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Bisneto de Niemeyer e diretor da Fundação visita o Memorial, vai acompanhar a restauração do Simón Bolívar e anuncia que o Auditório ficará melhor
Diferentemente do bisavô famoso, ele é publicitário. Durante quinze anos acumulou vivências no Departamento de Marketing da gigante de petróleo Shell. Em 2010, porém, Ricardo Niemeyer tomou uma decisão: abandonou a carreira publicitária para cuidar do legado do arquiteto Oscar Niemeyer, que ainda vivia. A Fundação Oscar Niemeyer precisava da sua experiência corporativa. Atualmente, a entidade é presidida por sua mãe, Ana Lúcia, e ele ocupa o cargo de superintendente executivo. Hoje Ricardo Niemeyer toca vários projetos, como a digitalização da obra completa de seu bisavô, organização de exposições do acervo, parcerias com instituições culturais e a ampliação da sua área de atuação, com o ambicioso plano de abrir uma sede em São Paulo, na icônica cobertura do Copan, no coração de São Paulo. “Lá exporíamos os vários aspectos da arquitetura e do legado de Oscar Niemeyer, que não pode ser esquecido e precisa ser valorizado. São Paulo é uma das cidades que mais tem projetos arquitetônicos do meu bisavô, alguns de muita importância, como o próprio Memorial da América Latina”.
A Fundação Oscar Niemeyer existe há 25 anos. Ela é guardião de um tesouro de reconhecimento mundial. São os projetos arquitetônicos, os desenhos originais, os desenhos técnicos, as fotos e os textos – cerca de 5500 documentos. “Acabamos a digitalização em janeiro, e agora vamos disponibilizar no site da Fundação. Nele podemos perceber o processo de trabalho de Oscar: além dos desenhos, ele apresentava aos clientes o que chamava de “explicação necessária”, um texto em que defendia sua criação. À medida que escrevia, percebia inconsistências no projeto, o que precisa alterar, e ia aperfeiçoando o projeto.”
Segundo Ricardo Niemeyer, são “desenhos interessantes que constroem um panorama da obra de Oscar Niemeyer ao longo do tempo, inclusive há formas criadas para algum projeto que não foi adiante e depois são reaproveitadas, com modificações, em outros projetos”. Este ano a Fundação Oscar Niemeyer está preparando uma grande exposição com parte desse acerto. Ela será inaugurada em junho no Instituto cultural Itaú, em São Paulo, e em setembro irá para o Paço Imperial, no Rio de Janeiro. A curadoria é do arquiteto, antropólolo e escritor Lauro Cavalcanti. O patrocínio é do Banco Itaú.
O diretor da Fundação Oscar Niemeyer participou em 30 de janeiro de uma reunião no Memorial da América Latina em que se discutiu a recuperação do Auditório Simón Bolívar. “O importante é entender o que aconteceu e refazer as instalações naquilo que elas podem ser melhoradas, compreender eventuais fragilidades que existiam, normas de segurança atualizadas. Daqui pra frente é preciso melhorar não só no Memorial, mas outros prédios semelhantes”.
Além de Ricardo Niemeyer, participaram da reunião o presidente da CPOS (Companhia Paulista de Obras e Serviços, ligada à Secretaria de Planejamento do Estado de SP), Miguel Calderaro, o Secretário de Cultura adjunto, Sérgio Tiezzi, e a arquiteta Cecília Scharlach que, segundo Ricardo Niemeyer, é “a memória viva da construção do Memorial, pois trabalhou nele ao lado do meu bisavô e nos será muito útil na restauração do Auditório Simón Bolívar, para que tudo fique como era e até eventuais aperfeiçoamentos do projeto original”.
O saldo da reunião também foi comemorado pelo presidente do Memorial: “O encontro com o secretário da Cultura, Marcelo Araújo, mais cedo, e agora com o Miguel Calderaro e o Ricardo Niemeyer foi muito importante e dá início efetivo ao projeto de restauração do auditório. Expusemos ao Ricardo nossas ideias, tendo em vista que o IPT, em seu primeiro laudo, afirma que a estrutura do prédio está preservada. Portanto, o auditório passará por restauro, não reconstrução. Outro dado positivo é que, a partir de agora, qualquer questão de caráter técnico, como por exemplo, o tipo de material a ser usado, será resolvida em conjunto”.
Para Ricardo Niemeyer, o Auditório Simón Bolívar após a reforma estará melhor do que antes, porque muita coisa mudou nessa área desde a construção do Memorial, na década de 80, algumas funcionalidades aproveitarão uma tecnologia que antes não era disponível: “normas de segurança, materiais, orientação técnica, questões de equipamento de som, de acústica, de iluminação, hoje temos recursos mais avançados que poderão ser aproveitados sem trazer nenhum prejuízo à concepção original do projeto de Oscar Niemeyer”, diz.
Segundo Ricardo Niemeyer, seu bisavô criou mais de 600 projetos ao longo da vida, mas apenas quase duzentos foram construídos. Os números ainda são imprecisos: “Estamos completando o inventário agora. Há uma certa dificuldade porque alguns projetos foram modificados e deixaram de ser reconhecidos por Oscar. Há outros projetos que ele fazia, mas não registrava em seu nome. Até hoje surgem projetos que dizem que é dele, mas ele renegou. Por isso, criamos uma comissão consultiva de alto nível que recorremos quando precisamos tirar dúvidas”.