São Paulo, 2 de julho de 2008.
No Brasil, atualmente, há 180 idiomas vivos, falados por 227 povos indígenas. Desses, 45 não têm contato com o homem branco. Com exceção dos povos isolados, as diversas etnias autóctones em nosso território podem, devem e precisam continuar produzindo e comercializando sua arte. É um passo inevitável para que a cultura indígena seja conhecida, valorizada e respeitada.
Essa é a conclusão a que chegou a mesa-redonda “Cultura Material Indígena: Preservação”, que se realizou no Memorial no dia 1º de julho, no âmbito da exposição “Viagem Noturna – Arte Indígena: Preservação”, em cartaz na Galeria Marta Traba até 3 de agosto. O encontro de especialistas também ressaltou a importância do acervo indígena da Cid Colletion ficar permanentemente exposto, para que especialmente os jovens tenham contato com a riqueza das culturas autóctones.
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A mesa-redonda reuniu a museóloga, Beatriz Augusta Cruz, diretora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, o colecionador e comerciante, Walter Gomes da Silva, proprietário da Amoa Konoya – Arte Indígena, e o líder indígena, Jurandir Siritiwe, xavante, presidente do Instituto de Desenvolvimento das Tradições Indígenas.
O xavante Jurandir Siritiwe disse que, em geral, as pessoas vêm a arte indígena com um olhar exótico, folclórico e não a valorizam como arte. Já na Europa, segundo ele, as peças são valorizadas e expostas em museus, tanto as peças de etnias que já foram extintas, como a tupinambá, como peças que são feitas até hoje.
Ele apóia iniciativas como a do Memorial, de exibir estas peças que estão sob sua guarda provisória, pois a exibição é uma forma de educar as pessoas, educar o olhar. E isso ajuda para que haja respeito e valorização por esta tradição ancestral que continua viva, por vezes, incorporando materiais industrializados (missangas, plásticos, pets, objetos recicláveis etc) sem perder a originalidade. Como disse um cacique citado por Siritiwe: “Ninguém respeita aquilo que não conhece”.
O colecionador Walter Gomes da Silva ressaltou que as peças identificam o povo que a criou. “Não é simplesmente arte indígena, mas a arte de cada povo”, diz. Ele, assim como os outros membros da mesa, se mostraram contra a lei que proíbe a confecção de peças com penas de aves. “A venda desta arte é substancial para a economia das aldeias”, disse. E ele tem outro argumento: “A venda de peças estimula o colecionismo, que por sua vez, pode gerar museus de arte indígena”. Segundo ele, a arte plumária do Brasil é muito sofisticada.
Para Beatriz Cruz, não dá para separar a produção material da cultura dos povos indígenas. “Preservar é mais do que deixar uma peça intacta, é preservar a essência do fazer, do seu significado, do que aquilo representa para cada povo”, concluiu.
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Por Paloma Varón
Fotos de Fábio Pagan