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“Você está aqui”. Essa frase pode ser lida em qualquer das entradas do Memorial. Está escrita em braile, em um mapa táctil estrategicamente colocado em pedestais nos seis portões do complexo arquitetônico. A partir dela, o deficiente visual pode escolher o local que quer visitar e ir seguro pelo circuito de piso táctil, que interliga todos os prédios do Memorial. Se a deficiência for física, o cadeirante poderá usar a “plataforma inclinada” do portão 1 (suporte para cadeira de roda equipado com motor, conforme penúltima foto) ou a “máquina que sobe escada” do Anexo dos Congressistas ou o elevador do prédio da Administração.
O mapa táctil é uma pequena obra prima em alto relevo. Produzido pelo artista Luiz Herzog, especializado em design e comunicação para a acessibilidade, ele contou com a consultoria informal de Carlos Alexandre Campos, deficiente visual que trabalha no Memorial há onze anos. Segundo o engenheiro Joaquim Boaventura, coordenador (na foto abaixo, de camisa azul) do projeto de acessibilidade do Memorial, foi emocionante acompanhar Carlos testar o mapa táctil. “O Carlos tocava os prédios do Memorial e comentava: ‘nossa, a galeria é redonda e tem um espelho d´água em toda sua volta!”, disse Boaventura, para complementar entusiasmado:”é isso mesmo, em mais de dez anos de Memorial, ele nunca tinha realmente “visto”, a seu modo, como é o conjunto arquitetônico!.”
“A partir de agora podemos afirmar que todos os prédios do Memorial são completamente acessíveis”, declarou orgulhoso o presidente do Memorial, Fernando Leça, em discreta cerimônia de inauguração do projeto de acessibilidade, nesta segunda, 11 de julho de 2011, com a presença do promotor de justiça Júlio Cesar Botelho. Os banheiros já estavam adaptados. As rampas que dão acesso à Galeria Marta Traba e ao Auditório Simón Bolívar já constavam do projeto de Oscar Niemeyer.
“Achei a obra fantástica”, comentou Botelho, que descobre a obra na segunda foto desta página , do Grupo de Atuação Especial de Proteção a Pessoas Portadoras de Deficiência, do Ministério Público, que havia abordado o Memorial, há dois anos, solicitando que ele tomasse providências e se adaptasse à acessibilidade. “O presidente Leça imediatamente compreendeu quanto isso tem a ver com cidadania e colocou todos os seus esforços pessoais para garantir que a obra fosse feita” , declarou.
Na verdade, o projeto de acessibilidade do Memorial começou há cinco anos. “E hoje aí está sendo entregue à população acima das nossas expectativas. O prazo foi o necessário para que todos os trâmites burocráticos fossem cumpridos. Levando em conta ser uma ação do setor público, e a burocracia que isso implica, bem como as tratativas com Oscar Niemeyer, até que foi em tempo recorde”, disse admirado o promotor Botelho, antes de comentar que passaria a usar o exemplo do Memorial na abordagem de outras instituições, bem como no diálogo com os órgãos públicos de preservação do patrimônio histórico, cultural e artístico.
O projeto de acessibilidade foi aprovado pelo Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, já que o conjunto arquitetônico é tombado. Um dos motivos da aprovação pelo Condephaat é que a implantação desse projeto de acessibilidade, em momento algum, descaracterizaria a obra de Niemeyer.
O elevador do prédio da administração, por exemplo, adapta–se perfeitamente à fachada em vidro escuro, como se sempre estivesse ali. Um dos beneficiados por ele é o ex-locutor esportivo e hoje artista plástico Osmar Santos. Vítima de um acidente de carro, em 1994, que o deixou em uma cadeira de rodas, há muito tempo que ele frequenta a área livre do Memorial. “Mas toda vez que queria encontrá-lo”, explica Fernando Leça, que vem acompanhando a lenta recuperação de Osmar Santos, “tinha que descer as escadas e encontrá-lo lá fora. Não podia recebê-lo como ele merece, convidando-o para tomar um café em meu gabinete. Agora já posso”.
Osmar Santou não se fez de rogado e visitou o Memorial já no dia seguinte, terça, 12, conforme pode ser conferido na foto ao lado.. Experimentou o elevador, tomou o café com o presidente no gabinete e disse que achou tudo muito bom.
Segundo o promotor Botelho, “temos uma legislação moderna no âmbito federal, estadual e municipal. Hoje já não se pensa mais em projetar um espaço público sem contemplar as pessoas com deficiência. São cidadãos com os mesmos direitos, querem usufruir dos espaços como qualquer outro”. Mas o promotor reconhece que ainda há muito o que fazer. Se por um lado a legislação é avançada, por outro, ela se ressente de punição para os que a desrespeitam. “A gente ainda encontra edificações que descumprem a lei. É aí que entra o trabalho do Ministério Público para que a acessibilidade seja garantida”, garante o promotor Botelho.