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Simpósio Internacional
Brasil-Japão: Modernização Urbana e Cultura Contemporânea
Centro de Convenções do Memorial da América Latina, São Paulo, Brasil
10 e 11 de outubro 2008
Sessão 2 – Vida na metrópole
Expositores: Willi Bolle, Fujiwara Manabu, Regina Meyer. Mediação: Jo Takahashi
Aspectos da modernização em Belém, metrópole da Amazônia
(Willi Bolle)
Por volta de 1900, no auge do ciclo da borracha, Belém, como metrópole da Amazônia, acumulava riquezas a ponto de sonhar em se tornar uma “Paris n´América”. Ora, este sonho ruiu repentinamente e as obras de modernização estancaram, em 1912, com o despencar dos preços da borracha no mercado mundial. Seguiu-se uma época de declínio, decadência e estagnação, embora houvesse também um esforço de reestruturação, nas quatro décadas de 1920 a 1960.
Desde o início dos anos 1960, com a abertura da rodovia Belém-Brasília e a criação de Grandes Projetos (rodovia transamazônica, mineração, usinas hidroelétricas), produziu-se um novo surto de modernização, uma explosão demográfica, que transformou em meio século uma cidade de 300 mil habitantes numa região metropolitana de quase 2 milhões de habitantes. Procuramos estudar estas mudanças – modernização-declínio-nova modernização, a partir da comparação entre a situação descrita no romance Belém do Grão-Pará (1960), de Dalcídio Jurandir, e a fisionomia urbana de Belém nesta primeira década do século XXI.
Willi BOLLE
Professor titular de literatura alemã na Universidade de São Paulo (USP). Graduado em Letras Neolatinas pela USP. Doutor em Literatura Brasileira pela Universität Bochum. Livre-docente em Literatura Alemã pela USP. Áreas de trabalho: Literatura e História; A modernidade no Brasil e na Alemanha. Projeto de pesquisa: uma topografia cultural do Brasil: metrópole e megacidade, sertão, Amazônia. Publicações: Fisiognomia da Metrópole Moderna (São Paulo: Edusp, 2ª. ed. 2000); grandesertão.br – O romance de formação do Brasil (São Paulo: Editora 34 e Duas Cidades, 2004). Organizador de Passagens, a edição brasileira do Passagen-Werk, de Walter Benjamin (Belo Horizonte e São Paulo: EdUFMG e Imprensa Oficial, 2006). Em preparação (como organizador): Amazônia – região universal e teatro do mundo.
O “eu” no interior do espaço urbano: Junichiro Tanizaki e a “teoria espacial do “segredo (1911)”
(Manabu Fujiwara)
A primeira vista, Himitsu [O segredo], escrito por Tanizaki Jun’Ichirô (1886-1965) em 1911, é geralmente considerado um discurso sobre a anonimidade no espaço urbano. Entretanto, manter um segredo para si mesmo significa uma ação de forte consciência individual mais do que uma ação anônima. O personagem principal da obra traveste-se, não para esconder a si mesmo, mas para satisfazer o seu desejo sexual. Dentro deste contexto, o argumento principal desta apresentação está focada na questão da busca da identidade própria ou individual dentro do espaço urbano.
Manabu FUJIWARA
Professor assistente da Escola de Pós-Graduação em Estudos Humanos e Ambientais da Universidade de Kyoto, onde também recebeu seu título de doutor. Graduado do Departamento de Arquitetura e Construção Civil, da Faculdade de Engenharia do Instituto de Tecnologia de Tokyo. Teórico da arquitetura interessado no significado dos espaços descritos em obras literárias, especialmente, na obra de Junichiro Tanizaki. Colaborou na realização do Simpósio Internacional sobre Junichiro Tanizaki em Paris (2007). Entre suas publicações: Hanshinkan modanizumu (Modernismo entre Osaka e Kobe, 1997), Kenchikuteki bashoron no kenkyû (O estudo da topologia arquitetônica, 1998) and Tanizaki Junichiro Kyôkai wo Koete (Junichiro Tanizaki: ultrapassando fronteiras, a ser publicado em breve).
Viver em São Paulo na primeira década do século XXI
(Regina Meyer)
A metrópole de São Paulo, nesta primeira década do século XXI, exibe de forma indisfarçável a ineficiência da sociedade em lidar com as suas questões urbanas. Afirma-se, com freqüência, que São Paulo, cidade e metrópole, não foi ao longo de sua construção histórica, objeto de reflexão e projeto urbanístico. Há uma sempre renovada afirmação que São Paulo é a própria negação do urbanismo. Entretanto, inúmeros estudos e trabalhos acadêmicos que têm por foco a evolução urbana da metrópole e seus diversos planos e projetos que contrariam esta leitura simplificadora. Se hoje a metrópole se mostra como um perfeito exemplo de desordem e desgoverno, não podemos assumir, que esse é o resultado da ausência de reflexão e proposição urbanística. É bastante claro, na atual crise urbana paulistana, que estamos diante da conseqüência lógica de um específico modo de urbanização estabelecido, desde o início do processo de crescimento acelerado, baseado em uma negociação entre os promotores imobiliários privados, através de seus mais variados agentes, e o próprio poder público.
Os princípios orientadores do desenvolvimento urbano foram constantemente alvos de transgressão por parte do setor imobiliário e de negligência por parte do próprio poder público. Não cabe avaliar aqui a pertinência e a qualidade dessas propostas orientadoras e disciplinadoras, ou o grau de comprometimento do poder público com as diretrizes técnicas; podemos, entretanto, ficar à vontade para afirmar que ao longo das últimas quatro décadas, período decisivo para a metrópole, assistiu-se de forma recorrente ao malogro e à frustração das iniciativas de estabelecer formas de controle e racionalidade na construção e no uso da cidade, baseadas nos interesses coletivos da sociedade.
Uma tímida “ideologia da ordem” foi gradualmente sendo conquistada, através de leis e normas; ganharam-se pequenas batalhas, mas, sem dúvida, perdeu-se a guerra. Prevaleceu no processo de construção da cidade o princípio da expansão permanente, do crescimento sem qualidade, do abuso das leis como norma. Uma abundante literatura, produzida, sobretudo no contexto acadêmico, descreve com precisão o hábito geral — privado e público — de urbanizar de sem regras. A tese de Manfredo Tafuri — “a cidade do desenvolvimento não aceita o equilíbrio na sua organização”– encontra na evolução urbana de São Paulo uma dura confirmação.
Regina Maria Prosperi MEYER
Professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – USP. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília (1974). Especializada em Design urbano e planejamento urbano pela Architectural Association School of Architecture (1977). Mestre em Arquitetura pela University of London (1978). Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1991). Pós-doutorado pela Universidade de São Paulo (2006). Áreas de atuação: Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo. Temas de pesquisa atual: urbanismo, anos 50, metrópole.