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João Batista de Andrade
Todas as homenagens que se fizerem a Gabriel García Márquez ainda não serão suficientes para transmitir às gerações futuras a importância do seu legado como escritor e o quanto sua obra influenciou o cinema. Esse é o reconhecimento que leva o Memorial da América Latina a inaugurar, no pavilhão da Criatividade, o Espaço Gabriel García Márquez – Gabo.
Um grande escritor, como ele, fecunda a língua como a chuva irriga a terra. Mesmo que não esteja fisicamente entre nós, sua obra e seu exemplo continuam aqui para iluminar nossas vidas. Essa é a razão que nos leva a homenagear o autor de Cem Anos de Solidão, obra referencial da literatura latino-americana que deu a García Márquez, entre tantos outros, o Prêmio Nobel de Literatura de 1982.
A ausência de Gabo, velho companheiro de viagem do Memorial da América Latina, já era sentida por todos nós. Nas nossas lembranças, foi “ainda ontem” que teve início a relação entre o Memorial e o criador de Macondo, a cidade-sede do realismo mágico de García Márquez. Para ser exato, foi em 1990 que ele nos presenteou com o artigo intitulado “A solidão da América Latina”.
Era o discurso feito por ele em 8 de dezembro de 1982, ao receber da Academia Real Sueca o Prêmio Nobel de Literatura daquele ano. O texto é um grito de liberdade em nome dos povos latino-americanos, como se pode deduzir por este breve excerto: “A América Latina não quer nem tem porque ser um peão sem rumo ou decisão, nem tem nada de quimérico que seus desígnios de independência e originalidade se convertam em uma aspiração ocidental”.
De lá, até 2007, García Márquez frequentou habitualmente as páginas da Revista Nossa América, onde assinou vários artigos e reportagens como escritor e jornalista que também era. E o cineasta Gabriel García Márquez? Autodidata como escritor, era tão apaixonado pelo cinema que foi aprender em Roma, um dos mais importantes centros de formação da sua época. Depois, fundou a Escola Internacional de Cinema e Televisão em Santo Antonio de los Baños, em Cuba, para acolher jovens, principalmente do Terceiro Mundo, que não tinham oportunidade de estudar fora de seus países. De sua obra literária, mais de 20 títulos foram adaptados para as telas, entre os quais, quatro dirigidos pelo brasileiro Ruy Guerra, velho amigo.
Esse é apenas o sumário, à guisa de justificativa óbvia, que leva o Memorial da América Latina a associar em definitivo o nome de Gabriel García Márquez à instituição que ele tanto prestigiou. Para que o nome do escritor e o roteiro de resistência da sua literatura fiquem impregnados no imaginário de brasileiros e latino-americanos é que surge o Espaço Gabriel García Márquez – Gabo.
João Batista de Andrade é cineasta, escritor e presidente do Memorial da América Latina.