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A oficina “Estratégias de Co-Produção”, ministrada pelo escritor e roteirista espanhol Joan Alvarez, durou três dias e serviu para traçar um panorama de como são feitas as co-produções entre os países ibero-americanos.
No público, composto de 21 alunos, havia principalmente cineastas e produtores, pessoas que queriam aprender os trâmites de uma co-produção.
Por que fazer co-produção? Segundo Alvarez, os motivos mais comuns são: para complementar o orçamento e para que o filme viaje melhor, ou seja, que tenha êxito em platéias de diferentes países.
Ele citou que até a indústria de filmes da Nigéria, conhecida como Nollywood, está buscando co-produções. “Eles criaram uma fundação na Califórnia para buscar investimentos. Pode ser o início de uma internacionalização do cinema africano”, disse, com a ressalva de que os filmes nigerianos, até agora, são feitos com tecnologia digital e lançados diretamente em DVD. O público não vai às salas de cinema, adquire os DVDs na rua, a baixo custo, e os vê em casa.
Alvarez, que é diretor da Fundación para la Investigación del Audiovisual – FIA e trabalha como subdiretor e assessor de projetos de co-produção, contou que recebeu em seu escritório um grupo de indianos interessados em fazer co-produção. “A indústria indiana, conhecida como Bollywood (anterior à nigeriana), tem sucesso absoluto de público e possui seu próprio star system”, disse. Mesmo assim, estão interessados em co-produções.
Segundo ele, no momento o cinema latino-americano goza de grande prestígio nos grandes festivais. Vale lembrar que o ganhador do Festival de Berlim foi o filme brasileiro “Tropa de Elite”, de José Padilha. Apesar disso, as co-produções entre os países ibero-americanos ainda é pequena.
Alvarez citou o fundo Ibermedia (link: http://www.programaibermedia.com/) como um grande alavancador de co-produções na região. Ibermedia é um programa de estímulo à co-produção de filmes para cinema e televisão nos países ibero-americanos; à montagem inicial de projetos cinematográficos; à distribuição e promoção de filmes no mercado regional e à formação de recursos humanos para a indústria audiovisual.
O fundo Ibermedia conta com 17 países, que financiam o Programa: Argentina, Brasil, Bolivia, Colombia, Costa Rica, Cuba, Chile, Ecuador, Espanha, México, Panamá, Perú, Portugal, Porto Rico, Republica Dominicana, Uruguai e Venezuela. Estes são os países que podem também se beneficiar das verbas do fundo no caso de co-produções.
Assim como o programa, Alvarez também é partidário de que se façam filmes para televisão nestes países, pois muitos dos filmes produzidos sequer podem ser exibidos em salas de cinema. É o funil da distribuição, presente em todos os países-membro.
“Não podemos fazer tantos filmes para salas. Filmes para TV merecem mais atenção. Isso é bem difundido nos EUA, na Alemanha, no Reino Unido, na França, mas a gente ainda não percebeu. Filmes para TV têm menor orçamento, menos tempo de rodagem e exibição garantida”, defendeu.
No terceiro dia do curso, a oficina contou com a presença do produtor espanhol Francesc Fenollosa, que relatou sua experiência pessoal em co-produções. Ele falava do ponto de vista do produtor, enquanto Alvarez falou do ponto de vista do roteirista. Segundo ambos, para fazer uma co-produção é fundamental conhecer as leis dos países co-produtores, a fim de conseguir os benefícios fiscais. E o filme deve ser registrado em ambos os países.
Além de conhecer as leis, é importante conhecer a cultura e a língua do país com o qual se quer co-produzir. Fenollosa recomenda que se comecem com produções interestaduais, pois, mesmo no Brasil, cada estado tem leis de incentivo diferentes dos outros. E isso capacita para uma co-produção entre países.
Ele deu algumas dicas simples, mas que nem todos os produtores estão atentos:
– Não aguarde a saída do edital. Comece a trabalhar já. Basta olhar o edital do ano anterior
– Coloque no orçamento as traduções, dublagens, legendagem e, principalmente, as viagens
– Decidam qual será a língua original do filme
– eleja bem o seu co-produtor. Fale a língua dele.
fotos: Fábio Pagan