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Download do livro“César Vallejo: O Abalo Corpográfico”
(Cópia baseada na edição já esgotada)
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No dia 14 de abril, o Memorial da América Latina, em conjunto com o Instituto Cervantes, prestou uma homenagem ao poeta peruano César Vallejo (1892-1938), que neste ano completa 70 anos de morte. O evento, que recebeu cerca de cem participantes, contou com palestras, exibição de vídeo, leituras e musicalização de poemas.
O professor da PUC-SP e escritor Amálio Pinheiro, estudioso e tradutor da obra de Vallejo, fez uma apreciação literária de sua obra. “Vallejo criou um problema para se ler poesia depois dele, tal foi o solavanco, o desarranjo que ele provocou na língua espanhola”, disse. Ao utilizar neologismos, misturar os estilos coloquial e erudito e, segundo Pinheiro, valer-se de uma sintaxe abrupta, Vallejo provocou os leitores a se “desacomodarem”.
Os poemas de Cesar Vallejo viram a linguagem pelo avesso, o que obriga a uma leitura física. “Para ler Cesar Vallejo não basta usar o cerebelo, é preciso usar os músculos e a corrente sangüínea”, completou.
O também tradutor da poesia de Vallejo Horácio Costa contou como foi difícil traduzir os seus poemas, suas palavras que não encontram significados óbvios. “Eu assumi que a estranheza deveria passar para o português”. Ambos leram poesias durante o encontro, que teve curadoria de Maria Alzira Brum e contou com participações ao vivo e gravadas de Cláudio Daniel (poeta e tradutor), Pedro Granados (poeta peruano, estudioso de Vallejo), Antonio Moura (poeta e tradutor), Rica P. (músico e arranjador), Roxana Crisólogo (estudiosa peruana), Alai Diniz (professora catarinense), Leonardo Baraglia (ator argentino) e coletivo Vacamarela.
O evento reuniu Fernando Leça, presidente do Memorial, Jaime Stiglich, o cônsul do Peru, Brígida Scaffo, cônsul do Uruguai, e Frasncesc Puértolas, chefe de atividades culturais do Instituto Cervantes, que inaugura, com este evento, parceria com o Memorial para a promoção da língua e da cultura hispânica.
Vallejo é considerado um escritor universal, pois além de propor uma nova linguagem poética, retrata em seus trabalhos a alma e a dor humana – a ruptura formal vem acompanhada pelo desapego do homem em relação ao mundo que o cerca e até de si mesmo.
O poeta nasce em 1892, em Santiago de Chuco, região andina localizada ao norte do Peru. Em 1910, muda-se para Trujillo e ingressa na Faculdade de Letras e Filosofia – oportunidade que lhe proporciona contato com um novo ambiente, cercado de jornalistas, intelectuais, escritores e artistas. Foi neste período de efervescência político-social que Vallejo toma conhecimento das idéias marxistas e da psicanálise. Lança seu primeiro livro “Los Heraldos Negros”, em 1919.
Em 1920, ao visitar a família em sua terra natal, envolve-se em conflitos sociais e acaba preso injustamente durante três meses. O episódio tem fundamental importância em sua vida e se reflete de maneira significativa em seu segundo livro, “Trilce” (1922). A obra é considerada fundamental pela renovação da linguagem poética hispano-americana, pois se afasta dos modelos tradicionais que até então eram seguidos, adotando uma linha mais modernista e realizando um angustiante e desconcertante mergulho nos abismos da condição humana.
No ano seguinte, em Paris, participa com amigos como Huidobro, Gerardo Diego, Juan Larrea e Juan Gris de atividades de cunho vanguardista renunciando à sua própria obra “Trilce”. Em 1927, aparece firmemente comprometido com o marxismo, escreve artigos para periódicos e revistas, peças teatrais, relatos e ensaios de intenção propagandistas, como “Rússia” em 1931.
Inscrito no Partido Comunista da Espanha (1931), é designado para ser correspondente, acompanha os acontecimentos da Guerra Civil e escreve o seu poema mais político: “España, aparta de mi este cáliz’, que aparece em 1939 impresso por soldados do exército republicano. Toda a obra poética produzida durante o período foi publicada parcialmente em diversas revistas, e foi só postumamente reunida sob o título: “Poemas humanos” (1939). Nesta produção é visível seu esforço em superar o vazio e o niilismo que vemos “Trilce” e em incorporar elementos históricos e da realidade concreta (peruana, européia, universal).
Vallejo morreu em Paris, em 1938. Desde então, embora curta, sua obra não cessou de influenciar as letras latino-americanas.