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Atualmente, a produção cinematográfica espanhola ocupa um espaço razoável no mercado cinematográfico mundial. Mas nem sempre foi assim. “A comparação com nossos vizinhos França e Itália era desfavorável até há pouco tempo”, diz Moncha Aguilar, peruana radicada na Espanha, que se dedica a comercializar filmes espanhóis há mais de 15 anos. “Eram mundialmente conhecidos nomes como Michelangelo Antonioni, Felini, Pasolini, Goudard, Trouffout freqüentavam os principais festivais e ocupavam o circuito de arte. Não tinha nenhum espanhol nessa lista, com exceção de Bruñuel, que esse se projetou a partir de uma plataforma francesa, e de Carlos Saura, que faz um cinema regional”.
A partir dessa constatação, Moncha Aguilar passou a contar – e isto foi a essência da oficina Modelos e Novas Formas de Exibição e Distribuição – o que a Espanha fez para mudar essa situação. Em resumo, o apoio e a base proporcionada pelo Estado foi complementada por uma ação decisiva dos produtores, que passaram a utilizar de todas as ferramentas do marketing para ocupar um espaço no mercado internacional. Com isso, cineastas como Pedro Almodóvar (depois de Bruñuel e Saura, o cineasta espanhol mais famoso), Isabel Coixet , Jaume Balagueró, Ramón Salazar, Pablo Carbonel e Alejandro Amenábar ocuparam um espaço que transcende o restrito circuito de autor.
Larissa Alvanhan é uma estudante de Artes Cênicas da USP que nunca tinha tido contato com tudo o que envolve a produção de um filme. Ela fez a oficina. “Tinha atuado como atriz em curta metragens, mas não sabia que tinha tantas coisas envolvidas antes e depois do filme”, diz. Seu interesse veio a partir do momento que começou a trabalhar com o pessoal da Brazucah, uma rede que oferece projetos de divulgação alternativa para os filmes dos produtores nacionais. “Noto que existe todo um campo de trabalho que eu desconhecia”.
Moncha Aguilar apontou as debilidades enfrentadas pelos espanhóis: a própria língua, o baixo orçamento, a falta de estrutura empresarial e de comunicação entre a produtora e a distribuidora, falta de visão comercial internacional, o gosto do público (viciado em cinema norte-americano), a competição feroz do cinema norte-americano, a projeção digital, a pirataria, o pouco investimento em marketing…
Sandra Garzón, estudante colombiana da Universidade Nacional da Colômbia pegou um avião em Bogotá especialmente para participar dessa oficina, sobre a qual ela ficou sabendo em uma página da Internet em espanhol. Trouxe dois amigos. Chegou na terça passada e se vai na próxima (hoje é sexta, 11 de julho de 2008), uma semana mergulhada nos embates sobre como produzir filmes na América Latina. É uma questão que percorre todas as mesas de debates e conversas entre produtores e cineastas. A experiência espanhola, especialmente as co-produções atraem quem está chegando agora nesse mercado. Sandra está no último ano da faculdade e prepara-se para filmar um curta-metragem sobre “os problemas mentais gerados pela guerra na Colômbia”.
“É possível para vocês latino-americanos pleitearem co-produções e apoios por meio do Ibermedia”, contou Moncha, que desceu a detalhes minuciosos como qual a melhor época para se comprar “slots” (espaço para exibição dos filmes a serem comercializados) no Festival de Cannes, dicas jurídicas, como vender e supervisionar o cumprimento dos contratos, como fazer o folder de divulgação ( a sinopse não pode passar das 20 linhas) etc etc.
A chilena Carolina Sepúlveda se mostrou interessada em conhecer o caminho das pedras descoberto pelos espanhóis para produzir filmes. Ela percebeu na pele o quão é difícil produzir em um país como o Brasil, quando ajudou ao cineasta Pedra Dantas a fazer “uma crônica musical” sobre São Paulo chamada “Lamento Paulista”. Associada à produtora paulista Sussuarana Filmes, ela atualmente trabalha em um documentário, “La Moneda”, sobre a mineração chilena. Carolina fez questão de participar da oficina para levar as dicas espanholas para o pessoal entorno do site www.ondeestaamericalatina.com. Recentemente, eles se inscreveram em um programa da prefeitura e ganharam uma verba para fazer um documentário sobre o bairro de Ermelindo Matarazzo. “Vamos filmar a partir dos ensinamentos de Fernando Birri e Paulo Freire”, sonha.
fotos: Fábio Pagan