/governosp
A Casa Fernando Pessoa, de Lisboa, promoveu neste segundo semestre de 2011 a exposição “a João Guimarães Rosa” – Fotografias de Maureen Bisilliat. Trata-se de ensaio de 1966 clicado por Maureen Bisilliat em torno do universo inspirador da criação literária do escritor brasileiro João Guimarães Rosa. A exposição depois segue para outras capitais europeias, levadas pelo Instituto Moreira Salles, guardião da coleção de 16 mil negativos da fotógrafa.
Maureen Bisilliat é uma das fundadoras do Memorial da América Latina, com quem mantinha relação formal de trabalho até o ano passado. Aos 80 anos, a fotógrafa, documentarista e editora tem tido a sua obra reavaliada. Nascida em uma cidade inglesa, de mãe irlandesa e pai argentino, Maureen teve uma formação peculiar, pois, por ser filha de diplomata, estudou em países e línguas diferentes: inglês, alemão, francês e espanhol.
Mas foi com o Brasil – e o idioma português – que Maureen manteve um caso de amor intenso, que a levou a se emprenhar nos meandros dos grandes estilistas da língua: além de Rosa, João Cabral de Melo Neto, Euclides da Cunha, Jorge Amado, Adélia Prato, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade. Leitora voraz, não se conteve em apenas fluir a literatura, teve que criar a partir dela. Maureen desenvolveu o que ela chama de “correspondências” entre o livro e a foto. Atenção, não trata-se de “ilustração”, nem de “releitura”, mas sim a produção original de uma artista que se deixou impregnar pela obra de quem admira.
Curiosamente, a andarilha não conhecia Portugal. Esteve lá a primeira vez para montar essa exposição. Ela conta suas primeiras impressões do país que originou a língua que ela tanto ama em uma longa entrevista concedida ao programa Câmara Clara, da Rádio e Televisão Portuguesa. O carinho com que a emissora se relacionou com a artista pode ser percebido nas palavras abaixo, que introduzem a página sobre Maureen no site da RTP.
“Uma fotógrafa globetrotter, uma beatnik de 80 anos. Apresentamos-lhe Maureen Bisilliat, a artista inglesa que se fixou no Brasil, em São Paulo, há 50 anos, e que vem pela primeira vez a Lisboa com uma exposição a convite da Casa Fernando Pessoa. Neste encontro com a consagrada Maureen Bisilliat trazemos-lhe também alguns dos maiores escritores da língua portuguesa nascidos do lado de lá do Atlântico: João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, etc, etc. É que Maureen fotografa a partir da obra destes autores. Eis um Câmara CLara que vai querer ver.”
A entrevista é abrangente e reveladora. Maureen conta desde episódios da sua infância europeia até sua aventura entre os índios do Xingu. E revela-se uma artista completa, madura, que reflete sobre o seu trabalho e sobre o seu tempo. Clique em Câmara Clara para assistir a entrevista.