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Uma jacaré fêmea em tamanho natural esculpida na madeira. Ao lado, o filhotinho. Tatus de vários tamanhos se aproximando, jaguatirica, cobras, antas, capivaras, porcos e aves diversas. E, claro, macacos. Essa fauna brasileira por excelência circunda, protege e reverencia a manjedoura onde no centro nasceu um menino. Essa cena natalina que remete ao sertão brasileiro se dá, na verdade, em uma zona urbana. Isso fica evidente quando se olha em torno e se vê quadros, pintados com certa inocência, retratando a fachada de prédios antigos e locais públicos do centro de São Paulo.
Esse presépio telúrico foi montado no espaço de exposições temporárias do Pavilhão da Criatividade do Memorial. Maureen Bisilliat e Adriana Beretta, responsáveis pelo local, usaram especialmente peças da reversa técnica do Pavilhão, além de alguns objetos da exposição permanente. E complementaram trazendo emprestado de colecionadores mais peças para compor a cena. Naturalmente, compraram luzinhas e outros adereços na 25 de março. O resultado é uma abordagem divertida da cena natalina. “Ficou lúdico, sem ser irreverente, o que você acha?”, perguntava Maureen nesta quarta, 14 de dezembro, na inauguração. “A começar pelo nome Macacos me mordam”, complementa.
Mas, olhando José e Maria e os outros personagens sacros, talhados de forma rude pelo santeiro cearense Manuel Graciano, Fernando Calvozo, diretor de atividades culturais do Memorial, comenta que “a religiosidade popular passa por certa irreverência mesmo”. Afinal, o povo sempre brinca e as crianças adoram um presépio. Além do menino Jesus, Reis Magos e Anjos comovem pela simplicidade e singeleza alcançadas pelo artista. Folhas secas forram a cena e ramos, flores, pedras e cestos a complementam.
Nas paredes ao lado, foram expostos os quadros do artista naïf Sinval Gomes de Medeiro. Nascido em Corrais Novos, RN, como tantos, ele migrou para São Paulo em busca de renascimento. Virou homem de rua. Certa noite, estava ele dormindo em frente ao prédio Martinelli, no centro da cidade, quando ouviu a “Voz.”, mandando-o retratar o que via. A partir daí não parou mais, primeiro de desenhar e depois de pintar prédios, praças e avenidas, como os edifícios Martinelli, Santa Helena, Banespa, Praça da Sé, Palacete Sampaio Moreira, Estação da Luz, a esquina da avenida Ipiranga com a São João, Estação de Ferro Sorocabana, Hotel Grande São Paulo…
Serviço:
Exposição/Presépio: Macacos me mordam
Período: 14 de dezembro a 13 de fevereiro de 2011
Espaço de Exposições Temporárias/ Pavilhão da Criatividade
Fundação Memorial da América Latina
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, portão 15.
ENTRADA FRANCA
Texto: Eduardo Rascov
Fotos: Daniela Agostini