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São Paulo, 26 de março de 2009.
“Crise Econômica Mundial: Impactos na América Latina” foi o tema do seminário que reuniu economistas, embaixadores e intelectuais na tarde do dia 25 de março, na Biblioteca Latino-Americana Victor Civita, no Memorial da América Latina.
O embaixador Rubens Barbosa abriu a primeira mesa, sobre “A Crise e As Relações Exteriores na América Latina”, afirmando que ainda não chegamos ao pior da crise, o pior ainda está por vir. Barbosa disse que o impacto nos países em desenvolvimento, sobretudo na Europa Oriental e na América Latina, será grande. O pior problema para os países latino-americanos, segundo ele, é a dependência de recursos externos. Ele acha que a solução para os latino-americanos é reduzir tarifas e aprofundar os acordos regionais que já estão em vigor.
O embaixador arriscou fazer previsões de médio prazo: “Daqui a 10, 15 anos o mercado brasileiro será a grande solução para os países da região (não vai ser Europa nem EUA)”. A outra tendência, diz ele, é o crescente hiato entre o Brasil e o crescimento da região. Ele acha que o Brasil se descolará e o Mercosul e outros acordos regionais serão pequenos para o país.
O economista Carlos Antônio Luque começou explicando as origens da crise, com o mercado hipotecário dos EUA e se alastrou para o mercado real. Depois ele parou para o caso específico do Brasil na crise, disse que o país tem bases macroeconômicas mais consolidadas.
O embaixador Carlos Henrique Cardim, que tem formação em sociologia, frisou a importância da integração regional neste momento e aproveitou para falar do que representa o Memorial da América Latina, que completou 20 anos, no campo da integração cultural.
O coordenador da mesa, Celso Lafer, presidente da Fapesp, aproveitou para citar uma frase do filósofo político italiano Norberto Bobbio: “A cultura une e a política divide”. E afirmou que o trabalho do Memorial é uma contribuição para a diminuição das tensões e o entendimento.
Já o embaixador Rubens Ricupero, que falou na segunda mesa, sobre “A economia Latino-Americana e a Crise Mundial” admite que as montanhas de dinheiro jogadas no sistema pelos principais países da economia mundial deve levar a uma recuperação mais cedo ou mais tarde, que pode ser no final deste ano ou princípio do ano que vem. Mas ressaltou que não é previsão, mas profissão de fé, ele gostaria que isso acontecesse.
Quanto à América Latina e Caribe, seus 34 países sempre acompanharam de perto as fases cíclicas de expansão ou contração da economia mundial, isso porque suas economias estão muito ligadas à dos EUA, principal economia do mundo.
Desta feita, com a crise de 2009, podemos dizer que a América Latina não é a geradora da crise, mas a vítima. Ela não tem problemas estruturais como os EUA, por exemplo, cujo setor financeiro está comprometido e muito se discute se seu destino não será a falência, mesmo com toda ajuda financeira do governo. Já a América Latina e Caribe tem sistema bancário sólido. Outros setores que enfrentam problemas estruturais nos EUA e aqui não são o automobilístico e o siderúrgico.
Ricupero ainda discorreu sobre o período de prosperidade sem precedentes na região – 2003 a 2008, quando a economia cresceu em média 5% ao ano e o que é mais importante e inédito: 3% per capita (devido à queda da taxa de natalidade).
Falaram ainda os economistas Ruy Martins Altenfelder Silva (FIESP e CIEE), Andréa Calabi (PhD Berkeley) e Sedi Hirano e Ruy Corrêa Altafim (USP).
Por Paloma Varón
Fotos: Fábio Pagan