Artista israelense apresenta sua obra plástica para não esquecer o holocausto e os horrores das ditaduras latino-americanas e dos bombardeios das potências ocidentais
Confira entrevista de Gershon Knispel no Jornal das Dez, da Globo News em de outubro
O artista israelense Gershon Knispel e o crítico de arte e museólogo Fábio Magalhães, ex-curador do MASP, dão palestras no âmbito da mostra
“Testemunhos – Gershon Knispel”, na Galeria Marta Traba, do Memorial da América Latina, na quinta-feira, 21 de novembro, às 19h. Os presentes poderão fazer uma visita à exposição guiados pelo próprio artista. Na ocasião, também será lançado o livro-catálogo “Testemunhos – Gershon Knispel” (Memorial, SP, 2013), com textos de Fábio Magalhães, do jornalista e escritor Eduardo Rascov e do historiador de arte israelense Gideon Ofrat.
Juca de Oliveira e Knispel (de óculos) à frente dos atores de “Mandrágora”, na Galeria Ambiente, em 1963. Na ocasião, o elenco do Teatro de Arena leu o poema “Cruzada das Crianças 1939”, de Bertolt Brecht.
O ator e dramaturgo Juca de Oliveira declamará o poema “Cruzada das Crianças 1939”, de Bertolt Brecht, cuja edição brasileira foi ilustrada por Knispel. Em 22 de novembro de 1963, há exatos 50 anos, os atores do Teatro de Arena, dirigidos por Augusto Boal e tendo Juca de Oliveira à frente, leram o mesmo poema, na Galeria Ambiente, em São Paulo. Na ocasião, foi lançada a edição da Editora Brasiliense da “Cruzada das Crianças 1939”.
Juca de Oliveira vive um momento especial em sua carreira: no próximo dia 28 de novembro, às 19h, tomará posse da cadeira nº 8 da Academia Paulista de Letras, por suas peças Meno Male, Caixa Dois e Às Favas com os Escrúpulos, entre outras, que revelaram um autor arguto, crítico implacável das mazelas da política miúda brasileira. Ele também está filmando uma minissérie para a Rede Globo e preparando uma peça para o ano que vem.
Visitas
O artista plástico israelense Gershon Knispel recebeu a visita do cineasta Walter Salles na sexta, 25 de outubro de 2013, no ambiente da sua exposição, “Testemunhos – Gershon Knispel”, na Galeria Marta Traba, deste Memorial. O diretor de “Diários da Motocicleta”, entre outros filmes, estava acompanhado de Ana Chã, militante do MST – Movimento dos Sem Terra. No dia seguinte, ele voaria para China, para tratar de um novo filme.
“Testemunhos – Gershon Knispel” também foi visitada por uma comitiva do Movimento dos Sem Terra. Capitaneada por João Pedro Stédile, ela era formada por cinquenta jovens militantes latino-americanos, provenientes de vinte países. Cubanos, argentinos, paraguaios, peruanos, brasileiros, equatorianos, venezuelanos, colombianos, chilenos, uruguaios e mexicanos, entre outros, eles estavam em São Paulo fazendo um curso de formação política na escola mantida pelo MST em Guararema, interior de São Paulo.
A exposição “Testemunhos – Gershon Knispel” é um eloquente – e belo – grito contra as piores atrocidades cometidas pelo ser humano. O artista é
um dos fundadores do movimento realista do então jovem estado de Israel, nos anos 50. Entre outras obras importantes, a Galeria Marta Traba recebe seus painéis de grandes proporções com pinturas a óleo que falam do drama vivido pelas vítimas do regime nazista, das ditaduras militares brasileira e chilena e dos bombardeios ocidentais sobre grandes cidades, como Belgrado, Beirute e Bagdá.
Fábio Magalhães, curador da mostra, ressalta as qualidades de Gershon Knispel: “Desenhista, gravador, pintor, muralista e escultor, impressionam a linguagem vigorosa de sua expressão plástica, a contundência no tratamento dos temas e a sólida construção do espaço compositivo que estrutura a representação dramática da figura. Mesmo nos trabalhos de pequeno formato, sentimos a monumentalidade de sua plástica.”
O visitante da Galeria Marta Traba encontrará a série de painéis intitulada “Labirinto”, na qual é retratada os horrores do holocausto; as pinturas a
Nina Vaisman, João Batista de Andrade, Ângela Barbour, Fábio Magalhães, Gershon Knispel e David Weitman
óleo “Operação Condor”, em que a figura de Vladimir Herzog aparece em um protesto conta a ditadura brasileira, do qual fazem parte personagens da nossa cultura, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gianfrancesco Guarnieri, Juca de Oliveira e Augusto Boal; as gravuras que ilustraram a histórica publicação do poema “Cruzada das Crianças 1939”, a pedido do autor, Bertolt Brecht; os quadros que inspiraram um belo poema (também exposto) de Haroldo de Campos sobre os bombardeios israelense (sobre Beirute), americano (sobre Bagdá) e da Otan (sobre Belgrado, antiga capital da Iugoslávia e da atual Sérvia), entre muitas outras pinturas e gravuras com comovente denúncia social.
Segundo Fábio Magalhães, “os painéis foram construídos a partir de cenas reais, muitas delas provenientes de matrizes fotográficas, inclusive retiradas de jornais. Os temas se desenvolvem através de várias camadas de cor, linhas e planos sobrepostos que constroem e articulam as figuras, num embate formal entre ordem (geometria) e desordem (gestualidade), o que intensifica o caráter dramático das cenas”.
Knispel é homenageado pelos latino-americanos que estudam formação política na escola do MST
Gershon Knispel é um artista plástico nascido na cidade de Colônia, Alemanha, em 1932. Aos três anos migrou com a família para a Palestina, então um protetorado britânico. Iniciou sua carreira artística no estado de Israel, mas em dois momentos ao longo da sua vida se transferiu para o Brasil. Em 1958, quando ganhou o concurso da TV Tupi para fazer uma obra na fachada da sua torre, no Sumaré, em São Paulo. Permaneceu no Brasil até 1964. Nesse período travou contato e amizade com importantes figuras da cena cultural brasileira, como Oscar Niemeyer, Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, Juca de Oliveira, entre outros (com todos os mencionados desenvolveu trabalhos, seja de ilustração, cenários ou arquitetura). Com o golpe militar teve que deixar o país por ser militante do Partido Comunista.
Assim como fazia antes no Brasil, novamente em Israel Gershon Knispel desenvolveu uma intensa atividade como executor de importantes
monumentos públicos, também presidiu a associação nacional de artistas israelenses e se tornou conselheiro de artes do município de Haifa. Em 1995, dez anos após a redemocratização do Brasil, Knispel voltou a morar entre nós. E continuou sua saga artística das mais produtivas e interessantes da contemporaneidade. Como disse Fábio Magalhães, “Gershon Knispel é cidadão do mundo — israelense e brasileiro. Homem doce, afável, generoso e pacifista; mas, ao contrário da fruta do cacto, o artista produz em seu interior uma arte cheia de espinhos, porque sua poética espelha o mundo.”
Serviço
Testemunhos – Gershon Knispel
Palestra de Gershon Knispel e Fábio Magalhães
21 de novembro, quinta-feira, 19h
Galeria Marta Traba
Exposição Testemunhos – Gershon Knispel
21 de outubro de 2013 a 15 de dezembro de 2013
Galeria Marta Traba
Terça a domingo, das 9h às 18h
ENTRADA FRANCA
