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Para encerrar suas atividades em 2006, o Memorial trouxe para o público paulistano uma grande e especial montagem da "Misa Criolla", de Ariel Ramírez. Na antevéspera do Natal, 23 de dezembro, mesmo em noite chuvosa, o Auditório Simón Bolívar recebeu cerca de 700 pessoas, que se emocionaram com o que viram e ouviram.
Com concepção e regência do maestro Martinho Lutero, esta versão contou com a interpretação da soprano brasileira Celine Imbert, do tenor argentino Andrés Perotti e do grupo argentino Jaime Torres Ensemble e coral de 204 vozes, com a participação da Comunidade Coral Martin Luther King e integrantes de outros corais. As diferentes passagens da Misa foram introduzidas pela leitura de trechos de “Memórias del Fuego”, de Eduardo Galeano, feita por Mário Lima.
Já na abertura os presentes perceberam que teriam pela frente uma noite memorável. Como prévia da Misa Criolla propriamente dita, Jaime Torres e seu conjunto deram um show à parte. Os dedos de Torres mal davam para ser vistos, tal é sua destreza em tocar a tradicional charango de dez cordas.
Em "cantos e danças Criollas", de repente, elegante e viril, o percussionista Federico Gareis levanta-se e ensaia os primeirso passos de dança, lenço branco balançando na mão. Em seguida, entra a doce bailarina Manuela Torres. Os dois fazem um par perfeito no melhor estilo espanhol.
A Misa Criolla é a mais importante obra do compositor argentino Ariel Ramírez (1921) Foi composta em 1963, como uma das primeiras versões da missa católica em idiomas locais. Ramírez usou não apenas a linguagem do seu país, mas igualmente os ritmos musicais da Argentina, inclusive com o uso de instrumentos locais.
É realmente uma peça miscigenada, isto é, uma amálgama de influências nativas: os argentinos, como outros povos latino-americanos, descendem dessa mistura cultural indígena e européia. E os ritmos e instrumentos argentinos, por sua vez, também se originam de várias fontes. Em formato épico, retrata a dor dos primeiros habitantes do continente, impotentes diante da invasão de um povo que eles não compreendiam nem podiam enfrentar, os europeus.
A Misa Criolla tornou-se extremamente popular. Foi apresentada em todo o mundo e suas gravações foram muito vendidas. Quase 25 anos depois do seu surgimento, milhões de CDs foram vendidos quando o famoso tenor José Carreras a gravou (1988). A missa foi gravada também por Mercedes Sosa (2000), o que lhe valeu o Grammy daquele ano, e por Javier Rodríguez (2002).
Os ritmos empregados também mesclam as influências regionais: o Kyrie, em vidala-baguala; o Gloria, em carnavalito-yaraví; o Credo, em chacarera trunca; o Sanctus, em carnaval cochabambino; o Agnus Dei, em estilo pampeano.
Saiba mais sobre a Misa Criolla
A Misa Criolla é uma das mais importantes obras corais do século passado. Sendo uma obra aberta, serviu de inspiração a vários artistas na maneira de interpretar os desejos do compositor Ariel Ramirez. A versão da Misa Criolla a ser apresentada esta noite é fruto de anos de interpretação, pesquisa e trabalhos realizados pelo maestro Martinho Lutero com diversos intérpretes e grupos musicais.
Desde a histórica experiência junto ao compositor nos anos 70 até a recente versão apresentada na Europa em companhia do grande do Dino Salluzzi no bandoneon, a Misa tem sendo enriquecida de elementos artísticos e interpretativos novos até atingir o ponto de maturidade atual. As principais intervenções são a junção de alguns episódios musicais solísticos entre as partes litúrgicas, a dança tradicional para sublinhar a autenticidade dos ritmos “criollos“, e a leitura de textos que invocam a grande literatura pré-colombiana e episódios da conquista da América – todos retirados da trilogia “Memórias del Fuego“, do escritor uruguaio Eduardo Galeano.
