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Falas do debate (arquivos mp3)
Seis cineastas de cinco países diferentes (Brasil, Uruguai, México, Paraguai e Equador) se reuniram na tarde do dia 26 de julho para debater o tema “Novas Geografias”, na terceira mesa de debates do II Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo. Jorge Sánchez, diretor do festival de Guadalajara e ex-cônsul do México no Brasil, foi o mediador.
Tania Hermida (Equador), Gália Gimenez (Paraguai), Sebastián Bednarik e Carlos Ameglio (ambos do Uruguai) e José Luís Alcazar (brasileiro que filma no Paraguai) têm filmes no Festival e discutiram sobre como funciona a política cinematográfica de seus países.
Jorge Sánchez introduziu o debate após uma breve mas importante defesa de que festivais garantam a distribuição dos filmes que passam por eles. “Concebo o festival como uma entidade de serviço público para cinéfilos, cineastas, produtores e distribuidores”, disse.
O uruguaio Carlos Ameglio, diretor de “A Casca”, afirmou que o cinema em seu país tem dois problemas principais, a seu ver: o tamanho reduzido do mercado interno, que impossibilita que um filme se pague na bilheteria, e a falta de identidade externa do uruguaio, que, segundo ele, não tem um clichê que o distinga de outros países latino-americanos.
Seu conterrâneo Sebastián Bednarik, diretor de “La Matinée”, é um pouco mais otimista. Ele fez seus filmes “Murga Madre” e o mais recente “La Matinée” abordando temas essencialmente uruguaios. Ambos falam do carnaval daquele país, sendo que murga é uma instituição do Carnaval em que atores-cantores se apresentam. E foi assim, falando de temas locais, que alcançou êxito.
Seu sistema de captação de recursos foi ainda mais audacioso. Como o Uruguai é um país pequeno, de apenas 3 milhões de habitantes, ele resolveu captar entre os 500 mil uruguaios que vivem no exterior.
Recursos Públicos
A mais animada cineasta presente, a equatoriana Tania Hermnida, de “Qué Tan Lejos” foi a quarta a falar. Ela contou que seu otimismo se deve ao processo pelo qual está passando o Equador atualmente, chamado de “Revolução Cidadã”, em que todos estão discutindo abertamente política e cidadania.
Ela, que estudou na Escola de Cinema de San Antonio de Los Banõs, em Cuba, contou que o cinema como fenômeno cultural em seu país é uma coisa muito nova. Só nos últimos dez anos filmes não-hollywoodianos ganharam algum espaço. Festivais de cinema começaram a aparecer e, conseqüentemente, os cineastas locais começaram a produzir. “Antes de 1990, era mais ou menos um filme a cada dez anos. No ano passado, já foram três longas. As coisas começam a mudar no Equador”.
E para que esta produção seja possível – e cresça – ela e cineastas locais estão lutando pela criação de leis específicas para o cinema, assim como um fundo governamental específico. Recentemente conseguiram que fosse aprovada uma lei que cria o Conselho Nacional de Cinema, mas, quando Tânia fez o seu filme, essa lei não existia e ela foi captar recursos públicos assim mesmo, batendo de porta em porta, como ela contou.
Gália Gimenez, do Paraguai, diretora de “O Inverno de Gunter”, disse que, em seu país, há um fundo de apoio à cultura que beneficia todas as artes, mas não há um específico para o cinema. Ela não conseguiu aprovar o seu filme neste fundo, embora, por tratar da Guerra do Chaco, tenha com seguido estrutura e apoio. “Esperamos que, com uma Lei específica para captação de recursos para o cinema isso melhore”, disse.
Atualmente morando e filmando no Paraguai, o brasileiro José Luís Alcazar, de “US/ Nosotros”, defende o que ele chama de Revolução Digital. “Não precisamos de muito dinheiro, não precisamos fazer filmes em 35mm., com uma câmera digital, tudo fica mais barato”, disse ele, que apóia a popularização do audiovisual. “Qualquer um pode fazer e veicular um filme com as novas tecnologias.”
“É claro que eu gostaria de trabalhar com os melhores técnicos e fazer um filme em 35mm., mas eu não quero ter de esperar três, quatro ou mais anos para isso. Daqui a quatro anos, vou querer fazer outro filme. Então prefiro filmar agora, em digital, e veicular o meu filme para um público segmentado. Isso me permite viver da minha profissão”, completou.
Para finalizar o debate, a mensagem otimista de Tania Hermida: “Si, se puede”(Sim, é possível), que ela disse ser o atual lema dos cineastas equatorianos.