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Neste sábado, 18 de junho de 2011, os músicos da Orquestra Jazz Sinfônica vão homenagear o maestro Cyro Pereira, um pouco antes de começar a missa de sétimo dia, às 12h30, na Catedral Anglicana (Rua Comendador Elias Zarzur, 1239, Alto da Boa Vista, fone 5686.2180). Falecido no último dia 9, Cyro Pereira deixou uma legião de fãs e seguidores. Será um louvor ao “maior orquestrador brasileiro de todos os tempos”, segundo Fábio Prado, regente assistente da Jazz.
No velório do mestre dos mestres arranjadores, realizado no Salão de Atos do Memorial da América Latina, os músicos já pensavam na grande homenagem que pretendem fazer no concerto de Campos de Jordão, no próximo dia 9 de julho.
Material é o que não vai faltar. Além das composições próprias e orquestrações – que fazem parte do repertório da Orquestra Jazz Sinfônica, verdadeiro patrimônio musical brasileiro – os músicos da Jazz ora e vez eram brindados com presentes de Cyro Pereira. Apenas para exemplificar, no velório, o músico Mário Rocha ia saindo quando parou para se despedir de Fábio Prado:
– Se for executar aquela música, me avise com “anos de antecedência”, para eu estudar bastante.
Ele se referia à composição que ganhou para a sua trompa do amigo Cyro Pereira. É uma música sofisticada e de difícil execução. E inédita. Cyro Pereira compôs também “Cassiano encrenca”, para a flautista Cássia Carrascoza, e “Insônia” para um trombonista, entre várias outras. Devem ainda aparecer muitas músicas do maestro, distribuída por ele generosamente a seus companheiros de profissão e vida.
“Suas composições e arranjos vão ser mais valorizadas a partir de agora”, diz o maestro Fábio Prado. “Infelizmente, no Brasil é assim, o artista fica mais ou menos esquecido por um tempo, é preciso que ele morra, para depois ser ‘redescoberto` por alguém”, complementa. Ao contrário de outros, ele sempre se considerou um músico popular. Não era um erudito que migrou para o popular, como Radamés Gnatalli, por exemplo.
A Orquestra Jazz Sinfônica sob a batuta de Cyro Pereira tem uma longa história no Memorial. Desde o início ela se apresentou no Auditório Simón Bolívar. A presença do maestro enchia de irreverência os bastidores do auditório. Alegre, brincalhão, gozador, amante da boa vida (não dispensava o cigarro e uns drinks), um dia ele contou como foi seu início na Jazz.
– Um tal de Barnabé me ligou convidando para participar de uma nova orquestra estadual. Eu disse que não iria, já tinha trabalho suficiente em Campinas, onde lecionava na Unicamp. E não é que ele foi lá pessoalmente e tanto falou que me convenceu a ser o orquestrador!, contou se referindo a Arrigo Barnabé, um dos fundadores da Orquestra Jazz Sinfônica.
A Jazz Sinfônica surgiu para manter viva a arte das antigas orquestras de rádio que, com a evolução dos meios de comunicação, estava se perdendo. E, para isso, ninguém melhor que o arranjador histórico das orquestras da rádio e TV Record. “Cyro chegava de manhã no estúdio e só então ficava sabendo quem era o cantor que viria se apresentar na rádio – e mais tarde na televisão – qual o repertório e com quantos músicos e com quais instrumentos poderia contar naquela noite”, conta a violinista Lúcia Ramos, “daí ele escrevia o arranjo de manhã e ensaiava à tarde para se apresentar ao vivo à noite”.
Na maior parte das vezes, foi Cyro que regeu as orquestras que sustentavam os músicos que concorriam nos festivais da canção da TV Recordo, nos anos 60, como Gilberto Gil, Mutantes, Chico Burque, Caetano Veloso, entre tantos outros.
Sua técnica, habilidade e rapidez para orquestrações criou uma escola própria, que hoje tem seguidores na Jazz Sinfônica e em outros corpos musicais. Ao seu estilo, Cyro Pereira dava “tratamento sinfônico para a música popular”. Segundo Lúcia Ramos, isso ainda é desprezado por certa “elite” musical, porque trabalha com músicas conhecidas. Ora, talvez essas pessoas desconheçam que Beethoven, por exemplo, também pegava músicas populares da sua época, conhecida pelo grande público, e dava um tratamento orquestral e integrava em suas composições”, explica a violinista.
Assim como outros grandes compositores da história da música, Cyro Pereira gostava de se alimentar da obra de compositores populares e transformá-la nas suas “Fantasias”. Por exemplo, ele pegou os temas musicais de Tom Jobim, pôs em seu liquidificador criativo e dele saiu a famosa “Sinfonia Jobinniana”. Já não eram os temas puros, foram “cyroniados”. O mesmo fez com a obra de Dorival Caymmi, as “Caymminianas”. Outras Fantasias são “Aquarelas do samba”, “Fino do choro”, e as dedicadas aos compositores americanos George Gershwin e Duke Ellington.
Segundo Fábio Prado, o que se discute hoje é se essas “Fantasias” são arranjos ou novas composições, mas isso fica para os especialistas. O que importa é que, como afirmou no velório o maestro Fábio Prado, “sua música é perene, porque o que fez é sólido, profundo, de alto nível, que se equipara aos grandes gênios da música.”
Por Eduardo Rascov
Fotos 1: Cyro Pereira regendo
2: O maestro assistente da Jazz Sinfônica, Fábio Prado
3: João Maurício Galindo, regente da Jazz, e Fernando Leça, presidente do Memorial, entre outros, carregam o caixão com o corpo de Cyro Pereira, que seria cremado.