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São Paulo, 13 de agosto de 2008.
“Quero ajudar a resgatar a identidade do nosso povo”, disse o artista plástico colombiano, Santiago Plata, em passagem pelo Memorial da América Latina, na quarta-feira, dia 30 de julho. Santiago vem ganhando destaque no meio artístico graças ao seu singular trabalho de registro e mapeamento de gravuras rupestres em todo o continente latino-americano.
Desde outubro de 2002, o artista visita os sítios arqueológicos espalhados pela América Latina, coletando inscrições, gravuras e marcas deixadas pelas antigas civilizações na paisagem do local. O trabalho que começou na Colômbia, já conta com mais seis países percorridos: Equador, Peru, Bolívia, Chile, Argentina e Uruguai. O trajeto soma 32 mil quilômetros rodados onde foram recolhidas cerca de 90 gravuras em mais de 300 metros de tecido. No momento, o artista explora o interior do Brasil.
O colombiano explica que a apreensão do material é feita através de uma técnica simples chamada de “frottage”: “eu cubro a gravura esculpida na pedra com tecido e depois esfrego a superfície com carvão natural e semente de abacate”. O resultado é a impressão da gravura no tecido de maneira única e original. Paralelamente a esse seu trabalho de coleta, Santiago realiza um projeto com crianças, por onde passa, coordena oficinas e palestras para ensinar a técnica de “frottage” e ressaltar a importância da conservação dos petroglifos.
Santiago é um artista peculiar, para desenvolver seu projeto conta com recursos escassos. Ele enfrenta sozinho todas as intempéries da natureza munido apenas dos equipamentos básicos de camping e de uma bicicleta. “A bagagem que carrego chegou a pesar 120kg, mas não tem jeito, tenho que levar comigo todos os trabalhos que vou coletando, não tenho como deixá-los durante a viagem”, conta o artista que conclui: “por outro lado isso é muito bom, sempre tenho material suficiente para organizar exposições por onde passo”.
Santiago faz parte daquela pequena classe de artistas que vivem a arte intensamente e não medem esforços para alcançar um objetivo, mesmo que para tal seja necessário pedalar incansavelmente por caminhos pedregosos, ou se embrenhar por entre a mata fechada e selvagem, dormir sem conforto e se alimentar de maneira precária. Graça ao seu esforço, o artista conseguiu reunir o maior acervo de gravuras rupestres de toda a América Latina.
O colombiano já expôs em várias capitais de países vizinhos, como: Buenos Aires, Santiago, Montevidéu e Assunção. No Brasil, a exposição já passou pela Universidade Federal do Paraná e Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília. O colombiano ainda assina o painel de concreto com réplicas de inscrições em petroglifos, produzido especialmente para o Museu de História do Pantanal, em Corumba (MS). Em São Paulo, o Memorial da América Latina se prepara para receber suas obras pela primeira vez entre 16 de setembro e 12 de outubro.
O que não falta a Santiago são histórias para contar: “cada região tem características particulares, porém um traço muito marcante em comum é a hospitalidade dos povos”. A linguagem artística é o elo. “Lembro do que aconteceu no Paraguai, quando acampei durante um tempo em uma gruta, perto de uma tribo indígena que só falava guarani. A comunicação era muito difícil, eu sentia que eles queriam se aproximar, mas não nos entendíamos… a conversa só foi estabelecida através dos petroglifos”, conta o colombiano.
Santiago busca a compreensão da origem do homem por meio de seus resquícios pictóricos: “esses desenhos nos contam a história do nosso povo, observando-os é possível entender como se relacionavam, seus costumes, crenças e até como lidavam com os fenômenos naturais, como eclipses e tempestades”. O artista ainda ressalta a importância da preservação desses sítios arqueológicos: “é triste perceber que mais de 30% das gravuras registradas há 30 anos já se perderam, tenho consciência de que muito do que registrei já foi destruído”.
Por Gabriela Mainardi
Fotos 1 e 5: Fábio Pagan
Foto 2: Gabriela Mainardi
Fotos 3 e 4: divulgação