
São Paulo, 11 de novembro de 2008.
O módulo “Comércio e Desenvolvimento” da Cátedra Memorial da América Latina foi encerrado no dia 10 de novembro com a palestra “América Latina e sua Projeção frente aos Desafios de 2009”, do Prof. Dr. Andrés Serbin, presidente da Coordenadoria Regional de Investigações Econômicas e Sociais – CRIES, Argentina.
O mediador foi o Prof. Dr. Carlos A. Romero, professor titular da Universidade Central da Venezuela e catedrático da Cátedra Memorial da América Latina. O Prof. Dr. Enrique Amayo Zevallos (professor do programa de pós-graduação em Relações Internacionais “San Tiago Dantas” Unesp / Unicamp / PUC-SP) foi o debatedor da noite, que além dos alunos da cátedra, contou com um público formado por estudantes, professores e profissionais liberais.
O analista argentino ligado à universidade venezuelana proferiu a palestra sob o impacto da recente eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos. Ele sinalizou algumas tendências para a América Latina no contexto global a partir tanto da eleição de Obama quanto da crise financeira.
Sobre Obama, ele vê duas possibilidades: que ele não decepcione e provoque mudanças estruturais tanto na política doméstica quanto na exterior. “Mas isso é difícil, exige tempo e maioria no Congresso”. A outra possibilidade é que ele mantenha as estruturas, com pequenas mudanças. De uma forma ou de outra, a América Latina não é uma grande questão para os EUA. E isso, na visão do professor, é muito bom. “É melhor quando os EUA esquecem de nós do que quando intervêm muito na região”, disse o debatedor Amayo.
Já a crise econômica não tem tantas possibilidades: ela vai afetar a região. E afetará principalmente os países que não têm economia diversificada e dependem da exportação de commodities e os que têm mais vínculos com a economia americana. Apesar do impacto “em todos os âmbitos em todos os países”, haverá algum crescimento na economia da região, o que não é previsto para os EUA. “Já se fala em como ficará o mundo pós-EUA, a multipolaridade etc. Na minha opinião, isso vai depender muita da articulação entre atores estatais e não estatais”, disse Serbin.
Na América do Sul, especificamente, ele vê dois modelos: o estadista, mais ideológico, que usa o petróleo e os hidrocarbonetos como arma diplomática (estilo Venezuela) e o mais comercialista, com cena industrial mais diversificada (estilo Brasil). “Enquanto um fala da ALBA – Alternativa Bolivariana para a América Latina o outro está no BRIC (grupo que reúne as economias emergentes de Brasil, Rússia, Índia e China). Eles competem para ver quem vai ser o núcleo duro da integração sul-americana”, analisou.
Serbin criticou a União das Nações Sul-americanas – Unasul, que reúne 12 países da América do Sul e visa aprofundar a integração da região. “A Unasul não passa de uma reunião da boa vontade destes países, mas não tem os mecanismos operativos como a OEA. Se a Unasul desenvolvesse uma estrutura própria, poderia ser um esquema de interlocução com outros atores internacionais”.
“O maior desafio para a América Latina é que ela avance”, concluiu o professor, que é antropólogo formado pela Universidade Nacional de La Plata, com mestrado em Psicologia Social no Departamento de Ciência e Tecnologia do Comportamento na Universidade Simón Bolívar e doutorado em Ciências Políticas pela Universidade Central da Venezuela.
A Cátedra Memorial da América Latina é uma iniciativa do Memorial e das três universidades públicas paulistas (USP, Unicamp e Unesp). Essas instituições fundadoras formaram uma rede, da qual participam diversas universidades latino-americanas e empresas privadas como patrocinadoras. A cada ano, um professor de importante carreira acadêmica é convidado para trabalhar um tema com um grupo de alunos em nível de pós-graduação. Em 2006, o catedrático foi o professor José Augusto Horta Nogueira, da Universidade Federal de Itajubá, MG, ex-diretor técnico da ANP – Agência Nacional do Petróleo, que trabalhou o tema “Energia”. No ano seguinte, foi a vez do professor José Goldemberg, ex-reitor da USP e ex-ministro, enfrentar a questão do “Meio Ambiente”.
Na mesa que presidiu o evento, estavam o presidente do Memorial da América Latina, Fernando Leça, e o diretor do Centro Brasileiro de Estudos da América Latina (CBEAL), Adolpho José Melfi, que também foi reitor da USP.
Por Paloma Varón
Fotos: Fábio Pagan