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Foi encerrado, no dia 28 de março, o III Encontro Internacional sobre Acesso à Informação e Promoção de Serviços Bibliotecários em Comunidades Indígenas da América Latina, que integrou o IV Congresso Latino-americano de Biblioteconomia e Documentação. Ambos aconteceram no Memorial da América Latina e reuniram profissionais do Brasil, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, El Salvador, Panamá, Argentina, Paraguai, Espanha e Canadá, entre outros países.
Durante o evento, foram discutidas as experiências de implantação de bibliotecas ou serviços bibliotecários indígenas em todos os países. A conclusão a que se chegou é que, apesar destes esforços, ainda há muito o que ser feito, pois, em geral, os povos indígenas não têm acesso aos serviços básicos, incluindo aí as bibliotecas. Por outro lado, as bibliotecas são consideradas uma alavanca para o desenvolvimento destas sociedades, de modo que é preciso estimular a criação de bibliotecas e a formação de profissionais nas próprias aldeias ou cidades, no caso de índios urbanos.
O encerramento contou com uma empolgante fala do vice-ministro da Cultura don Equador, Ariruma Kawii, que falou sobre o doloroso processo de colonização e a resistência dos povos indígenas, que, mesmo passando pela aculturação imposta pelos espanhóis e portugueses, conseguiram preservar muito de sua língua, sua cultura.
Kawwi comentou sobre o processo de colonização, quando os índios passaram por processos de anulação de sua memória. Os nomes dos lugares e seus próprios nomes foram trocados por outros, em outro idioma, num processo violento de submissão psicológica. “Uma palavra é como um projétil, pode causar muitos danos a uma sociedade”, disse.
O vice-ministro falou da dificuldade para reverter este processo e recuperar a auto-estima, a língua e a cultura dos povos locais. “Se as línguas indígenas não desapareceram com tudo isso, é sinal de que temos uma fortaleza”, comemorou. “Os índios tiveram que se despojar de sua língua, suas terras, seus deuses…”.
Em seguida, o peruano César Castro, gerente da Comitê Latino-Americano da IFLA e relator do encontro fez um balanço geral dos quatro dias de congresso. “Interculturalidade é respeito”, disse Castro, completando que as bibliotecas tem um valor importante não só para o desenvolvimento dos povos como para a revitalização das línguas nativas.
Foram traçadas diretrizes que, respeitando a diversidade do local onde estão implantadas, as bibliotecas indígenas devem ter: interculturalidade, bilingüismo e ser específica e, ao mesmo tempo, diversificada. O destaque para a oralidade, já que muitas destas línguas nunca foram escritas, também deve ser observado. “As línguas indígenas são um bem intangível e as bibliotecas devem ter isso como lema”, disse.
Entre outras propostas, ficou acertado que se formará um grupo que fará um trabalho contínuo e permanente com foco na questão indígena.
Para finalizar a sessão, o presidente do Memorial, Fernando Leça, falou que aceita a proposta que César Castro havia feito no dia anterior de comemorar os 20 anos do escritório da IFLA na América Latina e Caribe com uma exposição, na Biblioteca do Memorial, reunindo todo o material bibliográfico existente em línguas indígenas de todos os países. A exposição se chamará “Todas as Letras da América” e, numa feliz coincidência, se dará no mesmo ano em que o Memorial também comemora os seus 20 anos.