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A Fundação Memorial da América Latina entregou a São Paulo, no dia de seu aniversário, a obra “Etnias – Do Primeiro e Sempre Brasil”, de autoria de Maria Bonomi (foto á esquerda). É um presente de grandes proporções e beleza. Trata-se de um conjunto de painéis em argila, bronze e alumínio cujas gravuras – e Maria Bonomi é uma das nossas maiores gravadoras – lançam um olhar sobre os habitantes que aqui viviam antes da invasão dos europeus até os dias de hoje.
Autoridades e artistas participaram da cerimônica de abertura, entre eles, o Governador José Serra (foto á esquerda), o bibliófilo José Mindlin (foto abaixo á direita), o senador Eduardo Suplicy (foto abaixo á direita), o publicitário José Zaragoza e a fotógrafa Cláudia Andujar. Uma delegação de 60 índios das etnias guarani e maraguá apresentaram um número com cantos tradicionais de seu povo, cuja história está ali retratada. Eles vieram de Parelheiros, bairro da Zona Sul de São Paulo onde se localizam algumas aldeias às margens da represa do Guarapiranga.
Agora, quem chega ao Memorial pela entrada principal se surpreende. A instalação “Etnias – Do Primeiro e Sempre Brasil” está localizada na passagem de nível de 50 metros que liga o metro ao conjunto arquitetônico. Nesse corredor espelhos em toda a extensão das duas paredes e a iluminação cenográfica emolduram painéis e toténs que recontam de forma estilizada a história do índio brasileiro. Nas escadas, estão gravados nomes de índios de diversas etnias.
Compostos por alto e baixo relevos, os painéis em argila evocam as origens, a mata, cavernas, pinturas rupestres, padrões indígenas, instrumentos rituais, armas, animais e as primeiras habitações. Já os painéis em bronze remetem à chegado dos colonizadores. Lá estão as caravelas, os personagens, as armas de fogo, os sinos, as fortalezas, as missões. Por fim, os painéis de alumínio investigam a presença indígena na contemporaneidade, como na construção de Brasília, por exemplo.
Tal qual uma linha do tempo, Bonomi dividiu o percurso de "Etnias" nessas três fases. A primeira, “arqueológica”, é feita totalmente em barro; a segunda, já abordando o primado da técnica, é cunhada em bronze; a terceira fase fpo feota em alumínio, pois esse material, segundo Bonomi, remete aos tempos atuais.
Mais do que uma experiência contemplativa, as pessoas se integram à obra ao passar entre as placas maciças e por meio dos jogos de espelhos. E passeiam através de uma série de "fotogramas" gigantes e penetráveis, que formam uma espécie de “espetáculo” em alto e baixo relevo. O corredor de entrada do Memorial se transforma assim num espaço interativo, no qual o público se integra fisicamente com a História.
Para a execução desse projeto, Maria Bonomi instalou um ateliê no subsolo da Galeria Marta Traba do Memorial, onde foram utilizadas mais de 10 toneladas de matéria-prima, trabalhada por artistas nacionais e internacionais qualificados e índios da Aldeia Krukutu, em Parelheiros, São Paulo.
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Na verdade, a matéria plástica trabalhada por Maria Bonomi é o Tempo. Assim é que há 19 anos construiu no próprio Memorial um outro painel em relevo denominado "Futura Memória" e recentemente fez para a Estação da Luz a "Epopéia Paulista". Nascida em Meina, Itália, em 1935, de mãe brasileira, Bonomi atua como gravadora, figurinista, cenógrafa e pesquisadora.
Maria Bonomi é uma das mais respeitadas artistas plásticas do país. Suas obras figuram em renomados museus e coleções particulares nacionais e internacionais. Faz trabalhos de arte pública desde a década de 1970, com painéis em diversas cidades brasileiras e no exterior, e mais de 50 obras já instaladas. Destacam-se: "Ascensão", Igreja da Cruz Torta, São Paulo, 1974; "Arrozal de Bengüet", Hotel Maksoud Plaza, São Paulo, 1979; "Construção de São Paulo", Estação Jardim, São Paulo, 1998.
Entre os prêmios recebidos destacam-se: Melhor Gravador Nacional, na VIII Bienal de São Paulo (1965); Prêmio Theadoron, na V Bienal de Paris (1967); Prêmio do Júri Internacional na XV Bienal Internacional de Gravura de Liubliana (1983); 42º Prêmio Santista – Gravura, pela Fundação Bunge (1997). A artista tem doutorado em Arte Pública pela Universidade de São Paulo, concluído em 1999.
Ao todo aproximadamente 30 pessoas participaram do projeto "Etnias – Do Primeiro e Sempre Brasil", entre as quais, o artista venezuelano Carlos Pedreañez, o argentino Leonardo Ceolin, e os brasileiros Cláudia Maria Braga Ribeiro, Lourdes Sakotami, Suzette Salvetti e Talita Zaragoza. Ainda trabalharam, no projeto Arte Educação, Alberto da Silva; na consultoria antropológica, Cláudia Andujar e Cildo Oliveira; na arquitetura e montagem, Rodrigo Velasco e o ceramista Antônio Nóbrega.
Fotos por Fábio Pagan – Imprensa Memorial
(com exceção das fotos marcadas com *)
"Etnias – Do Primeiro e Sempre Brasil"
A partir de 25 de janeiro.
Visitação: todos os dias, das 9 às 18h.
Entrada pelo portão 1, ao lado do metrô Barra Funda
Mais informações sobre a obra e a artista: www.mariabonomi.com.br