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Como parte do 3º Festival de Cinema Latino Americano, o Memorial programou diversas atividades relacionadas à formação profissional na área cinematográfica. Um desses eventos foi a "Mesa 2 – Ensino" que ocorreu na noite fria do dia 10 de julho, quinta–feira. A mesa foi composta por especialistas de cinema e audiovisual, como Carlos Cereceda (ESCAC – Espanha), Gustavo Montiel (CCC – México), Gustavo Mosquera ( ENERC – Argentina) e Maria Dora Mourão (USP- Brasil).
A nossa civilização é cada vez mais a do olhar. Os vários formatos de audiovisual são exibidos em cinema, televisão, computadores, Internet, DVD, celulares, instalações, publicidades, monitores públicos em ônibus, trens e metrôs… A mesmo tempo, a produção audiovisual tornou-se acessível a todos. Quase qualquer um pode adquirir um computador, programas de manipulação de imagens e filmadoras digitais (que estão até em máquina de fotografar e nos celulares).
A questão que se coloca é como satisfazer essa demanda imensa de audiovisual e o que fazer com a massa de produtos audiovisuais que estão sendo produzidos no momento? Como elevar a qualidade deles, sem torná-los elitistas? E, diante dessa enxurrada de imagens que nos leva, como manter os olhos puros, ver e criar aquilo que ainda chamamos de “a sétima arte”?
Montiel lembrou a importância de se criar centros alternativos de produção cinematográfica sem precisar seguir uma metodologia regrada. Para ele, é fundamental “produzir juntos com os alunos, e não apenas ensinar, fazer longas a partir da escola, o que fortalece a nossa proposta de experimentação no cinema”. Ele disse ainda que no México, 95 % dos filmes realizados são de pessoas que estudaram em escolas especializadas, o que fortalece a qualidade do que é gerado.
Para a professora da USP Maria Dora Mourão, a formação audiovisual no país amadureceu muito, já que hoje há bons cursos que possuem autonomia curricular para o ensino das técnicas de cinema e audiovisual, e não vinculadas às disciplinas dos cursos de comunicação, como era há alguns anos.
Carlos Cereceda enfatizou que hoje o mercado é amplo, é possível trabalhar com a formação em cinema e áudio em fotografia, roteiro ou direção. Cereceda disse ainda que a convivência na escola é fundamental para o autoconhecimento; ele lembrou que não era compreendido em sua cidade por querer produzir longas, “as pessoas me achavam louco”, ele se diverte. “Ao chegar á escola, vi que havia outras pessoas que pensavam como eu e a partir disso, pude me conhecer melhor”.
Para o mexicano Gustavo Montiel, antigamente as escolas pareciam desnecessárias, já que não havia uma demanda muito grande de produção; “ para que formar tantas profissionais naquela época? Mas hoje, com o aumento das películas cinematográficas, a formação é uma necessidade para a qualidade do que é realizado”.
Mosquera enfatizou a dificuldade de se concretizar produções independentes: “Atualmente o que eu vejo são várias salas com o mesmo filme americano precisamos lutar contra essa forte indústria e consolidar um material alternativo e de qualidade”.
Ao ser questionada por um aluno do Senac que no Brasil, muitas vezes, o cinema é uma extensão da televisão, Maria Dora disse que há uma proposta de se implantar uma disciplina de áudiovisual no ensino médio, o que, para ela, ampliaria o quadro de futuros profissionais atuando com a telona.
Montiel lembrou que, muitas vezes, pessoas de baixa renda só têm acesso a bons filmes se recorrerem ao mercado pirata, já que ir ao cinema com freqüência é caro. Ele chegou a defender essa via como forma de ajudar quem trabalha nas ruas e a levar um pouco de cultura a quem não tem; “Ainda não encontrei uma alternativa de combater as grandes produtoras, essas que não barateiam a ida aos cinemas e, na ausência de uma solução, fico com a pirataria”, finalizou.
Foto: Fábio Pagan