O resultado é uma leitura guiada de um dos temas mais fascinantes do nosso continente: o claudicar das culturas autóctones diante da maciça invasão da cultura ocidental européia na Pacha Mama.
Prestes a comemorar 30 anos da primeira tournê brasileira de Ariel Ramirez e a sua Misa Criolla, a Comunidade Coral Luther King sob o alto patrocínio do Memorial da América Latina reapresentou ao público paulista esta importante obra da musica coral internacional na companhia de alguns convidados de Honra. Celine Imbert, integrante do coro durante a tournê de 78 se apresenta agora como solista no ápice de sua esplêndida carreira. Jaime Torres, descobridor do moderno Charango, hoje o maior intérprete vivo deste instrumento traz diretamente de Buenos Aires com seu grupo a experiência de ter participado na primeira e histórica gravação da Misa Criolla. O jovem tenor Andrés Perotti e os corais MusicAtiva, Vocalis, Portal do Morumbi, Embu e Suzano trazem o frescor de uma leitura apaixonada da obra. O Coral Luther King, sob a direção do Maestro Martinho Lutero, oferece a experiência maturada na interpretação da Misa Criolla no decorrer deste anos.
Misa Criolla, a mais importante composição de Ariel Ramirez, figura entre as grandes obras da literatura coral mundial. Primeira Missa cantada expressa em vernáculo com texto litúrgico, foi logo adotada como estandarte das reformas do Concílio Vaticano II. Composta em 1963 e registrada pela primeira vez em 1967, vem sendo apresentada por um sem número de coros em salas de concertos. É hoje, junto com o Messias de Haendel, a obra coral mais executada no mundo.
Baseada em ritmos tradicionais argentinos, a Vidala-Baguala (Kyrie), o Carnavalito Yaravi (Gloria), a Chacarera-trunca (Credo), o Carnaval Cochabambino (Sanctus) e o estilo pampeano (Agnus Dei), mescla a sonoridade e tradição musical andina aos textos latinos e à forma européia da Missa Católica.
O compositor argentino Ariel Ramirez com sua Misa Criolla deixa um legado riquíssimo através de uma obra aberta que traduz, em festa, as cores dos povos latino-americanos.
Programa:
Jaime Torres y su Gente
Cantos e danças Criollas
Andres Perotti
Navidad Nuestra – de Ariel Ramirez
"Misa Criolla", de Ariel Ramirez
Fotos: Roberto Nemanis
KYRIE
Solistas: Celine Imbert e Andrés Perotti
GLORIA
Solista: Andrés Perotti
CREDO
Solista: Celine Imbert
SANCTUS
Solistas: Andrés Perotti
AGNUS DEI
Solistas: Celine Imbert e Andrés Perotti
Direção e Regência: Maestro Martinho Lutero
Elenco:
Celine Imbert – soprano
Andrés Perotti – tenor
Jaime Torres – líder do Ensembre
Federico Siciliano – piano
Juan Ignacio Enriquez – guitarra
Javier Sepúlveda – sopros
Sebastián Farias Gomez – percussão
Federico Gareis – percussão e dança
Manuela Torres – dança
Sebastián Torres – som
CORAL MUSICATIVA de Mogi das Cruzes
Regente -SERGIO WERNECK
CORAL MUNICIPAL DE SUZANO
Regente -SERGIO WERNECK
CORAL VOCALIS de São José dos Campos
Regente -JOSE ROBERTO CANIZZA FILHO
CORAL DO PORTAL
Regente -DANIEL VIEIRA DA SILVA
CORAL DAS ARTES DE EMBU
Regente -DANIEL VIEIRA DA SILVA
CORAL LUTHER KING
Regente -ROSANA DANIN
Preparação vocal e ensaios:
Equipe artística da Comunidade Coral Luther King
Wagner Dias, David Salim, Roberto Mendes, Rosana Danin,
Sira Milani