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ORLANDO VILLAS BÔAS
Livro e exposição homenageiam o último grande indianista brasileiro
Impressa no tom escarlate do corante urucum, a obra ilustrada “ORLANDO VILLAS BÔAS Expedições, Reflexões e Registros” será lançada no próximo 26 de outubro, no Pavilhão da Criatividade Darcy Ribeiro do Memorial da América Latina. O livro é coordenado por Orlando Villas Bôas Filho. No mesmo dia, às 19h, será aberta uma “pequena homenagem” com imagens e objetos dos irmãos Orlando e Cláudio Villas Boas. A organização é da fotógrafa e documentarista Maureen Bisilliat, velha amiga do indianista, com quem trabalhou no Xingu.
Apoiado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, o livro começa com um resumo inédito de suas expedições ao Xingu, entre os anos 1943 e 1975. Além de Villas Bôas Filho, que reflete sobre o legado deixado pela família, há textos dos próprios irmãos Villas Boas, de Adrian Cowell, John Hemming, Carmem Junqueira e Mércio Pereira Gomes.
A mostra é constituída não só de fotos dos Villas Boas – de suas “famílias”, consangüíneas e indígenas – como também de objetos cedidos pela viúva de Orlando, Marina Villas Boas, entre eles, a rede onde Orlando gostava de contar suas infinitas histórias; a mochila, a bússola, o cadeado, o chaveiro, o cantil e as canequinhas usadas no meio do mato, e os óculos, a máquina de escrever e a escrivaninha usadas para escrever no campo seu diário de 10 volumes. Serão exibidos ininterruptamente documentários antigos produzidos pelos próprios Vila Bôas. A exposição permanece aberta ao público até 12 de dezembro, o mesmo dia em que o sertanista faleceu, aos 88 anos, em 2002.
Os objetos pessoais e os livros dos irmãos Villas Bôas são hoje símbolos e sínteses de uma experiência de vida ímpar, conforme resume Maureen Bisilliat: “Os irmãos Villas Boas, homens singulares, irradiam na sua capacidade de projeção humana e na captação do outro um entusiasmo que, se não viesse acompanhado de tenacidade, astúcia, diplomacia e compreensão – fruto de longa experiência no campo – poderia se limitar a características humanistas pouco compatíveis com os requisitos pragmáticos deste século.”
“Mas é precisamente nisso que residem a força e a eficiência destes homens, aos quais podemos atribuir, senão o primeiríssimo passo, ao menos as bases que poderão tornar viável uma verdadeira convivência entre a sociedade brasileira e as sociedades indígenas da Nação”, complementa Maureen Bisilliat.
Roncador-Xingu
Até a década de 1940, a região do alto do Rio Xingu era pouco conhecida e a presença do governo brasileiro escassa. Com a II Guerra Mundial, os nacionalistas temiam a chegada na área de grandes levas de refugiados/imigrantes/colonos europeus, que pudessem colocar em questão a soberania brasileira. Foi então organizada a expedição Roncador-Xingu, com o objetivo de desbravar o Brasil central, abrindo estradas e construindo campos de pouso de emergência.
Foi nessa expedição que se engajaram os irmãos Vila Bôas, Orlando, Cláudio e Leonardo.O caçula, Álvaro não embarcou mas foi funcionário da Funai, chegando a presidir o órgão na década de 1980. Eram 9 irmãos. O mais velho deles, Orlando, falecido recentemente, nasceu em 12 de janeiro de 1914, em Botucatu, interior de São Paulo. A família depois se transferiu para a capital.
Os irmãos Vila Boas dedicaram-se ao contato amistoso e à proteção dos índios que viviam nas cabeceiras do rio Xingu. Em 1944, a Expedição Roncador-Xingu contatou o povo Xavante, ainda hostil. Dois anos depois, estabeleceu contatos pacíficos com cerca de 14 povos do alto Xingu, de grande diversidade cultural, lingüisticamente representantes das Famílias Tupi, Aruak, Karib e Jê.
Mantendo contato com Rondon e com outros indigenistas, os irmãos Villas Bôas decidiram permanecer no Xingu e desenvolver aí um programa positivo de proteção aos índios, buscando assegurar-lhes uma base territorial onde pudessem manter seus modos tradicionais de organização social e de subsistência econômica, além de fornecer-lhes assistência médica contra doenças exógenas. Os irmãos defendiam a criação de reservas e parques indígenas fechados, que funcionassem como uma espécie de tampão protetor e seguro entre índios e sociedade brasileira.
Em 19 de abril de 1961 o Congresso Nacional aprovou o Decreto nº 50.455 que criava o Parque Nacional Indígena do Xingu, o primeiro do Brasil. Durante muitos anos, os irmãos Villas Bôas estiveram à frente do Parque. Em 1976 eles foram indicados ao Prêmio Nobel da Paz. Em 1978, Orlando Villas Bôas deixou definitivamente o Xingu. Em 1984, aposentou-se para viver em sua casa no bairro paulistano do Alto da Lapa. Era comum ele visitar o Pavilhão da Criatividade, deste Memorial, e passar longas horas contanto suas histórias, que pareciam não ter fim.
Serviço:
26 de outubro, às 19h
“ORLANDO VILLAS BÔAS Expedições, Reflexões e Registros”
Lançamento do livro coordenado por Orlando Villas Bôas Filho
Coordenação editorial e gráfica: Ronaldo Graça Couto
Direção de Arte e Projeto Gráfico: Letícia Moura Design
Número de páginas: 192
Imagens: 70
Editora Metalivros, São Paulo, 2006
Formato: 21 x 21 cm, capa dura
ISBN: 85-85371-63-3
Preço de capa: R$ 68,00
Pequenas Lembranças de Orlando Villa Bôas
Abertura da exposição organizada por Maureen Bisilliat
26 de outubro, às 19h
Em cartaz até 12 de dezembro de 2006
Local: Pavilhão da Criatividade Darcy Ribeiro
Fundação Memorial da América Latina
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 portão 15