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São Paulo, 12 de março de 2009.
“O Cinema Novo é minha Garota de Ipanema”, brincou Cacá Diegues durante o debate entre cineastas e acadêmicos, na noite do dia 11 de março de 2009, na Biblioteca do Memorial. O diretor brasileiro foi convidado a discorrer sobre o Cinema Novo e lembrou do que Tom Jobim falava ao ser convidado para jantar na casa de amigos: “Tem piano na sua casa? Se me pedir para tocar Garota de Ipanema, eu vou embora!”.
O encontro antecedeu e serviu de preparação ao curso Cinema e Identidade na América Latina, organizado pelo Centro de Estudos da América Latina (CBEAL), que irá acontecer entre os meses de abril e junho, nas noites de quarta-feira, no Anexo dos Congressistas.
Diretores consagrados como Cacá Diegues (Bye Bye Brasil e Xica da Silva) e Thomaz Farkas (Certas Palavras com Chico Buarque) compuseram a mesa, ao lado do novato Philippe Barcinski, que lançou seu primeiro longa em 2007 (Não Por Acaso). Participaram também os professores Waldenyr Caldas e Rubens Machado, ambos da Escola de Comunicação e Artes da USP, sob mediação da jornalista Daniela Gillone.
A discussão abordou temas como a busca de identidade do cinema latino-americano, o Cinema Novo e sua retomada pela geração dos anos 90, as produções recentes e a continua luta pelo cinema autoral. O professor Rubens Machado abriu o debate arriscando um denominador comum para a produção cinematográfica do continente: o conflito cidade/campo e modernidade/atraso.
O sociólogo Waldenyr Caldas lembrou que o movimento iniciado na década de 60 servia como veículo de denúncia da condição de subdesenvolvimento do país, mas, segundo ele, apresentava uma linguagem tão hermética que só era compreendida por seus pares. E, apesar de questionar a identidade cultural entre os países da América Latina, como Brasil e Argentina, por exemplo, parabenizou o Memorial pela iniciativa de buscar uma maior identidade entre os povos do continente: “identidade que a gente busca e não encontra”.
Segundo Cacá Diegues, diferente dos movimentos de renovação que aconteceram na França e Inglaterra, por exemplo, e tinham como objetivo propor uma nova estética e linguagem para superar o modelo de cinema anterior, já desgastado, no Brasil, o movimento do Cinema Novo veio preencher um vazio: “Não havia cinema no Brasil, não havia contradição e nem necessidade de romper barreiras, estávamos criando naquele momento o cinema nacional”, e continuou: “o que era produzido até então, as chanchadas no Rio, era uma paródia do cinema americano, e isso a gente nem considerava. Nós éramos jovens pensando em fazer cinema no Brasil, com um programa simples: queríamos mudar a história do cinema, mudar a história do Brasil e mudar a história do planeta”.
Tanto o veterano documentarista Thomaz Farkas quanto o jovem diretor Philippe Barcinski se mostraram otimistas em relação ao presente e ao futuro do cinema latino-americano, bem como a sua distribuição no Brasil. “Foram 15 filmes latino-americanos lançados no Brasil só no ano passado. Na década de 80, praticamente não houve nenhum”, enumera Barcinski.
Por Gabriela Mainardi
Fotos: Fábio Pagan