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Na mesma noite também lança Liberdade de Expressão na América Latina
Registros históricos da recente democracia e seus atores na América Latina em dois recortes editoriais convergentes. Esse poderia ser o início de uma crítica literária à festiva noite do lançamento de dois livros que a Fundação Memorial da América (FMAL) fez na quinta-feira, 29 de outubro, no auditório do Bourbon Shopping São Paulo, no bairro de Pompéia.
Anfitrião, Fernando Leça, atual presidente – e sexto desde a inauguração em 18 de março de 1989 – fez as honras da Casa e apresentou o primeiro lançamento: Memorial da América Latina 21 anos. “Esta obra foi concebida para registrar a trajetória do Memorial nesses 21 anos de maioridade plena e, portanto, não tem viés laudatório”, sublinhou o dirigente.
O livro, de 212 páginas, tem como diferencial o formato (26x23cm), capa vermelha em papel supremo LD 300g/m2, , e couche fosco no miolo, com acabamento final e impressão na gráfica da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, coeditora da obra e representada pelo diretor industrial da empresa, Teiji Tomioka.
Seu autor é o pesquisador de História da USP, Shozo Motoyama, que se debruçou em arquivos e enveredou pelo túnel do tempo do Memorial para ouvir funcionários antigos e atuais, ex-dirigentes e até o governador à época, Orestes Quércia, que transformou em realidade o sonho da integração latinoamericana de seu antecessor, André Franco Montoro.
Mídia em pauta – Defensor da união dos povos de língua hispânica, o ex-governador foi testemunha da ebulição política e social de governos autoritários em países da América Latina, que cerceavam o direito à liberdade de expressão e o direito à informação.
De lá para cá o que mudou? Esta é a pergunta, matriz de muitas outras a que se propõe responder – ou pelo menos convidar à reflexão – o segundo livro lançado pelo Memorial no mesmo evento. A obra – Liberdade de expressão – direito à informação nas sociedades latinoamericanas – é o produto acabado do seminário organizado em março deste ano pela cátedra Unesco-Memorial da América Latina.
A pesquisadora da USP, Cremilda Medina, organizou o livro, que reproduz na íntegra os conteúdos das palestras de acadêmicos e jornalistas – dois deles vindos do exterior: Demétrio Magnoli, Pedro Ortiz, José Maria Mayrink, Alberto Dines, Eugênio Bucci, Adrián Padilla (Venezuela) e Dario Pignotti (Argentina).
Um pouco de tudo o que está contido nas 157 páginas da obra foi sintetizado por Cremilda Medina, que logo chamou para a palestra/debate o jornalista e cientista político Demétrio Magnoli. Polêmico, língua afiada, Magnoli fez resumida abordagem do que chama de “terrorismo midiático” – tema de sua participação no seminário. “Terrorista midiático é aquele que diz que não existe liberdade de imprensa em Cuba” – exemplificou.
Uma sucinta análise do cenário atual da liberdade de expressão em países da América Latina e Magnoli critica a iniciativa de se criar uma agência Latinoamericana de Informação. Isso, diz, é uma invenção que só serve aos interesses dos governantes.
Da mesma forma, não concorda com o uso que, segundo ele, se faz indevidamente do termo mídia como sinônimo de imprensa. Terrorismo e mídia, observa Magnoli, são termos que se confundiram na cobertura jornalística depois dos ataques de 11 de setembro em Nova Iorque. E para finalizar, mirou no próprio quintal quando disse que o papel da imprensa deve ser apenas o de criticar, jamais elogiar ou enaltecer fatos positivos, especialmente se originados do poder público.
Texto: Daniel Pereira
Fotos: Daniela Agostini