
A Fundação Memorial da América Latina recebeu a abertura da 23ª edição do Ecocine – Festival Internacional de Cinema Ambiental e Direitos Humanos, nesta quarta, 21 de outubro de 2015. O assessor da presidência do Memorial, Luís Avelima, deu as boas vindas a todos. Falando em nome do presidente do Memorial, João Batista de Andrade, Avelima renovou o apoio da instituição a esse festival pioneiro, que nasceu como desdobramento da ECO 92, no Rio de Janeiro.
Escritor, músico, jornalista e tradutor, Luis Avelima contou que nos anos 80, na Paraíba, seu estado natal, escreveu um artigo denunciando a poluição no rio Camaratuba, que desagua num belíssimo estuário entre os municípios litorâneos de Baía da Traição e Mataraca. “Jogavam vinhoto em demasia nele, deixando-o muito malcheiroso”, disse. Vinhoto é o resíduo da destilação da garapa para obtenção do etanol. Foi um dos primeiros a fazer essa denúncia, o que levou a represálias dos coronéis. “Naquela época era assim, eram eles que mandavam. Fui ameaçado e quase preso”.
Hoje a situação mudou, conforme conta texto no site www.novacana.com. Mas é preciso continuar
de olho : “No início do Proálcool, são reconhecidos os impactos causados pelo vinhoto na contaminação das águas e solos quando se descartava diretamente nos cursos de água e de forma descontrolada sobre os solos. Combinando legislação, que reconheceu os problemas ambientais do uso do vinhoto, e maior percepção dos usineiros quanto aos benefícios do uso controlado do vinhoto e da torta de filtro, a fertirrigação controlada passou a fazer parte cada vez maior das práticas agrícolas. Mesmo assim, a fiscalização e o controle sobre a fertirrigação são medidas essenciais para garantir a sustentabilidade ambiental.”
Esse festival surgiu, justamente, para conectar pessoas como ele, disse logo em seguida a cineasta, diretora teatral e criadora do Ecocine Teresa Aguiar. Ela contou que teve que enfrentar, no início, certa visão de uma parte dos ambientalistas que, de tão preocupados que estavam com o meio-ambiente e os animais, que se esqueciam dos seres humanos que ali viviam. “Chegaram a me sugerir que para proteger a Serra do Mar e as praias do litoral norte era necessário retirar os caiçaras dali e os transferirem para a periferia de São Paulo. Dá pra acreditar?” Sim, dá, professora, mas que bom que sua atuação e de outros ambientalistas estão mudando isso, embora os caiçaras continuem ameaçados pela especulação imobiliária e a exploração econômica.
Desde os anos 80 Teresa Aguiar conecta pessoas em prol do que ela chama de “povos do mar”. A partir das primeiras reuniões com as lideranças locais, especialmente do Litoral Norte, ela documentou em vídeo o nascimento da conscientização, o processo de luta e a cultura material desses povos. Hoje Teresa Aguiar preside o Centro Cultural São Sebastião Tem Alma e articula um movimento internacional de apoio a essas culturas tradicionais que estão cercadas e cerceadas pelo interesse econômico global. Muitos dos filmes que passam no Ecocine tratam desse conflito contemporâneo fundamental, como o excelente Huicholes: Los Últimos Guardianes del Peyote, produzido por um coletivo, Kabopro, sediado em Berlim e Buenos Aires. O documentário conta a luta do povo wixárika para preservar Wirikuta, seu território sagrado, ante a sanha das corporações multinacionais e do Estado mexicano.
As atividades do Ecocine prosseguem nesta quinta, 22 de outubro. Uma das atrações especiais é a
atuação da artista plástica Nana Alves. Ela dará uma oficina de pintura em alto relevo com massa corrida, cujo tema é ecologia e a água. Voltada para as crianças (7 a 12 anos), a oficina estimula a coordenação motora e a criatividade. O evento (das 17h às 20h) tem a presença dos atores mirins Matheus Braga, Luana Gomes e Maria Clara. O patrocínio é da furnas Educa. Na área de artes plásticas há ainda uma interessante exposição de Eugenio Pelegrin. A partir de imagens de ídolos pops retiradas da internet ele pinta belas aquarelas.
Encerrando no Memorial o festival Ecocine 2015, esta quinta-feira está repleta de filmes latino-americanos e um documentário sobre um brasileiros sobre o qual não resta a menor dúvida: ele já fez muito pelo meio-ambiente e pela cultura brasileira. Trata-se do filme “Revelando Sebastião Salgado”. O Ecocine continua em Campinas, interior de São Paulo, até o dia 25. Todas as atividades são gratuitas.
Serviço
Dia 22 – Encerramento
10:00 SESSÃO 4–98′(Degradação do meio-ambiente e das comunidades)
“Às Margens do Itapecuru”
“Chapada do Apodi –Morte e Vida
“A Jangada de Raiz”
“Vento Forte”
13h SESSÃO 5 –123′ (Desenvolvimento sustentável e preservação)
“Saneamento Básico–Um Direito de Todos”
“Terra –O Bosque das Águas”
“Renascer”
“A Lei da Água”
15h30 Sessão Especial Nuovi Orizzonti Latini 2 -99′
“Yasuní, el Buen Vivir” –ES/IN Doc 28′ –EQUADOR
“El mal viaje de Daysi” –ES / ND Doc 20′ -REPÚBLICA DOMINICANA
“Salir a Volar” –ES/EN Doc 51′ -COSTA RICA
17h SESSÃO 6 –112′ (Direitos Humanos –habitação de estudantes e inclusão social)
“Tamue seus amigos –Navegue nesta aventura”
“Iara”
“Kidchup”
Gigantes da Alegria”
“Moras à Luta”
19h SESSÃO DE ENCERRAMENTO
Exibição dos filmes premiados
Exibição dos filmes
Revelando Sebastião Salgado
Plantadores de Água
Por Eduardo Rascov
Fotos Diego Souza Carlos