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A oficina de cerâmica ministrada pela artista plástica paraguaia Máyy Koffler começou na terça, 29 de agosto. Ela é promovida pela Divisão de Oficinas Culturais da Fundação, e é um desdobramento da exposição Wiesse: Pachacamac, em cartaz na Galeria Marta Traba. Os óleos pintados pelo artista peruano Ricardo Wiesse retratam uma região desértica e repleta de ruínas, próxima a Lima, a capital do Peru. O deserto de Pachacamac hoje é um sítio arqueológico que mal começou a ser estudado. Considerado um santuário de civilizações pré-colombianas, Pachacamac absorve toda a energia criativa de Wiesse, que se tornou uma espécie de arqueólogo visual daquele mundo perdido.
Máyy Koffler viveu durante anos no Peru, onde se envolveu com projetos de pesquisa e desenvolveu trabalhos com técnicas de cerâmica. Ela traz para o Memorial o Paleteado, técnica desenvolvida pelas antigas culturas pré-incaicas, dos anos 500 a.C. a 500 d.C. Nos anos 1960 importantes descobertas arqueológicas foram feitas na Serra Vicús em Chulucanas, onde foram encontrados numerosos vestígios da cultura que se batizaria com o mesmo nome e que foi desenvolvida pelos antigos Tallanes. Este achado foi um acontecimento notável, que repercutiu nos artesãos ceramistas locais. Desde então, o Paleteado firmou-se como expressão tradicional, e ainda hoje é produzida pela população das províncias de Piura, região norte peruana, próxima da fronteira com o Equador.
A oficina começou com uma aula expositiva baseada nas experiências da artista em sua viagem aos povoados de Chulucanas, Catacaos, Simbilá e Trujillo. Através de fotos e slides, Máyy mostrou passo a passo o modo de produção desta cerâmica de formas complexas e grande domínio estético; lembrou o contato que estabeleceu com os artistas locais, ressaltando a importância dos ancestrais e daqueles que transmitem a cultura. A artista também deu informações sobre a cultura local, como a importância do milho (boa parte da cerâmica produzida é para a armazenagem dos derivados do grão) e contou lendas, como aquela que diz que foi o João de barro quem ensinou os homens a trabalhar a argila.
Terminada a teoria, os jovens alunos de belas-artes e interessados em geral que se inscreveram para a oficina seguiram para a lona do circo Roda Brasil, onde ocorreu a aula prática. No primeiro dia, Máyy ensinou como fazer os “começos”. O “começo” é o que dá origem ao formato da peça. Inicia-se o trabalho pelo “baile”, que é o amasso do barro com os pés (por causa do frio e dos trajes inadequados, todos acabaram amassando com as mãos mesmo), depois dá-se forma ao “começo”, em seguida é aberto um espaço, local em que ficará uma pedra que sustentará a batida das paleteadas. A primeira aula terminou por aqui, pois é preciso esperar a argila endurecer. A partir da próxima, com os “começos” devidamente preparados, é hora de se usar as paletas. Mas essa já é outra história.
Fotos: Adriano Capelo (oficina) e Máyy Koffler