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Falas do debate (arquivos mp3)
A quinta mesa de debates do II Festival Latino-Americano de cinema, que abordou o tema da Imagem Latino-Americana ou a Fotografia no Cinema, foi também uma homenagem ao diretor de fotografia mexicano Gabriel Figueroa (1907-1997), que tem uma mostra dedicada ao seu trabalho dentro do festival e cujo centenário de nascimento se comemora neste ano.
Sem mediador, o debate na verdade foi uma reunião de histórias de três diretores de fotografia: Ramiro Civita (Argentina), de “As Leis de Família”, filme de Daniel Burman exibido na abertura do Festival; Rodolfo Sanchez, argentino que mora no Brasil, trabalhou nos filmes ‘Pixote” e “O Beijo da Mulher-Aranha”, de seu conterrâneo Hector Babenco; e Hugo Kovensky, do Brasil, que foi diretor de fotografia de “Bicho de Sete cabeças”, de Laís Bodanzky e “Veias e Vinhos’, de João Batista de Andrade, entre outros.
Todos destacaram a importância de Gabriel Figueroa como um mestre e também um precursor da fotografia de cinema latino-americana. “Ele criou novas perspectivas, novas composições. Pintava as sombras que o negativo não captava, criou filtros, usava bastantes texturas e profundidades”, disse Civita, enquanto Sanchez e Kovensky acrescentavam dados da biografia e do trabalho do mexicano que trabalhou com Sergei Eisenstein e Buñuel.
Sobre a diferença de se trabalhar com o cinema digital ou com película, Sanchez disse que costuma transitar entre as duas ferramentas. “O empenho que coloco numa filmagem, seja qual for a tecnologia, é o mesmo”, acrescentou Civita. “Se o filme é bom, não importa a técnica”, concluiu.
“As imagens que fazemos hoje vão ser projetadas desde uma grande tela de cinema a uma telinha de uma polegada e meia de um celular. A gente tem que aprender a conviver com essas tecnologias”, disse Kovensky. Para ele, a mudança do trabalho em preto e branco para o colorido afetou muito mais o trabalho dos diretores de fotografia do que as ferramentas digitais.
Criatividade aliada à falta de recursos é o ponto em que todos convergiram para descrever o trabalho no cinema latino-americano. Civita, que além de trabalhar na Argentina faz muitos filmes na Espanha e na Itália, falou que o diferencial é que aqui, por termos mais limitações, precisamos ser mais criativos. “A estética do cinema latino-americano está muito ligada à nossa realidade”, confirmou Kovensky.
Para Sanchez, o importante para o fotógrafo de cinema é saber ver e saber modificar o que está vendo para atingir o seu objetivo. Este, segundo ele, é o trabalho do fotógrafo. “Somos ilusionistas” – disse Civita – “Todos somos, inclusive os documentaristas. Há sempre uma manipulação num filme, o próprio enquadramento já é manipulação.”