PÍLULAS LATINAS

Desenvolver para incluir

Foto Divulgação

A diretora do Banco de Desenvolvimento da América Latina reforça a necessidade de mais pessoas que se tornem protagonistas da transformação da região

Por Isabella Vilela Cunha

Estefanía Laterza, diretora e representante no Brasil do CAF (Corporación Andina de Fomento, autoidentificada como Banco de Desenvolvimento da América Latina), enxerga o desenvolvimento da região como uma construção coletiva e inclusiva. À frente do banco, criado em 1970 e presente em quase todos os países da América Latina, ela defende um futuro pautado pela justiça social, integração entre povos e investimento em sustentabilidade, inovação e diversidade com protagonismo de mulheres, juventudes e comunidades tradicionais na transformação da realidade latino-americana.

Como você define seu compromisso com a América Latina hoje, ocupando um lugar estratégico em uma instituição de desenvolvimento?
Meu compromisso é profundamente pessoal e profissional. Como mulher latino-americana, formada nesta região e consciente de seus desafios históricos, assumo com responsabilidade a missão de contribuir para um desenvolvimento mais justo, sustentável e inclusivo. No meu papel no CAF, trabalho para que nossas ações tenham um impacto concreto na vida das pessoas, especialmente daquelas historicamente excluídas: mulheres, juventudes, pessoas com deficiência, comunidades indígenas e outros grupos em situação de vulnerabilidade. Não se trata apenas de impulsionar infraestrutura ou crescimento econômico, mas de fortalecer políticas públicas centradas nas pessoas, nos territórios e em sua resiliência.

Quais aspectos da vida cotidiana na América Latina te inspiram ou te dão um senso de pertencimento à região?
Me inspiram nossos mercados cheios de cores e línguas, nossas redes de solidariedade espontânea, a arte que brota do popular e do ancestral. Me emociona ver como nossas comunidades enfrentam as crises com criatividade, como as juventudes se reinventam, como as mulheres transformam realidades a partir do cotidiano. Tudo isso me lembra que, além das estatísticas, somos uma região com uma identidade única, com uma marca própria feita de diversidade, memória e futuro.

Quais experiências te marcaram mais profundamente em relação ao desenvolvimento latino-americano?
Me marcaram os projetos que impactam não só infraestruturas, mas também horizontes. Como no Brasil, onde acompanhamos a reconstrução resiliente do ul após as recentes inundações, ou o impulso às agendas de desenvolvimento sustentável em cidades como Belém, que se prepara para sediar a COP30 (Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) e se posiciona como símbolo da transição ecológica em nossa região. O CAF aposta em uma América Latina que seja uma região-solução, com projetos que integram componentes de descarbonização, eficiência energética e adaptação climática. Mas também trabalhamos a partir do social, impulsionando políticas para juventudes, para a igualdade de gênero e para a inovação nos territórios. Apoiamos indústrias potentes e emergentes como o turismo sustentável, a economia azul e os ecossistemas de empreendedorismo, sabendo que aí existem vetores de transformação econômica e de identidade regional.

Que ideia de futuro você gostaria de ver florescer na América Latina e qual papel acredita que podemos ter como indivíduos para nos aproximarmos desse horizonte?
Gostaria de ver uma América Latina desenvolvida e sustentável. Para isso, é fundamental crescer em investimento na região, no fortalecimento de políticas sociais, especialmente as ligadas à saúde, à educação e à segurança, assim como melhorar a produtividade e, acima de tudo, eliminar as barreiras que impedem a participação de todos os grupos na construção e no usufruto de uma prosperidade coletiva. É preciso reconhecer que não há desenvolvimento verdadeiro sem inclusão plena e que nunca haverá igualdade plena sem oportunidades para todas e todos. Sonho com uma região que aposta na integração entre povos irmãos, que protege sua biodiversidade como ativo estratégico, que investe em indústrias transformadoras como o turismo sustentável, ou o empreendedorismo inovador. No CAF, trabalhamos para que esse futuro seja possível, financiando projetos que reduzem desigualdades, promovendo políticas públicas centradas nas pessoas e fortalecendo capacidades locais. A América Latina precisa de mais pessoas que se tornem protagonistas da transformação, a partir de onde estiverem. Porque o futuro da região não se espera: se constrói.