
São Paulo, 4 de dezembro de 2008.
O seminário “Desafio estratégico: como escolher o melhor modal de transporte público?” – que teve lugar no Anexo dos Congressistas da Fundação Memorial da América Latina, em 2 de dezembro de 2008 – foi encerrado com a palestra do ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, sobre o tema “O futuro do transporte nas cidades latinoamericanas”. O encontro foi organizado pela UITP – International Association of Public Transport, Clinton Foundation, o Institute for Transportation and Developmente Policy e a Associação Nacional de Transporte, com o apoio do Memorial e da Secretaria de Relações Institucionais.
Peñalosa apresentou o sistema de transporte urbano implantado por ele em sua gestão (1997 – 2000) na capital colombiana, sistema esse batizado de “Transmilênio”. Segundo ele, o usuário médio do Transmilênio economiza 290 horas de transporte por ano. As rotas de ônibus “alimentadores” vêm dos bairros distantes e integram os passageiros no sistema central. Houve uma renovação urbana provocada pela Transmilênio, que integra “ciclo-rotas” e carros particulares.
O ex-prefeito de Bogotá é a favor de grandes intervenções na paisagem urbana, como acontece em cidades nos mais diversos lugares do mundo. No Canadá, por exemplo, riachos antes canalizados são reabertos para correrem ao ar livre e Seul, na Coréia, acaba de derrubar um viaduto para também liberar um rio. Instado a opinar sobre o Minhocão, em São Paulo, não teve dúvidas: “Ficaria muito contente se ele fosse colocado abaixo”.
Para surpresa de alguns na platéia, que defendem a expansão da malha ferroviária em São Paulo como única solução ao trânsito carregado da cidade, o arrazoado de Peñalosa relativizou essa visão. “Desenvolver um sistema de ônibus como o Transmilênio custa 10% do necessário para algo semelhante sobre trilhos”. Outra vantagem apontada por ele é o fato de que o ônibus vai aonde a população mora, por mais longe que seja. Enquanto com o metro, é necessário que as pessoas se desloquem até as estações. Em cidade onde há tanto um sistema de ônibus quanto férreo desenvolvidos, os ônibus ganham sempre. Como em Madri, cujo volume de passageiros de ônibus é 3 vezes superior ao de trem/metrô.
Outro fator considerado é o político. Em São Francisco, EUA, por exemplo, surgiu um sindicato de usuários de ônibus que defende que só esse meio de transporte vai aonde estão os pobres. Esse sindicato é contra o aumento brutal de investimento em metrô, que requer a construção de viadutos ou túneis caros. Para o sindicato, esse dinheiro tem que ser investido em educação e saúde.
Por último, Peñalosa comenta que uma cidade boa é aquela em que uma criança pode utilizar um triciclo ou bicicleta com segurança em qualquer lugar. Essa é, aliás, a bandeira de José Guilherme Lacerda, militante da ONG Transporte Ativo. Ele oferece a empresas o curso “Introdução ao mundo cicloviário”. Detalhe: Guilherme foi o único a vir ao Memorial de bicicleta.
Por Eduardo Rascov
Fotos: Gabriela Mainardi