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Curso de Extensão Universitária
DESLOCA (MIGRA) MENTOS
MENTES
As atividades deste semestre da Cátedra Unesco Memorial da América Latina foram abertas por uma palestra da professora da Unicamp Bela Feldman-Bianco. Sob o tema “Por uma perspectiva global das migrações e deslocamentos ”, ela apresentou um “paradigma em construção” que trabalha com um conceito amplo de “deslocamento”. “Estou trazendo uma nova perspectiva, que está em elaboração. É preciso entender os vários tipos de deslocamentos atuais – as migrações, as correntes de refugiados, os deslocamentos internos por causa de moradia ou por questões desenvolvimentistas, como é o caso de Belo Monte – tudo isso é parte da mesma problemática, que tem a ver com o capitalismo global”. Bela Feldman inclui ainda outros deslocados, como os favelados das periferias das grandes e os indígenas da etnia guarani-kaiowas.
De fato a lista é imensa e não para de crescer. Os deslocados na fronteira México/EUA são outro exemplo. Bela Feldman: “Nós na América Latina somos parte deste fluxo global, tanto recebemos como enviamos deslocados. Quem em seu cotidiano não enfrenta a possibilidade de ser removido de seu lugar? Quem não sente a vulnerabilidade da democracia? Somos vítimas de políticas draconianas, formuladas por agências multilaterais de governança do capitalismo global, uma verdadeira ditadura da economia.”
A professora Bela Feldman, uma das maiores especialistas brasileira da questão imigratória, saúda
a iniciativa do Memorial em – conjuntamente com a USP, Unicamp e Unesp – desenvolver essa Cátedra Unesco Memorial sobre a questão do deslocamento contemporâneo, “o maior desde a Segunda Guerra Mundial”. Os inscritos são não apenas estudantes de pós-graduação, mas também pessoas engajadas nessas questões que estão na ordem do dia. “Convidamos as lideranças dos movimentos sociais para participar dessa discussão, teremos aqui deslocados de Belo Monte. Vamos debater, pensar juntos. Eles vão me ajudar a construir esse novo paradigma de deslocados. Às vezes, na universidade, nos sentimos muito intramuros. “
Esse é exatamente o objetivo da Cátedra Memorial, fomentar o conhecimento em primeiro mão e dar a conhecer o que se pensa sobre a América Latina. Bela Feldman encerra: “O que está faltando no mundo é mais humanismo. Precisamos abrir as fronteiras, acabar com as fronteiras simbólicas, com o preconceito, com a desigualdade. Por isso, é tão importante campanhas de educação e iniciativas como essa do Memorial da América Latina.”
Um dos inscritos nesse curso de extensão universitária da Cátedra Unesco Memorial, intitulado “Desloca (Migra) Mentos Mentes”, é o cônsul geral do Equador em São Paulo, ministro Luis Wladimir Vargas Anda. Ele informou ser o Equador o único país do mundo de “fronteiras abertas e cidadania universal”, conceito que foi incorporado à Constituição do país promulgada em 2008. Luis Vargas explica que nos anos 90 seu país vivenciou um êxodo de mais de 2 milhões de pessoas (de um total de 15). Foi um período de dura crise econômica, com confisco de poupança e retirada de dinheiro do país. “O que nos sustentou foi, em primeiro lugar, a renda do petróleo, e em segundo o dinheiro enviado pelos emigrados”. Por isso a Constituição atual trata transversalmente a questão da imigração e confere todos os direitos aos imigrantes, incluindo os milhares de colombianos que fugiram da guerra civil do país vizinho. Veja a entrevista.
Também muito interessado nessas questões da imigração, o cônsul geral do Peru Arturo Jarama,
igualmente participa das discussões da Cátedra Unesco Memorial. São Paulo, aliás, tem recebido milhares de peruanos, cuja presença já é visível na paisagem urbana da cidade, seja por meio de restaurantes peruanos, seja por festas populares em praças públicas.
Entrevistas com a Professora Bela Feldman-Bianco
Saiba mais sobre a Cátedra Unesco Memorial da América Latina
fotos Daniela Agostini
Vídeos Diego Souza Carlos e Bruna Sanches
Veja as fotos das aulas
Veja entrevista com Eduardo Domenech