São Paulo, 18 de maio de 2009.
Tarde ensolarada de 17 de maio. Domingão. Bombardeado pelos raios oblíquos outonais, o conjunto arquitetônico do Memorial resplandece. No centro da Praça Cívica há um heliponto. Ali algumas pessoas experimentavam algo inédito em suas vidas: participavam da oficina de graffite, oferecida pela Fundação Memorial da América Latina, como parte da 7a. Semana Nacional de Museus.
Bruna (foto) é uma estudante de nutrição da Faculdade São Camilo que nunca tinha se aventurado a grafitar os muros da cidade. Desta vez, tomou coragem e se inscreveu na oficina de Luca EHC. “É a primeira vez que pego numa latinha de tinta spray”, contou. Bruna considera a profissão que estuda a “arte do bem estar”. “Antes de me decidir por ela, pensei em estudar artes plásticas, mas acabei abandonando a idéia. Acho que essa oficina do Memorial é para mim uma espécie de retomada de um sonho antigo. Agora vamos ver se crio coragem para pixar as ruas”. Bruna fez uns suaves rabiscos abstratos e tacou spray psicodélicos nele. Poderíamos classificá-lo como um “estudo” ou uma “tentativa de criar uma linguagem”. Mas nem vale a pena. Era só uma brincadeira.
Luca EHC (foto à direita) contou que a arte do graffite e a pixação partilham do mesmo princípio ou essência: “as duas não pedem autorização. A idéia é entrar nos espaços públicos ou privados e pintar sem pedir nada a ninguém. E fazer isso pelo simples amor à pintura”. Em sua oficina, EHC explicou os primórdios dessa arte no Brasil e mostrou filmes que analisavam a linguagem da arte de rua em São Paulo nas últimas décadas. “Acho que o graffite evoluiu bastante. Hoje ele já tem galerias que o recebem. O próprio Memorial já dedicou uma exposição ao graffite em seu espaço mais nobre, a Galeria Marta Traba”.
O graffite estaria se institucionalizando, então?
Sim, responde Luca EHC. “Mas isso não é ruim em si. O importante é que as pessoas continuam mantendo a atitude de pintar por amor”, defende-se. E o que você acha, Luca, dos pixadores. “A diferença com os graffiteiros é apenas estética. A essência é a mesma”. Quanto aos caras que invadiram a bienal, uma galeria e a Faculdade Belas Artes, Luca acredita que foi uma demonstração de força – “afinal, não é qualquer grupo que articula 60 pessoas para uma atitude dessas” – e um questionamento radical dos mecanismos de institucionalização da arte. Em suma, o que eles queriam deixar no ar é a pergunta “afinal, o que é arte?”
Alheia a essas questões, Ruana (foto grande acima), outra participante da oficina de graffite do Memorial, aproveitava a oportunidade para fazer uma coisa que ela sempre quis. “Sou estudante de arte, mas nunca tive coragem de sair às ruas para graffitar”. Precavida e "amadora", ela protegeu as pernas fixando papéis sobre a calça com fita crepe. Ficou engraçado.
Ruana acatou a proposta de retratar um aspecto do Memorial. “Escolhi fazer a Mão, porque é a marca do Memorial”. Pintou sua Mão de verde e a emoldurou de amarelo. Ficou bonito. Ao seu lado, a verdadeira – e imponente – “Mão”, escultura de Oscar Niemeyer, e a lona do Circo Roda Brasil, que se prepara para estrear no Memorial na sexta, 22 de maio. Mas a 7ª Semana Nacional de Museus continua no Memorial, com atrações variadas e gratuitas.
Clique aqui para saber a programação completa de oficinas.
Por Eduardo Rascov
Fotos Fábio Pagan