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A professora Marlyse Meyer faleceu nesta segunda, 19 de julho, às 9h30, aos 86 anos. Intelectual respeitada por seus pares, ela se destacou como crítica literária e historiadora da cultura popular brasileira. Lecionou na USP e na Sorbornne, em Paris, onde morou por muitos anos. Seu apartamento na capital francesa nos anos 60 e 70 abrigou vários brasileiros exilados. Entrevistada por Heloisa Buarque de Hollanda, na revista Z (http://www.pacc.ufrj.br/z/ano4/2/marlysemeyer.htm), Marlyse conta como passou "o 68 na Sorbonne, o que foi um capítulo importante na minha vida. Entrei no maio francês direto com Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso e outros"…
Ela também foi uma das pioneiras do Instituto de Artes da Unicamp. Nas duas universidades, ela ministrou alentados cursos de pós-graduação em Literatura e Cultura Popular. Uma contribuição que vai ficar é sua pesquisa sobre a chegada e repercussão do recém-criado no Brasil romance-folhetim, a partir de 1838. Em seu filho "Folhetim", Meyer conta a história européia da formação desse gênero de ficção romanesca estritamente ligada ao jornal, o "feuilleton-roman". Quando chegou ao Brasil, se imanou ao melodrama teatral, também associado ao romance sentimental europeu. Essa é a matriz da radionovela e da atual telenovela (na foto abaixo, Marlyse Meyer, a primeira à direita da mesa, discute esse tema com José Wilker, os acadêmicos Nélida Piñon, Marcos Vilaça e Ivan Junqueira, em evento na Academia Brasileira de Letras, em 2007).
Entre 1999 e 2001, Meyer dirigiu o Centro Brasileiro de Estudos da América Latina, deste Memorial. À frente do CBEAL, ela fomentou a pesquisa pioneira e a reflexão sobre processos culturais latino-americanos. Um dos livros que editou foi “Mário Pedrosa 100 anos” (Fundação Memorial da América Latina, São Paulo, 2000), com textos de Aracy Amaral, Daisy Peccinini, Ferreira Gullar, José Castillo, Lélia Abramos e Otília Arantes. Antes esse tema havia sido discutido em colóquio e em exposição.
Marlyse Meyer também organizou “Do Almanak aos Almanaques” (Fundação Memorial da América Latina e Ateliê Editorial, São Paulo, 2001), obra que permanece como referência do estudo desta popular publicação de generidades – o Almanaque – tão velha quanto a invenção da tipografia.
Uma das características da gestão de Marlyse Meyer no CBEAL foi conciliar exposição retrospectiva e mesa redonda com especialistas renomados e, quando possível, a publicação de um livro sobre o tema. Foi assim com o "Colóquio Internacional: Os Almanaques Populares: da Europa às Américas – gênero, circulação e relações interculturais", em outubro de 1999. Articulado por ela, o evento era uma parceria entre a Universidade de Versailles Saint-Quentin-em-Yvelines, o Departamento de História do IFCH da Unicamp, o Núcleo de Poéticas da Oralidade da PUC e o Memorial. Participaram da mesa Redonda de encerramento a Profª Jerusa Pires Ferreira, José Mindlin, e os professores franceses. Jean-François Botrel, Lise Andriès e Jean-Yves Mollier. À exposição “Almanaques Brasileiros" e o colóquio seguiu-se a publicação do livro mencionado acima.
Segundo Eduardo Farsetti, gerente de planejamento do CBEAL, “apesar de nessa época haver uma escassez grande de recursos financeiros, a gente conseguiu realizar muitos eventos, praticamente a custo zero, graças ao prestígio, à facilidade de trânsito da professora na USP e a sua rede de conhecimento de pessoas e instituições”.
Marlyse Meyer faleceu em sua casa, em São Paulo, de parada cardíaca. Deixa três filhos e netos. O velório será a partir das 11 horas desta terça, 20 de julho, no Cemitério Israelita do Butantã (Rodovia Raposo Tavares, km 15). O enterro está marcado para as 14h.
Conheça alguns dos eventos organizados por Marlyse Meyer no Memorial:
"Cem Anos de Borges", mesa redonda e exposição com a participação de Jorge Schwarz, Carlos Calil e Guilherme Simões Jr.
"Conversas sobre a Memória"
Parceria CBEAL e Centro de Estudos da Oralidade – Núcleo de Poéticas da Oralidade – PUC – Diretora Profª Drª Jerusa Pires Ferreira.
Participantes: Amálio Pinheiro, Boris Fausto, Boris Kossoy, Daisy Wajnberg, Idelette Muzart, Márcio Seligmann-Silva, Marina Melo e Souza, Reni Chaves Cardoso. Coordenadores: Marlyse Meyer, Lucio Agra, Jerusa Pires Ferreira.
"Lançamento do Projeto Poetas na Biblioteca"
Homenagem a Haroldo Campos, pelos prêmios: Octavio Paz e Roger Cailois. Participantes: Nelson Ascher e Horácio Costa.
"40 anos de Casa de las Americas"
Mesa Redonda e Exposição de publicações e cartazes cubanos
Participantes: Antonio Candido, Fábio Lucas, Nelson de Oliveira, Sérgio Muniz e Valéria de Marco.
"Lançamento do livro: Faraimará – o caçador traz alegria".
Comemorativo aos 60 anos de iniciação religiosa de Mãe Stella do Ilê Opô
Afonjá – Salvador – Bahia.
"Exposição Comemorativa dos 40 anos de Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos" de Antonio Candido de Mello e Souza.
Exposição de livros sobre a vida e obra de Antonio Candido.
"Gilberto Freyre – Cem Anos"
Mesa Redonda com a participação de Élide Rugai Bastos, Antônio Dimas, Fernanda Peixoto e Ricardo Benzaquen de Araújo. E exposição de livros, fotos e cartas relativos a Gilberto Freyre.
"Eça de Queirós: a escrita do mundo"
Mesa Redonda com a participação de Carlos Reis (da Universidade de Coimbra e diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa), Prof. João Alexandre Barbosa e Profª Elza Miné. E exposição de livros, fotos e documentos relativos a Eça de Queiros.
"Homenagem ao Dia Internacional da Mulher"
Palestras com: Profª Miriam Moreira Leite e Profª Constância Lima Duarte
E exposição "Nísia Floresta – Uma alma brasileira", com fotos e livros.
"Murilo Mendes – 100 Anos"
Mesa Redonda com a participação de Prof. Murilo Marcondes de Moura e Prof. Boris Schnaiderman. E exposição de livros e documentos relativos a Murilo Mendes.
Publicação, na Coleção "Memo – Ensaio/Ficção": Um eterno retorno: As descobertas do Brasil, em outubro de 2000.