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A festa do Dia do Espanhol agitou o Memorial da América Latina nesse sábado, 19 de junho. A comemoração não só aproximou os paulistanos à cultura hispânica, como também proporcionou aos visitantes a apreciação de artesanato, músicas, danças e a gastronomia de países ibero-americanos, como Bolívia, Peru, Colômbia, Brasil e México, entre outros. Mas que isso, houve um diálogo entre as culturas dos dois lados do Atlântico, como ficou demonstrado quando o maracatu Pombas Urbanas desceu a rampa do auditório Simón Bolívar, irrompeu no espaço a céu aberto, atravessou toda a Praça da Sombra e foi até o pé do palco onde, naquele mesmo instante se apresentava um grupo mexicano.
“Esse encontro do cortejo de música afro-brasileira com os mariachis mexicanos, que falam espanhol, simboliza bem o que foi o Dia do Espanhol no Memorial“, disse Benito Benítez Pérez, diretor do Instituto Cervantes de São Paulo, para quem a festa “despertou o interesse de uma cidade multicultural como São Paulo, trazendo mais de 5 mil pessoas“. Como o público era itinerante e havia 9 espaços culturais (oficinas, palcos, atividades para crianças etc) espalhados pelo Memorial, é difícil estabelecer o número final dos participantes, que pode ser bem maior. Evidência disso são as três peças teatrais apresentadas no auditório Simón Bolívar. Em cada uma delas a casa estava cheia. Ora, cabem mais de 800 pessoa na platéia A do Simón Bolívar.
O Dia do SPñol foi assim, todas as atrações aconteciam ao mesmo tempo e as pessoas podiam assistir um show musical ou de dança, uma peça de teatro, filmes, participar de oficinas…Enquanto rolava o show mexicano, como foi dito, no palco montado em frente ao Pavilhão da Criatividade, o grupo Pombas Urbanas saía com seu maracatu do auditório Simón Bolívar. Com roupas coloridas, mascaras, pernas de pau e tambores, seguiram ao ritmo do tradicional “Nagô, nagô a nossa rainha já se coroou”.
Em ritmo da dança das “espanholitas” em frente à Sala dos Espelhos, com castanholas e tudo, Pepita Rodrigues se preparava para cozinhar para seus convidados. Ela fez questão de oferecer um prato inventado por ela que bem pode ser um símbolo da integração ibero-americana: bobó de bacalhau. A artista (e cozinheira) não só ofereceu o almoço como cantou, encenou e arrancou gargalhadas dos convidados durante o monólogo “Pepita: Histórias e Tortilhas.” O final foi apoteótico, com nada menos que passistas e ritmistas da escola de samba Vai Vai. “Muita emoção, muita emoção! Adorei oferecer esse almoço aos meus convidados no Memorial”, comentou alegremente Pepita.
Nesse ritmo de pura alegria logo foi possível observar a oficina de Cartazes Interativos, feito por um grupo de pessoas que, nesse dia, se tornaram verdadeiros artistas. Através de uma tela todos disparavam seus sprays em cima de uma cartolina , que logo dava a forma de um fusca, garrafa, mulher, cachorros. “Me interessei pela oficina por causa da forma dinâmica dos desenhos e a maneira que podemos conduzi-los com um simples spray”, diz com satisfação a publicitária Fabíola Pereira após ter sua obra pronta.
Ao lado dessa oficina se realizava a de Jornalismo 2.0. O ambiente tecnológico proporcionou a estudantes e curiosos a oportunidade de se tornarem jornalistas por um dia. Os participantes fotografaram os diversos eventos, fizeram pequenos textos e gravaram vídeos. Tudo isso foi postado nas mídias sociais, proporcionando uma cobertura em tempo real do Dia do Espanhol. O resultado pode ser conferido no blog http://diadoespanhol.info . Segundo o estudante de letras, Gustavo Rugiano, esse tipo de oficina fez com que ele olhasse de outra maneira seu curso, especialmente o potencial da literatura em face dos meios de comunicação contemporâneos.
Enquanto esses visitantes tinham a experiência de ser Jornalista por um dia e o Grupo Así Es Mi Tierra e Joel Herencia se apresentava no palco com dança folclórica, o Trio Jogando Tango era aplaudido no Auditório Simón Bolívar. Em ritmo de um som instrumental acústico de tango, Ricardo Pesce, Juan Pablo e Vinicius Pereira fizeram com que um casal que estava na platéia dançasse sobre uma pequena luz no auditório e a platéia entrasse no clima.
E Viva El México! Essa foi a última música do grupo Ruben Vera y Sus Mariachis que encerrou os shows do final de tarde, para logo entrar outras bandas. “Adorei apresentar o show no Memorial, as pessoas cantaram e bailaram muito”, disse o guitarrista e cantor, Walter Castillo, após deixar o palco.
Até o final da noite tinha muito mais. Comida, bebida, shows, dança de tango, brincadeiras educativas para crianças, dramaturgia, artesanatos dos diferentes países, teatro, sorteio de cursos no Instituto Cervantes e telas de grafites. Cadeiras e mesas ao ar livre debaixo dos coqueiros compunham o ambiente. Quem quisesse almoçar , lanchar ou simplesmente sentar para conversar e admirar a paisagem estava convidado.
Havia quem não participava de nenhuma oficina ou show, mas simplesmente admirava o que acontecia à sua volta. “Já tinha vindo no Memorial na Exposição Caminho de Santiago, agora estou voltando no Dia do Espanhol e estou adorando”, disse o presidente da Associação de Empresários Galegos em São Paulo, Jesús Caneda Aguiar. De um banco ele e outras pessoas observavam uma simples brincadeira que não só crianças participavam, mas também os mais experientes: sobre duas capas no chão, o jogo de palavras cruzadas em espanhol. Nele, todos podiam brincar e ao mesmo tempo aprender “un poquito” da língua espanhola. Lucas Trindade e Yago Carvalho, ao mesmo tempo que se divertiam ,competiam para ver quem completaria mais rápido o jogo de palavras. “É interessante para nós esse jogo, pois aprendemos mais o espanhol”, falaram os estudantes.
O grupo mais esperado da noite, La Excepción, se apresentou no finalzinho da noite sob muitos flashes. A mais importante banda da cena espanhola de rap disse a que veio logo na primeira música, La verdad más Verdadera. “Com nossa música, denunciamos a exclusão, a miséria, e as condições sociais injustas. Em São Paulo, por exemplo, ficamos espantados com o número de pessoas vivendo nas ruas. Mas hoje estamos aqui para mostrar nosso som para vocês. É a primeira vez que a banda se apresenta no Brasil, o público é bem bacana e queremos voltar”, afirmou com sorrisos o vocalista El Langui.
Agora a população de São Paulo já sabe. Todo 19 de junho, será comemorado no Memorial da América Latina o Dia do SPñol, assim como no mundo todo na mesma data. Por que nesse dia? “É solstício de verão no hemisfério norte“, explica Benítez, “garantia de dia ensolarado na Europa, para a festa ser ao ar livre, sem frio, ventos ou neve. Bem, ese tipo de problema vocês não têm aqui…”, o que ficou provado pelo sol que brilhou o dia inteiro no sábado, 19, El Día del Español em São Paulo.
Fotos: Daniela Agostini
Texto: Mônica Saraiva