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Marianne Peretti escolheu o Memorial da América Latina para ser entrevistada pelo Arte 1, canal de televisão a cabo dedicado às várias linguagens artísticas. A artista francesa de 87 anos mora atualmente em Olinda, Pernambuco, mas estava em São Paulo para o lançamento do livro “Marianne Peretti – A Ousadia da Invenção”, uma parceria das Edições Sesc-SP e a B52 Desenvolvimento Cultural. O lançamento foi em 30 de setembro, no Sesc Pompéia. A obra já havia sido lançada na França e no Recife.
Na manhã de 1º de outubro Marianne Peretti veio à biblioteca do Memorial para conversar com a televisão. Após muitos anos, ela pode rever ali a sua “América Latina”, escultura em ondas de vidro criada por ela a pedido de Oscar Niemeyer (foto na primeira página deste site). Na época, assim se referia ao seu trabalho: “é um grande desenho, sinuoso, branco, leitoso, contrastando com a transparência do vidro. Seu ritmo o leva a uma roda gigante e a pequenas formas, também transparentes… o olho contempla o painel, o absorve atravessando a sala como uma luz. Os limites do painel são presentes, mas tão fluídos, quase irreais”.
O livro contém depoimentos da própria artista, fotos e croquis de suas obras – entre murais, vitrais
e esculturas – e análises de estudiosos e personalidades, assim como cartas e depoimentos inéditos de Oscar Niemeyer e do arquiteto e urbanista Lúcio Costa.
Filha de pai pernambucano e mãe francesa, ela nasceu em Paris, viveu a juventude lá, onde iniciou sua carreira artística. Consta que na sua primeira exposição teve a visita ilustre de Salvador Dali… Mas na entrevista, Marianne Peretti comentou que se considera mais brasileira do que francesa, contou um pouco de sua trajetória e falou sobre sua relação com Oscar Niemeyer. Sobre a dificuldade do reconhecimento, ela diz que sempre teve muito que mostrar como artista, “mas às vezes é difícil por vivermos num país machista”.
Brasília é a cidade que recebe grandes obras da artista. Uma delas é Catedral Nossa Senhora Aparecida, em Brasília, que realizou juntamente com Oscar Niemeyer, sendo a única mulher na equipe. “Trabalhar com Niemeyer foi uma experiência ótima, pois ele me deixava à vontade.” Para Oscar Niemeyer também foi marcante: “Vou dizer como me emocionava vê-la durante meses debruçada a desenhar os vitrais da Catedral de Brasília. Eram centenas de folhas de papel vegetal que, coladas, representavam um gomo da Catedral. Um trabalho que diria corresponder aos velhos tempos do Renascimento quando, apoiados pelos príncipes daquela época, os pintores e escultores executavam obras extraordinárias. Não acredito que naqueles velhos tempos um vitral de tal vulto tenha sido realizado”.
No final, após as entrevistas e muitas fotos, Marianne Peretti visitou sua outra obra pertencente ao
acervo do Memorial. Denominada “Amazonia”, é uma escultura em bronze que atualmente se encontra no saguão do prédio da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência e foi criada originalmente para o Parlamento Latino-Americano que ali funcionava. Marienne Peretti então soube que sua escultura se encontra em lugar privilegiado do Memorial da Inclusão e, por isso, é “vista” (apalpada) pelos deficientes visuais que visitam a instituição. Um privilégio para todo escultor.
Texto: Eduardo Rascov e Diego Souza Carlos
Fotos: Diego Souza Carlos