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O documentário “Vlado 30 Anos Depois” reabre o Cineclube Vladimir Herzog, no Sindicado dos Jornalistas de São Paulo, nesta terça, 24 de novembro, às 19h. O filme de João Batista de Andrade, atual presidente da Fundação Memorial da América Latina, conta a trajetória do jornalista assassinado pela ditadura, em 1975, principalmente por meio de depoimentos de colegas, amigos e familiares. É antes de tudo uma homenagem ao amigo perdido. Após a exibição, haverá um debate com a presença do diretor.
Nos anos 70 e 80 havia um combativo cineclube funcionando no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. O jornalista e escritor Audálio Dantas conta que estava à frente do sindicato quando houve uma ameaça de bomba numa sessão de domingo, para crianças. “Lembro-me que o Romeu Tuma, chefão do DOPS, mandou perguntar se queríamos proteção policial. Mais do que depressa, eu disse que não!”
Ninguém esquece a atuação precisa, corajosa e dentro da lei de Audálio Dantas nas horas posteriores ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975. Como presidente do Sindicato dos Jornalistas, uma instituição legal da sociedade amordaçada de então, Audálio encontrou o tom certo para resistir sem provocar, desmoralizar o agressor sem abrir a guarda para nova investida.
O Brasil entrava em ebulição naquela época e o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo não ficava atrás. “Naquele tempo havia muitas atividades por lá, funcionavam departamentos de fotografias, quadrinhos, se fundou o Clube do Choro…”, recorda Audálio.
O auditório do sindicato, hoje também batizado de Vladimir Herzog, ficava lotado. Era um espaço de lutas democráticas. As exibições de filmes russos, por exemplo, atraíam muita gente. Sem medo de errar, pode-se afirmar que o cineclube do sindicato dos jornalistas teve papel importante na abertura política e redemocratização do país.
No entanto, esse papel central do sindicato dos jornalistas refluiu com a abertura política. É o que conta o jornalista João Luiz de Brito Neto, cineclubista ativo e antigo dirigente da Federação Paulista de Cineclubes, que hoje participa do Cineclube Vladimir Herzog. “Na virada dos anos 70 para os 80, muitos membros do cineclube se lançaram na vida política propriamente dita – na fundação de partidos, sindicatos, centrais sindicais e organizações de luta. O cineclube foi ficando de lado.”
Sempre houve, porém, a vontade de reativar o cineclube. Brito Neto foi um dos que tomou a iniciativa. “Desta vez, seremos um coletivo aberto, sem diretoria ou presidente. Hoje somos quase anarquistas”, diz, brincando. O novo Cineclube Vladimir Herzog se utiliza de trabalho voluntário, sem perder a qualidade profissional. Os filmes serão projetados no padrão 16 x 9, numa tela de 1,40 m de altura por 2,20 m de largura. A ideia é trazer filmes raros ou que suscitem uma discussão contemporânea. A próxima exibição será em 8 de dezembro, com um documentário sobre Carlos Maringhela.
Com a primazia contemporânea do audiovisual em diversas plataformas (cinema, televisão aberta e a cabo, computador, tabletes, celular) o papel do cineclube tem que ser repensado. Já não é mais aquele lugar onde as pessoas iam assistir filmes raros, de lugares distantes. Hoje ele quer reunir coletivos, grupos pensantes e ativos da sociedade para, a partir das projeções e das discussões, não só criticar a realidade como principalmente iniciar ações concretas em defesa do Estado de Direito, do Estado Democrático e pela justiça social.
Por Eduardo Rascov
Serviço
“Vlado 30 Anos Depois”
projeção do filme de João Batista de Andrade, seguida de debate com a presença do cineasta
terça, 24 de novembro, às 19h
Auditório Vladimir Herzog/ Sindicato dos Jornalistas de São Paulo
Rua Rego Freitas, 530, sobreloja
São Paulo Centro
Grátis