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“Considero relevante e indispensável para a preservação da identidade do Memorial da América Latina privilegiar a presença dos povos indígenas, espalhados em todo o continente latino-americano, lembrada por Darcy Ribeiro no programa de fundação desse centro cultural.
A extinção maciça e continuada desses povos bem como sua rica e diversificada produção cultural estão sendo registradas agora por Maria Bonomi – uma das artistas pioneiras do Memorial – por meio de painéis interativos e indicadores do processo de formação do nosso continente.
Maria Bonomi vem realizando esse trabalho com a mesma intenção com que foi criado o Memorial – a da integração continental. Assim, com a participação coletiva de diversos artistas latino-americanos, criou nos espaços do próprio Memorial um ateliê vivo destinado à instalação de arte pública, o que marcará o acesso principal, restaurando e legitimando as funções que concebi quando o projetei.”
Oscar Niemeyer. Rio de Janeiro, 12 de abril, 2006.
A declaração acima do mais importante arquiteto vivo do mundo foi impressa numa placa de metal e está fixada na galeria do portão 1 do Memorial. Ela anuncia a grande obra pública que está sendo concluída pela artista plástica e gravadora Maria Bonomi. A primeira fase do trabalho da equipe de Bonomi foi realizada no próprio Memorial, em um espaço da Galeria Marta Traba transformado em ateliê. Foram então esculpidos na argila os moldes, conforme pode-se notar nas fotos.
Com efeito, o complexo de civilizações de Pindorama está inspirando essa que é uma das grandes realizadoras atuais – Maria Bonomi – a criar uma obra de arte pública que almeja vencer o tempo e dar permanência à cultura dos primeiros povos desta parte da América Latina. Com sua equipe, ela está construindo uma série de painéis com obras em relevo que recontam plasticamente a história dos indígenas brasileiros. Eles serão montados na galeria (portão 1) que dá acesso ao Memorial, na saída da estação Barra Funda do Metrô.
Etnias
É muito difícil atualmente olhar para trás e determinar a população total que habitava, há 500 anos, o território que corresponde ao Brasil de hoje. Alguns dizem que, quando os primeiros europeus desembarcaram em Pindorama, éramos em 20 milhões. Outros especialistas calculam em 4 milhões de pessoas, divididas em centenas, talvez milhares de etnias. Não importa. São diferentes línguas, visões de mundo, arte, medicina, gastronomia, religião, enfim, culturas complexas, patrimônio da humanidade que aos poucos vai se modificando ou está se perdendo.
Constituída por painéis em paralelo, a obra, que se chamará Etnias, terá 30 metros de comprimento. Para atravessá-la, o passante quase que roçará elementos das culturas indígenas conforme eles foram capturados pelo imaginário ocidental. Orientada por Cláudia Andujar, fotógrafa que viveu 20 anos com os Yanomani, Bonomi mergulhou nos livros de autores como Darcy Ribeiro e os irmãos Villas Boas, entre outros, e na iconografia que vem desde Debret, Rugendas e os demais viajantes europeus, que nos visitaram nos séculos passados, até os recentes, e belíssimos, catálogos da mostra Redescobrimento.
Tal qual uma linha do tempo, ela dividiu o percurso de Etnias em três fases. O primeiro, “arqueológico”, é feito totalmente em barro; o segundo, já abordando o primado da técnica, é feito em bronze; e o terceiro, em alumínio, pois esse material, segundo Bonomi, remete aos tempos atuais. Na verdade, a matéria plástica trabalhada por Maria Bonomi é o tempo. Assim é que há 17 anos construiu no próprio Memorial um outro painel em relevo denominado Futura Memória e recentemente fez para a Estação da Luz a Epopéia Paulista.
Projeto Etnias
Criação e curadoria: Maria Bonomi
Arte e educação: Regina Barros
Pesquisa e consultoria antropológica: Cláudia Andujar e Cildo Oliveira.
Fotografia e assistente de criação: Carlos Pedreañez
Arquitetura e montagem: Rodrigo Velasco
Artista convidado: Leonardo Ceolin
Cerâmicas: Antônio de Nóbrega e Adolfo Morales