
São Paulo, 17 de setembro de 2008.
Era uma vez um jovem colombiano que estudava publicidade, já tinha conseguido um bom emprego numa agência de propaganda e gostava de patinar e de pedalar com sua bike. Incentivado pelo pai, foi de bicicleta a uma região montanhosa no sul da Colômbia, que abrigava um sítio arqueológico.
Foi aí que começou a nascer o projeto “América do Sul Rupestre”. Por que não percorrer vários sítios arqueológicos pelo continente? Não simplesmente passar pelos lugares, mas fazer um registro, dialogar com as pinturas e gravuras rupestres escondidas nas regiões longínquas. Mais que isso: por que não conviver com os descendentes dos povos que habitaram a região, conhecer seu modo de vida, filosofia e cosmovisão?
Para isso esse jovem – Santiago Plata é o nome dele – precisaria abandonar a promissora carreira de publicitário, a universidade, a família e o país. Era necessário fazer uma mudança radical. Isso aconteceu em 2002.
A viagem de Santiago poderia ser feita de avião, ônibus ou carro, mas não, o artista escolheu um meio de transporte antigo e atual ao mesmo tempo, cujo combustível é a energia de seu corpo – a bicicleta.
Em cima de sua bike, deixou Bogotá há 6 anos. Desde então não volta para casa. Em uma época em que a tecnologia é idolatrada, em que as pessoas gostam de se aventurar apenas no mundo virtual, em que a moeda foi substituída pelo cartão eletrônico, em que a comida é nos apresentada misteriosamente nas gôndolas dos supermecados – é a partir desta civilização que Santiago Plata decide empreender sua jornada de bicicleta, quase a pé.
Em seu périplo, perdeu os documentos, mas aprendeu “a responsabilidade de viver em total liberdade”. Antes de alcançar seus objetivos, Santiago Plata “encontrou a si mesmo no meio do silêncio”. Pedalou por dias a fio sem falar com um ser humano, como quando atravessou 500 quilômetros da Patagônia, a caminho de Ushuaia. “Parei de pensar, a única coisa que existia era o visual, a paisagem se tornava abstrata, entrava num estado alterado de consciência, tipo alfa, como na meditação zen”.
E o que ele procura? Arte rupestre. Vestígios de nossos ancestrais mais antigos. Santiago Plata tem uma ligação direta com a pré-história. “Sou um mensageiro, trago parte do imaginário e da cosmovisão de nossos ancestrais”, resume, e completa lançando mão de um trocadilho: “Se os povos atuais têm televisão, nossos ancestrais têm cosmovisão”.
Seus inimigos são a perda da identidade, o apagar da memória, a falta de vontade e até a vergonha daqueles que não querem aceitar seu passado. Santiago batalha contra a depedração das pinturas e gravuras rupestres, o roubo, a comercialização, o vandalismo e a pixação.
O que ele quer é o reconhecimento do seu próprio território através do sítio arqueológico, que os povos da América Latina entrem em contato com a “energia que ainda emana” dos nossos ancestrais. Que as “memórias geológicas” no objeto se sintonizem com as “memórias genéticas” no sujeito. Em uma palavra: conscientização.
Por Eduardo Rascov