Unir o tradicional ao contemporâneo é um dos papéis que assume o Revelando São Paulo. De 14 a 21 de setembro, o parque da Água Branca, um dos últimos cantinhos da nossa metrópole que ainda preserva o ar nostálgico do interior paulista, se transforma em palco para esse encontro. Música, dança, culinária e artesanato regional dão um sabor e colorido especiais à última semana de inverno.
Desta grande festa também participa o Memorial da América Latina. Localizado a poucos metros do parque, o complexo de curvas sensuais projetado por Niemeyer é símbolo da modernidade. Mas, durante o revelando, é o lugar onde melhor se dá o diálogo entre o arcaico e a contemporâneo.
Em paralelo aos eventos sediados no parque, a fundação recebe na Sala dos Espelhos e no Anexo dos Congressistas do Auditório Simón Bolívar, os membros das comissões estaduais de folclore e interessados para a realização do VI Seminário de Ações Integradas da Comissão Nacional de Folclore, de 14 a 18 de setembro. As palestras e conferências acontecem simultaneamente em ambos auditórios do Memorial.
Na manhã do dia 16, os participantes puderam conferir as colocações do professor Alberto Ikeda, da Unesp, a respeito da função da Universidade como mecanismo de proteção e divulgação das práticas folclóricas. Se por um lado o incentivo financeiro e a comercialização da tradição é necessário para que esta continue sobrevivendo, por outro, pode resultar na perda de seu valor religioso, ancestral e cultural que adquiri quando inserido na comunidade. O professor instigou o debate entre os especialistas e a conferência resultou em um animado bate-pato.
Um dos pontos levantados diz respeito a questão da sustentabilidade das práticas comerciais: “A panela de barro produzida pelas paneleiras do Maranhão tem uma utilidade dentro da instituição social. Quando vira artigo de luxo e é exportado para alta classe do Japão ou Europa ganha uma outra dimensão, que se torna inviável se pensarmos na questão ambiental”, lembra Ikeda.
Enquanto isso, na Sala dos Espelhos era possível aprofundar os conhecimentos em temas ligados à literatura popular. A mesa das 10h30 foi composta pelos especialistas Audálio Dantas, diretor em São Paulo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maria Alice Amorim, da Puc de Campinas, e Áurea Paes Pinheiro, da CPiF, e discutiu os desdobramentos da literatura de cordel. A jornalista Maria Alice exibiu para os presentes o documentário organizado por ela que reúne os relatos dos repentistas contemporâneos acerca de sua arte e experiências além de analisar as disputas de cordel feitas pela Internet.
O trabalho de Amorim retrata o que vem sendo discutido com freqüência nos seminários: a continua reinvenção do folclore. Do ponto de vista da professora, o folclore deve ser encarado como um mecanismo vivo que tem a capacidade de absorver e se moldar de acordo com as transformações culturais.
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Fotos e texto: Gabriela Mainardi