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Um dia antes de partir para Bruxelas, na Bélgica, onde inaugura no próximo dia 29 de maio uma exposição de gravuras, a artista plástica Maria Bonomi, 72 anos, participou da 6ª Semana de Museus, nessa sexta-feira, 16. Ela guiou os visitantes pelo painel “Etnias – Do Primeiro e Sempre Brasil”, de sua autoria, situado na passagem de nível logo após o portão 1 do Memorial da América Latina.
A instalação, localizada na passagem subterrânea que liga o metrô ao conjunto arquitetônico de Niemeyer, foi inaugurada no início deste ano e retrata a cultura e a situação indígena no território brasileiro desde antes da “invasão” portuguesa até os dias de hoje.
É uma obra coletiva. Para a execução desse projeto, Maria Bonomi instalou um ateliê no subsolo da Galeria Marta Traba do Memorial, onde foram utilizadas mais de 10 toneladas de matéria-prima, trabalhada por mais de 30 artistas nacionais e internacionais além de índios da Aldeia Krukutu, em Parelheiros, São Paulo.
Bonomi acompanhou os participantes por entre os painéis e totens, conceitualizando seu trabalho. Explicou que a obra, apesar de carregar traços expressionistas e simbólicos, tem caráter didático e segue uma ordem cronológica: “O resultado serve de fonte para estudantes e historiadores, a idéia é proporcionar conhecimento por meio de um trabalho artístico”, diz Bonomi.
A artista dividiu o percurso em três fases. A primeira, “arqueológica”, é feita totalmente em barro e retrata a origem, os costumes indígenas pré-colonização, a mata, as cavernas, as pinturas rupestres, os instrumentos rituais, as armas, os animais e as primeiras habitações. A segunda, já aborda o primado da técnica, é cunhada em bronze e mostra a mudança social que resultou da chegada dos portugueses – nos painéis vemos as caravelas, as armas de fogo, os sinos, as fortalezas, as missões.
A terceira fase, por sua vez, foi feita em alumínio, pois esse material, segundo Bonomi, remete ao atual estágio civilizatório, no qual a presença indígena sobrevive a duras penas. Para ilustrar a contemporaneidade, a cena escolhida foi a construção de Brasília. “Os livros não contam, mas quem construiu Brasília foram os índios! Eu estive lá na inauguração e pude conferir com os próprios olhos”, relata a artista.
Mais do que uma experiência contemplativa, os visitantes puderam se integrar à obra ao passar por entre as placas maciças e por meio dos jogos de espelhos. As séries de “fotogramas” gigantes e penetráveis formam uma espécie de “espetáculo” em alto e baixo relevo. O corredor de entrada do Memorial se transforma assim num espaço interativo, no qual o público se integra fisicamente com a História.
Por Gabriela Mainardi
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fotos por Fábio Pagan