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Foi aberto esta manhã (12 de dezembro) o seminário “Povo e Personagem: a saga do século XVI na leitura cultural de dois romancistas latino-americanos”, no Memorial da América Latina. Coordenado pela professora Cremilda Medina, da Universidade de São Paulo, o evento prossegue até amanhã com a presença dos escritores William Ospina, colombiano, e Sinval Medina, brasileiro. Os dois são autores de romances históricos que se debruçam sobre o século XVI, época da chegada dos europeus ao “Novo Mundo”.
Na mesa de abertura, Fernando Leça, presidente do Memorial, destacou a importância de iniciativas integradoras como essa, que confronta a visão do século XX sobre a América Latina do século XVI de escritores do Brasil e da Colômbia. Aproveitou para apresentar a nova coleção Fundadores da América Latina, que o Memorial está lançado em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, de biografias didáticas de Simón Bolívar, San Martín e Bernardo O´Higgins, além do ensaio “América Latina na Hora da Independência”.
Outra iniciativa destacada por Leça é a também recém lançada Rede Ibero-americana de Ensino Fundamental, que entrelaça as 32 escolas estaduais batizadas com nomes de países ou personalidades latino-americanas. Dela fazem parte, além do Memorial, o Grulac – Grupo de Cônsules Latino-americanos e do Caribe, Instituto Cervantes e Portal Universia. A idéia que é que cada consulado apóie a escola que homenageia seu país. E, com a ajuda das instituições citadas, incentivem o estudo da história da América Latina e do idioma espanhol. “Peço a você, Willian Ospina, que leve ao seu país, a Colômbia, essa idéia”, sugeriu Leça.
Em seguida, a historiadora Maria Lígia Coelho Prado, da Universidade de São Paulo, deu uma aula sobre a pintura histórica do século XIX, que retratou o “descobrimento” (para os portugueses) ou a “conquista”, como preferem os espanhóis e hispano-americanos, com mais propriedade. Comparando pintores como o brasileiro Victor Meirelles e o chileno Pedro Lubercareaux – os dois pintaram a “Primeira Missa” -, ela mostrou como ambos se preocuparam em produzir um imaginário para suas nações nascentes.
No século XIX a arte, assim como a pintura, estava muito próxima da política, explicou Maria Lígia. Os novos estados mandavam jovens promissores como bolsistas estudar na Europa, principalmente na França e na Itália, mas também na Espanha. Voltavam de lá atualizados com as técnicas e os debates estéticos que então se travavam. Mas chegavam aqui e eram obrigados a refletir sobre o ambiente que viviam, tão diferente do Europeu. E principalmente a inventar uma simbologia em oposição à época colonial e à arte barroca.
No óleo “A primeira missa no Brasil”, quadro de 1860 de Victor Meirelles, o português Frei Henrique de Coimbra ocupa o centro da tela, rodeado pelos colonizados. Em um plano abaixo estão os índios, em posição de contemplação, como que fascinados pelo ritual. Segundo Maria Lígia, a cena denuncia a ideologia de que os índios foram catequizados pacificamente.
Já no quadro de 1904 “A primeira Missa do Chile”, do chileno Pedro Lubercareaux, os índios estão mais distantes, em atitude fria ou indiferente. Com efeito, os índios araucanos resistiram ao domínio espanhol e só foram “pacificados” em 1860. No óleo “A Fundação de Santiago”, pintado pelo chileno Pedro Lira em 1889, os índios estão em completa atitude subalterna.
Essa visão é completamente modificada pela tradição mexicana iniciada a partir da queda do Imperador Maxiliano, em 1867. O quadro do pintor mexicano Lizandro Izaguirre “El suplício de Cuauhtémoc” mostra o último imperador asteca sendo torturado por Cortez. O índio, neste caso, despreza a dor e, em atitude orgulhosa, olha desafiantemente o torturador.
É que o México, sob a liderança nacionalista de Benito Juarez, tece uma ideologia da mestiçagem que, resume Maria Lígia, defende a história mexicana como uma continuidade da civilização Asteca até o séc. XIX. O domínio colonial espanhol e as invasões americana e francesa foram apenas interrupções no destino da pátria.
O seminário “Povo e Personagem: a saga do século XVI na leitura cultural de dois romancistas latino-americanos” pressegue nesta tarde de uma forma original: “Tratado da altura das estrelas”, do romancista brasileiro Sinval Medina, e “Ursúa”, do colombiano William Ospina, serão lidos por dois ensaístas e professores universitários, Ricardo Barberena, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Raul Osório Vargas, colombiano radicado no Brasil e professor da Universidade de Uberaba, Minas Gerais. Na quinta, os dois autores se encontram no que promete ser uma rica discussão sobre literatura e história.
Clique aqui para saber mais sobre o evento.
Serviço:
Seminário Povo e Personagem
Dias 12 e 13 de dezembro
Horário: das 9 às 17h
Anexo dos Congressistas/ Memorial da América Latina
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda
Entrada franca (não é necessária inscrição prévia)