cena personagens importantes da reflexão dos novos cinemas, como operários, indígenas e camponeses. Os documentários “Chircales”, dos colombianos Jorge Silva e Marta Rodriguez, e “O País de São Saruê”, do brasileiro Vladimir Carvalho, abordam a situação de exclusão vivida pelas populações das zonas rurais de seus países.
A revisão de fatos históricos pelos olhares desses movimentos renovadores da década de 1970 também é uma nova variação presente na mostra. É o caso da revolta de mineiros chilenos de 1907 em “Atas de Marusia”, de Miguel Littín, e da revolta operária de 1921 em “A Patagônia Rebelde”, de Hector Olivera.
Foto 1: “O Lugar sem Limites”, Arturo Ripstein
Foto 2: “A Patagônia Rebelde”, Hector Olivera