/governosp
A fotógrafa e pesquisadora Zaida Siqueira terá a primazia de ter duas grandes exposições na cidade praticamente ao mesmo tempo. Uma semana antes de inaugurar “Ingredientes do Brasil”, no Memorial da América Latina (abertura é no dia 24, às 19h), o Museu da Casa Brasileira inaugura em 18 de junho a exposição Casas, A Morada das Almas, que trará ao público mais uma de suas pesquisas de conhecimentos ancestrais, agora retratando as técnicas para construção do abrigo essencial do ser humano: a casa. A fotógrafa percorreu cerca de 20 estados, atrás de identificar “a sabedoria do homem ao lidar com a natureza, no manuseio da terra, das pedras, da madeira, para edificar sua casa”, estabelecendo semelhanças de acordo com características climáticas e de solo, em regiões litorâneas, observando ainda os aspectos da flora e da fauna. As influências culturais também aparecem, como em malocas das áreas indígenas de Mato Grosso. No interior de São Paulo e Minas Gerais, estados que viveram o apogeu da cultura do café, aparecem os casarões de taipa e pau a pique. Na capital paulista, a construção do Pátio do Colégio, por exemplo, empregou essas duas técnicas na edificação das paredes.
A exposição é composta por setenta e duas imagens, 6 instalações, duas maquetes e seis audiovisuais que trazem de volta a taipa de pilão, o pau a pique, o adobe, palhoças, palafitas, trançados para cobertura vegetal feitos com materiais como bambu e palha. Segundo Zaida, a pesquisa revelou que “essas técnicas estão sendo retomadas na bioconstrução, pois são sustentáveis e apresentam bons resultados acústicos e térmicos além da qualidade ecológica”. Segundo ela, “essas edificações geram menos impacto durante a construção e podem ser reabsorvidas pela natureza”.
A mostra ocupa três salas e o hall de entrada do MCB. As fotos têm dimensões que variam entre 1 x 0,70m e 0,60 x 0,40m. As instalações, compostas de pedaços de muros semifeitos, criados pelo engenheiro civil Felipe Pinheiro, ilustram a estrutura interior das construções. Há duas maquetes, uma feita no Acre, de uma edificação de palafita. Outra, feita em pau a pique, do Casarão do Chá, em Mogi das Cruzes, edificação que evidencia o emprego de troncos em curva, a exemplo dos portais de entrada das antigas residências de reis no Japão
Os audiovisuais selecionados integram a série documental de 13 episódios Habitar Habitat, produzida e narrada por Paulo Markun, em 2013, dirigida por Sérgio Roizenblit, onde são abordadas as habitações do povo brasileiro.
A exposição mostra também as fórmulas tradicionais, suas variações e adaptações. Na taipa, a parede é feita de terra pura, socada entre guias de madeira preenchidas. No pau a pique, o trançado de bambu recebe pedaços de pau e barro. Há o registro de uma edificação recente, do engenheiro que criou os objetos para a mostra, na cidade de Souzas, interior de SP, onde o adobe, tijolo grande de barro enformado, seco no sol, “a partir de areia, terra local, palha de arroz e estrume, que dá uma liga à massa”. O emprego de elementos curiosos, como cupinzeiros socados e açúcar mascavo também foram registrados. Segundo Zaida, “a proposta da pesquisa revelada na exposição é resgatar o ancestral e analisar seu emprego nas edificações contemporâneas”.