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O autor de “Demetrius Dante” e “Sideralman” passará toda sua experiência para os participantes
O projeto das oficinas com o Jal faz parte da comemoração dos 35 anos do Memorial e tem como objetivo falar sobre a criação de peças de humor gráfico e charges, além de tirar dúvidas sobre o mercado de trabalho da área. Para ajudar com todo seu conhecimento e talento, Jal convidou Will (Wilson André Filho), quadrinista brasileiro com 20 anos na área dos quadrinhos e autor de personagens famosos, como o detetive particular Demetrius Dante, que lida com mistérios sobrenaturais, e o herói de Nova Luz, Sideralman.
Em entrevista para ao Memorial, Will falou como funciona o processo de criação de personagens novos. “Um personagem tem que contemplar uma história que você queira contar, algo que você goste bastante que faça você se divertir também. Não basta só um visual descolado (desenho), precisa ter conteúdo (roteiro), não é necessário estar totalmente definido, mas tem que ter espaço para crescer e, você, como autor, precisa entender qual caminho é que vai levar a esse crescimento.”, explicou o quadrinista.
Como muitos que desejam fazer a oficina ainda estão no começo de carreira ou querem ser quadrinistas, os palestrantes trarão dicas para a entrada no mercado. “Para quem começa, a internet segue sendo um bom local para divulgação do trabalho e para angariar um público que eventualmente irá consumir o material quando este virar um gibi impresso, por exemplo.”, diz Will.
O evento acontecerá no Memorial, às 15 horas, no dia 01/11. A oficina é gratuita e somente para maiores de 15 anos. Para atender melhor cada participante, serão 50 vagas por oficina.
Você acredita que o mercado de quadrinhos seja unido? Como um novato na profissão consegue conhecer outros quadrinistas?
No geral, nossa cena de quadrinhos é bem unida, sim. Acredito que a maioria dos autores cultivam bons relacionamentos com os colegas de profissão. É claro que existem exceções, como em todos os aspectos da vida, porém são mínimas. Eu sempre prezei muito pelas amizades, sem esses contatos uma boa parte dos trabalhos que produzi não teria acontecido da forma que foi. Atualmente, com as redes sociais, é muito fácil entrar em contato e conhecer diversos artistas, a maioria sempre se dispõem a trocar ideias e manter uma convivência profissional. Quando eu comecei, você tinha que frequentar os raros eventos para encontrar com os autores que admirava.
Como você vê o mercado de quadrinhos atual? Quais são as dificuldades e onde estão as melhores oportunidades, principalmente para aqueles que estão entrando agora?
Atualmente, estamos vivendo um momento muito bom da produção nacional, consolidamos algumas coisas ao longo dos anos. Temos eventos acontecendo o tempo todo, grandes, médios e pequenos. Diversos títulos independentes são lançados com grande frequência. Um entrave é que ainda não temos no país uma indústria de quadrinhos de fato, à exemplo dos mercados estadunidense, japonês e o franco-belga. Temos de forma pontual algumas casas editoriais pagando para autores produzirem suas obras, mas a grande maioria não é contemplada por isso, nem acredito que seja possível, dada enormidade de autores que temos por aí. Entre 2011 e 2013, tive a oportunidade de desenhar sete álbuns para a Editora Nemo, juntamente com outros autores independentes que também produziram obras para a editora, fato inédito na época, que custeou todos os trabalhos. O Catarse [plataforma on-line de crowdfunding] se tornou uma boa opção para financiarmos nossa produção, bem como as Leis de Incentivo à Cultura que premiam autores com valores substanciais para custear seus trabalhos. Podem ser opções para quem começa, porém, é preciso ter um trabalho com um bom apelo e uma boa estrutura para cativar o público.
Ainda sobre aqueles sem experiência, qual a sua dica para criação de personagens novos? Além disso, como divulgar seu trabalho hoje em dia?
Desde o início sempre me cerquei de bons roteiristas que colaboraram com a construção e ampliação dos universos do Sideralman e do Demetrius Dante, porém, eu fiz questão de cuidar da arte de todas as histórias que criei com esses personagens. Um personagem tem que contemplar uma história que você queira contar, algo que você goste bastante que faça você se divertir também. Não basta só um visual descolado (desenho), precisa ter conteúdo (roteiro), não é necessário estar totalmente definido, mas tem que ter espaço para crescer e, você, como autor, precisa entender qual caminho é que vai levar a esse crescimento.Para quem começa, a internet segue sendo um bom local para divulgação do trabalho e para angariar um público que eventualmente irá consumir o material quando este virar um gibi impresso, por exemplo.
O que os participantes da oficina podem esperar de dicas, vindas de dois mestres, com tanta experiência, como vocês?
Bom, espero poder contribuir com a minha experiência nestes 20 anos no mundo dos quadrinhos. Cada um tem seu próprio caminho a trilhar, o que eu posso falar, talvez sirva de inspiração e orientação, mas é a pessoa que vai escolher por onde ela vai. Agradeço a oportunidade de compartilhar um pouco da minha história profissional.
Entrevista por: Gabriel Flores