Quem entrar no Salão de Atos Tiradentes do Memorial da América Latina de 30 de setembro a 31 de outubro encontrará uma cidade dentro da cidade. As ruas e torres construídas em MDF, lixa e plástico por Rogério Gomes representam a origem da cidade de Maceió, no bairro do Jaraguá, e a passagem do tempo desde o século XIX, incluindo o desgaste natural e os descasos das autoridades.
Todas as ruas apontam e deixam ver as obras permanentes do Salão de Atos. Suas cores interagem com o que está exposto ali. “Quando estava preparando as obras para o Memorial, eu pensei em cada detalhe. Você pode notar que não tem nada em preto, cinza ou bege… Também não trabalhei em azul para não contrastar com o painel do Portinari”. A instalação “Espaço Reconstruído” pode ser tocada, até mesmo é possível sentar na Ágora da cidade imaginária de Rogério.
Essa integração com as obras do Memorial tem a ver com a idéia da integração entre a cidade real e a cidade imaginária, criada por cada um de nós. “Se você vai a algum lugar e me conta; e depois eu vou a esse mesmo lugar e te conto, provavelmente, você não reconhecerá aquele lugar que você me descreveu. Tudo tem a ver com a percepção pessoal de cada um”.
Conforme explica Rogério, assim como cada ponto de vista é diferente, cada uma das torres que compõe a cidade tem sua particularidade e poderia ser vista como uma refração delas sobre elas mesmas, em um jogo infinito de espelhos. Isso ativa as percepções sensoriais de cada um.
O artista é detalhista e meticuloso. No interior dos “prédios” de sua cidade, ele construiu uma riqueza de texturas e cores que Rogério relaciona ao fato de acreditar que “todo artista não está interessado apenas no que ele mostra, mas sim no que sua obra pode causar em alguém”. Rogério é pedagogo de formação, mas sempre se interessou por arte: “não estudei artes na universidade porque teria que vir para São Paulo ou para o Rio de Janeiro e na época era financeiramente inviável”.
Esta obra já tem mais de três anos de trabalho investido: “ela começou bem menor e já foi para outros lugares, mas só quando soube que viria para o Memorial é que ela tomou a proporção que tem hoje”. Sua obra reflete a grandeza da cidade e também a idéia de que pode haver várias cidades dentro de cada cidade e várias cidades dentro de cada um de nós.
Texto: Juliana Frutuoso
Fotos: Daniela Agostini