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“Doenças negligenciadas” são aquelas cuja incidência é bastante comum nos países pobres e afetam principalmente as populações carentes em todo o mundo. Historicamente, elas não receberam muito investimento e não interessaram à industria farmacêutica multinacional. Nem as agências de fomento promoveram pesquisas suficientes, principalmente sobre as doenças tropicais. Uma outra designação para elas, mais amena, é “doenças emergentes”.
Mais ou menos essa foi a tônica dos debates e palestra que abriram oficialmente o curso de extensão da Cátedra Unesco Memorial da América Latina. Por que não temos vacinas contra doenças parasitárias? Por que no Brasil está praticamente erradicada a Doença de Chagas, por exemplo, mas na Bolívia e no Equador, não? Para o professor Manoel Barral Netto, especialista no assunto, ligado à Universidade Federal da Bahia, e atualmente diretor da área sobre o tema no CNPq, “no mínimo, podemos dizer que “doenças negligenciadas” são aquelas que têm menos atenção do que elas merecem. Publicamos agora um livro, pela Acadêmia Brasileira de Ciências, que expande ainda mais esse conceito, incluindo doenças ainda mais esquecidas, como as causadas pela mordida ou picada de animais peçonhentos, por exemplo”.
O professor explicou que o uso desta expressão, “doenças negligenciadas”, começou na década de oitenta, quando a Fundação Rockfeller lançou um programa mundial com esse nome. Na ocasião, ela incluiu a malária nas regiões tropicais, a doença de chagas, na America do Sul, a doença do sono na África, a tuberculose, a esquitossomose, a febre amarela, entre outras. A partir daí, elas ficaram conhecidas como “doenças negligenciadas”, cuja lista só foi aumentando. Se bem que, hoje, a rigor, não poderíamos mais falar em “doenças negligenciadas” no caso da malária e tuberculose. Historicamente, muito dinheiro foi aplicado em seu estudo.
“Vacinas e as doenças negligenciadas, sucessos, fracassos e suas causas” foi o tema da palestra do professor Manoel Barral Netto, que abriu o módulo “Doenças Negligenciadas na América Latina”, da Cátedra Unesco Memorial da América Latina. Especialista nessa questão o professor Barral foi convidado pelo catedrático Erney Camargo, que coordenará os estudos durante o semestre. Além deles, participaram da mesa de abertura Fernando Leça, presidente do Memorial, Adolfo José Melfi, coordenador geral da Cátedra Unesco Memorial da América Latina e Americo Fialdini Jr, da Fundação Conrado Wessel.
Americo Fialdini salientou que a escolha do tema foi muito feliz e que ele não tem dúvidas da contribuição para a melhora do país, que irá ser proporcionada pela Cátedra. O presidente do Memorial, Fernando Leça, ao dar as boas vindas aos participantes, recordou que a sugestão de se criar uma cátedra que vinculasse as três universidades públicas de São Paulo (USP, Unicamp e Unesp) foi dada pelo professor José Adolfo Melfi no próprio dia da sua posse, em 2005. Melfi era então reitor da USP e falava com propriedade. Hoje, seis anos depois, a Cátedra é uma realidade, ganhou a chancela da UNESCO e o professor Melfi é o seu coordenador.
Ministrado pelo Catedrático Prof. Dr. Erney Felício Plessmann de Camargo, esta edição do curso de extensão do 6º módulo da Cátedra Unesco Memorial tem a participação de importantes especialistas: os professores José Rodrigues Coura, Pedro Vasconcelos, Marcos Boulos, Pedro Vasconcelos, Luis Marcelo Camargo, Gilberto Fontes, Luis Fernando Aranha Camargo e João Carlos Pinto Dias.
O prof. Plessmann é um renomado parasitologista e protozoologista e seu trabalho com malária e evolução e filogenia de tripanosomatídeos se tornou referência. Seu currículo não poderia ser mais apropriado para ocupar a cátedra neste semestre: graduado em medicina pela Universidade de São Paulo, tem doutorado e livre docência também pela USP; é bolsista de Produtividade 1A CNPq desde 1976; Doutor Honoris Causa da Universidade Nacional de Inginiería do Peru; Professor Emérito do Instituto de Ciências Biomédicas da USP; Professor Emérito da Faculdade de Medicina da USP. É membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, da Academia Brasileira de Ciências, da Academia de Ciências do Terceiro Mundo (TWAS) e da Linnean Society of London. É comendador e Grã Cruz da Ordem do Mérito Científico do Brasil e Grã Cruz da Ordem do Ipiranga do Estado de São Paulo. É Presidente da Fundação Zerbini-Incor – SP e Coordenador Científico da Fundação Conrado Wessel. Foi Pró-reitor de Pesquisa da USP, Diretor do Instituto Butantan e Presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Fotos: Daniela Agostini