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Falas do debate (arquivos mp3)
“Parcerias” foi o título e o tema da segunda mesa de debates do II Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, que acontece de 23 a 29 de julho de 2007. Com mediação da jornalista e crítica de cinema Maria do Rosário Caetano, os cineastas Karim Aïnouz (Brasil) e Aléxis dos Santos (Argentina) e a produtora Sara Silveira discutiram sobre co-produções entre países da América Latina e também com países europeus.
Para um público composto de estudantes, jornalistas, produtores, cineastas – como Edgard Navarro e João Batista de Andrade, curador do festival – e pessoas interessadas no cinema produzido na América Latina em geral, os debatedores expuseram suas experiências pessoais na realização de filmes que contaram com a participação de outros países na produção ou na finalização.
Sara Silveira começou falando de suas parcerias mais recentes, como no filme “Só Deus sabe”, do mexicano Carlos Bolado, que contou com equipe e financiamento divididos equitativamente entre Brasil e México. A produtora produziu também dois filmes do argentino Fernando Solanas, entre outros. Apesar desta e de outras produções em que há um país parceiro, Silveira reclama da dificuldade de conseguir dinheiro no Brasil se o filme é feito junto com outro país, já que os concursos privilegiam os brasileiros.
Se o outro país tem uma cinematografia pouco (re)conhecida, as dificuldades se multiplicam. Atualmente ela tenta produzir o filme do boliviano Martin Boulocq (diretor de “O Mais Belo dos Meus Melhores Anos”, exibido no Festival), que ela conheceu no Festival de Guadalajara (México), mas tem sido complicado o processo, segundo contou.
No filme de Bolado, ela relatou como foi árduo o entendimento da equipe no set de filmagens. Os artistas de origem hispânica e os brasileiros algumas vezes optaram por falar em inglês para chegarem a um consenso. Mas o maior problema, concordaram todos os presentes, ainda é a distribuição,visto que só 6,5% dos filmes que passam no Brasil e demais países latino-americanos são produzidos na região.
Argentino morando na Inglaterra, Aléxis dos Santos realizou o seu primeiro longa, “GLUE, História Adolescente no Meio do Nada” (também em competição no Festival) com dinheiro de um fundo holandês dedicado ao cinema. Premiado no Festival de Guadalajara, o filme deve seguir o circuito de festivais e estrear no Reino Unido. Santos não sabe ainda se ele passará na Argentina, onde foi filmado.
Segundo Karim Aïnouz, o terceiro a falar no debate, é na Europa que se deve buscar financiamento. “Os europeus têm o dinheiro. Assim, a parceria entre Brasil e um país latino-americana deve ser mais artística e emocional. Ambos devem buscar dinheiro na Europa, principalmente na Península Ibérica, por ter o português e o espanhol como idiomas”, afirmou.
Diretor dos premiados “Madame Satã” (2002) e “O céu de Suely” (2006), Aïnouz disse que descobriu o cinema latino-americano em festivais, e não nas salas de cinema brasileiras. Esta afirmação retoma a reclamação do cineasta mexicano Paulo Leduc (leia entrevista concedida exclusivamente a este site), grande homenageado nesta edição do Festival, de que o cinema da região está confinado aos festivais, não tendo escoamento no circuito comercial.
Contudo, ele destaca a importância dos festivais como este por serem um fórum de encontro de realizadores e produtores, o que pode gerar futuras co-produções. “Acho que pode haver uma boa troca de talentos e equipamentos entre nós”, disse, referindo-se aos países da América Latina.
Se o problema da distribuição for resolvido ou, ao menos, minimizado, pode ser que estas parcerias se tornem mais freqüentes e, quem sabe, rentáveis. Para quem não quer esperar que o circuito comercial se abra aos nossos filmes, vale acompanhar o Festival (confira aqui a programação) e conhecer o melhor do cinema latino-americano em suas sete mostras.