/governosp
O Memorial da América Latina promove uma homenagem a Henry Sobel, um dos grandes defensores dos direitos humanos no Brasil durante a ditadura militar. O evento é uma iniciativa conjunta do Instituto Vladimir Herzog, Congregação Israelita Paulista e Comissão Nacional de Diálogo Religioso Católico-Judaico-DCJ e contará com a apresentação do coral Comunidade Luther King. A homenagem se dá no Auditório Simón Bolívar, no próximo dia 31 de outubro, das 19h às 23h, com entrada franca.
Sobel foi presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista (CIP) durante 20 anos. Em 1975, na fase mais repressiva do regime, Sobel recusou-se a enterrar o jornalista Wladimir Herzog na ala dos suicidas do cemitério israelita, por rejeitar a versão oficial acerca das circunstâncias da morte do jornalista. De fato, Herzog havia sido torturado até a morte no Doi-Codi, nas dependências do quartel-general do II Exército.
Em 31 de Outubro do mesmo ano, apesar da opinião pública brasileira continuar amordaçada e a imprensa censurada pela polícia, uma multidão de mais de oito mil pessoas lideradas por D. Paulo Evaristo Arns, o reverendo James Wright e Sobel se reuniu na Catedral de São Paulo e em seus arredores para um culto inter-religioso pela alma de Vladimir Herzog. Foi um marco histórico, um corajoso brado de solidariedade, dor e revolta que se espalhou pelo país e tornou-se um marco na democratização brasileira.
Como líder da Congregação Israelita Paulista, Sobel foi um notável porta-voz da comunidade judaica no Brasil e estabeleceu uma ponte entre as religiões cristãs e o judaísmo, participando de inúmeros cultos e eventos ecumênicos. Nascido em Lisboa em 1944, Henry Isaak Sobel foi criado nos EUA. Há 37 anos foi enviado a São Paulo como rabino da CIP, de onde saiu em 2007. Em recente entrevista para o jornal O Estado de São Paulo, o rabino anunciou que está deixando o Brasil. Vai morar na Flórida, com a mulher e a filha. Também falou palavras tocantes sobre o perdão:
“É bom ser perdoado. Quando eu era menino, sempre que cometia um erro, podia contar com a compreensão, a ternura e o perdão dos meus pais. Lembro da sensação de ter um peso tirado do coração, uma gostosa certeza de ser aceito. (…) Quando cresci, foi a minha vez de conceder perdão aos meus pais pelos seus erros e fraquezas, fossem reais ou fruto da minha imaginação. Compreender nossos pais, e perdoá-los por serem menos perfeitos do que gostaríamos, é natural no processo de amadurecimento. Lembro das críticas se abrandando, os ressentimentos se dissolvendo, a consciência do afeto libertando a alma. É bom perdoar’. E é muito bom perdoar a si próprio” (Estadão, 8 de agosto de 2013).